Representantes do mercado e do setor público defenderam a disseminação da cultura de seguros na sociedade durante o painel “Clima e Gestão Estratégica”, no 1º Fórum IRB(P&D), realizado nos dias 11 e 12 no Rio, com apoio da Confederação Nacional das Seguradoras (CNseg). Para eles, seguradoras e resseguradoras têm muito a contribuir na adaptação e na mitigação dos riscos climáticos, evitando danos ainda maiores.
Alexandre Leal, diretor Técnico e de Estudos da CNseg e moderador do painel, reforçou a necessidade do aculturamento securitário entre os brasileiros e a maior presença do seguro na mitigação de riscos: “temos o papel fundamental de educar as pessoas para disseminar o conhecimento e a relevância da proteção de seguros, que pode crescer muito mais, assim como os setores, dos títulos verdes e créditos de carbono com a intenção de colaborar com a diminuição dos problemas ambientais. Somente entre 2020 e 2023, 70% das perdas econômicas foram registradas por eventos climáticos”.
Cláudia Prates, líder de Transição Climática do BNDES, destacou que a instituição tem o compromisso climático de neutralizar a emissão dos gases de efeito estufa, no Brasil, nos próximos anos. Para ela, a agenda climática é geradora de oportunidades de negócios e desenvolvimento econômico. “O BNDES desenvolveu uma taxonomia de economia verde, que inclui a adaptação climática; inventariamos emissões de dióxido de carbono (CO2) e financiadas, que está em constante mudança; adotamos metodologias de riscos climáticos; e promovemos seminários com os setores sobre descarbonização. Os bancos de desenvolvimento têm um papel importante na mobilização de recursos para mitigação e adaptação climática. O Brasil precisa fazer a sua parte na redução de emissão de gases para avançarmos”, disse.
André Luiz Campos de Andrade, subsecretário de Planejamento de Longo Prazo do Ministério do Planejamento, disse que o país conta com três gaps para a gestão do risco climático: político, institucional e meios de implementação. “Para combater essas questões, precisamos de atenção e suporte do governo, adequar instituições, processos e instrumentos e dispor de recursos financeiros, técnicos e informacionais, além de capacitar mais profissionais para atuar com riscos. O mercado segurador e ressegurador é importante para debater a Agenda Verde por ser um indutor de boas práticas visando a longevidade da sociedade, por isso precisamos trabalhar em conjunto”, afirmou.
O CEO da Brasilseg, Amauri Vasconcelos, também valorizou a importância da gestão de catástrofes e a necessidade do seguro nessa jornada: “o poder de destruição das calamidades climáticas é muito grande. Vimos isso no Rio Grande do Sul. Há uma diferença enorme entre as perdas econômicas das seguradas. É importante aculturarmos as pessoas, inclusive com relação à previdência privada. E, assim, promovermos a longevidade a longo prazo no Brasil. Toda a sociedade é afetada quando não há esse equilíbrio. O setor está pronto para essa missão, mas precisamos encontrar um caminho de sensibilizar as pessoas”.
No segundo dia do evento, durante o painel “Fenômenos Físicos Atmosféricos”, Francisco Eliseu Aquino, do Centro Polar e Climático da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), afirmou que as fortes chuvas e enchentes que ocasionaram a recente catástrofe no Sul não estão ligadas apenas aos fenômenos naturais e às ações humanas, mas, também, a uma situação de circulação atmosférica complexa.
“Houve contrastes entre a onda de calor no centro do país, o aumento da seca e o ar frio da Antártica ao sul, bem como ciclones extratropicais. Essa junção favoreceram os eventos climáticos extremos vivenciados no sul. Com isso, uma série de impactos e riscos são gerados e podem acontecer novamente”, disse ele, acrescentando que, provavelmente, nunca se viu no Brasil uma quantidade de chuva tão grande caindo em uma única bacia hidrográfica: “as severas enchentes que impactaram as cidades do Vale do Taquari (RS), em menos de um ano, se repetiram três vezes e nenhuma política pública foi feita”.
Representando o Instituto de Oceanografia da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), Regina Rodrigues deu visibilidade ao impacto do El Niño nos processos físicos das mudanças do clima e dos eventos extremos. A pesquisadora explicou que se trata de um fenômeno natural, mas que é afetado pelas mudanças climáticas. Como consequência, seus efeitos são intensificados. “Esse fenômeno climático promove alterações nos ecossistemas terrestres e marinhos. Há impacto nos sistemas humanos, na segurança hídrica, alimentar e energética”, ressaltou.
A oceanógrafa informou ainda que o El Niño reduziu a precipitação, aproximadamente, na mesma proporção que as mudanças climáticas. E que a severidade da seca ocorreu por conta do aumento da temperatura global. “As mudanças climáticas aumentam a probabilidade dessa ocorrência meteorológica em dez vezes e a seca hidrológica em 30”, disse Regina, acrescentando que o prejuízo é alto: “O El Niño reduz drasticamente o PIB eas perdas econômicas crescem há décadas. Foram US$ 4,1 trilhões de prejuízo no início dos anos 80, US$ 5,7 trilhões entre 1997 e 1998, e ainda estamos calculando esse último. Precisamos agir porque a projeção para o futuro não é boa. Haverá mais El Niño e mais La Niñas consecutivas”.
A gerente de pesquisa da IBM, Bianca Zadrozny, ressaltou a importância da aplicação de inteligência artificial para avaliar riscos climáticos. “Quantificar ameaças climáticas em uma escala local ao longo de diferentes horizontes de tempo e estimar adequadamente os riscos visando a tomada de decisões é crucial para a adaptação às mudanças climáticas. E a inteligência artificial favorece a concretização deste objetivo gerando respostas e aprendizados frente ao impacto do clima na sociedade”, disse.
Glauber Ferreira da Universidade Federal de Itajubá (Unifei) mostrou resultados de pesquisas sobre a estação chuvosa, secas hidrológicas e índices de extremos climáticos. “Estudamos a ocorrência de secas hidrológicas no Brasil e concluímos um aumento da frequência desses episódios de até 65% na região Centro-Oeste, além da maior duração dessa seca no Norte, Nordeste e Centro-Oeste podendo chegar a 100% e 90% nas duas últimas regiões citadas”, conta, acrescentando que as pesquisas realizadas revelaram que houve precipitação no Norte do Brasil, aumento de precipitação no centro-sul do país e Bacia do Prata, aumento de dias consecutivos secos (úmidos) na Amazônia brasileira, entre outros impactos.
Modelagem computacional
Ainda à tarde, o chefe de Divisão de Modelagem Numérica do Sistema Terrestre do Inpe, Saulo Ribeiro, destacou a modelagem computacional como um instrumento relevante para prever eventos climáticos extremos. “Temos desenvolvido modelos de previsão do tempo, por exemplo, que permitem a prevenção de eventos climáticos, como chuvas e tempestades com mais precisão e maior antecedência buscando soluções de evitá-los. Também já criamos modelos para ajudar o setor agropecuário melhorando as safras e auxiliando a Defesa Civil”, afirmou Ribeiro, destacando que a Financiadora de Estudos e Pesquisas (Finep), do governo federal, investirá R$ 200 milhões na compra de um supercomputador para o instituto seguir desenvolvendo projetos de modelagem.