Crescimento menor, mas sem recessão

A grande maioria das seguradoras passou o mês de outubro refazendo orçamentos de 2009. Uma pena ter de revisar para baixo as projeções de crescimento de vendas, de lucratividade, de contratação de funcionários e de investimentos. Porém, é uma situação melhor do que países da Europa e dos Estados Unidos têm enfrentado. Enquanto lá eles vislumbram recessão, o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil deverá sair dos 5% previstos para 2008 para 3,5% no próximo. O governo fala em 4%, mas analistas projetam algo entre 2,6% e 3,5%.

“É uma situação privilegiada. O País cresceu 3,5% em 2006, melhor ano da indústria de seguros”, defendeu Antonio Cássio dos Santos, presidente da Mapfre. Santos ilustrou a diferença entre o Brasil e os países do hemisfério norte. “Nós vivemos a falta de liquidez do Plano Collor. Soubemos nos virar nas mais de treze crises que tenho lembrança. Eles não. A última crise que esses países viveram foi a Segunda Guerra Mundial”, acrescentou. Além disso, o Brasil tem hoje uma economia mais forte do que quando estouraram as outras crises.

Faz sentido. O governo dos Estados Unidos gastou US$ 4 trilhões até meados de outubro deste ano com medidas para mitigar os efeitos da crise financeira iniciada com as hipotecas de alto risco (subprime) em junho de 2007. Apesar da ajuda, várias instituições faliram. Se não fosse uma injeção de US$ 85 bilhões do Federal Reserve (FED), o banco central dos EUA, a maior seguradora do mundo, a AIG, teria ido a bancarrota. E mesmo assim os mais otimistas prevêem recessão para o país no próximo ano. E a gigante, com US$ 1 trilhão de ativos, sucumbiu por uma divisão de crédito hipotecário que movimentava prêmios próximos a US$ 2 bilhões. Nada comparado ao faturamento de US$ 110 bilhões em 2007.

No Brasil, as medidas são pontuais e ainda não se tem notícia de qualquer falência de instituições financeiras. O Banco Central do Brasil (BC) tomou medidas pontuais para mitigar o risco de contágio de crise internacional. Boa parte das medidas visou trazer liquidez. Entre elas o afrouxamento das exigências de depósitos compulsórios a partir de 24 de setembro. Além da liquidez, o BC permitiu que bancos pudessem adquirir carteiras de crédito de bancos de pequeno e médio portes que se viram em dificuldades com a escassez de recursos no mercado internacional. E depois autorizou bancos oficiais, como Caixa e Banco do Brasil a comprar bancos. Também gastou US$ 23 bilhões em leílões cambiais para segurar a valorização do dólar frente ao real até o dia 20 de outubro.

Uma situação interessante no Brasil é a postura das empresas que amargaram perdas. Algumas já mostram interesse em processar bancos por entender que foram mal assessoradas pelos executivos financeiros, como a Sadia, por exemplo, que registrou perdas superiores a R$ 760 milhões com operações financeiras com câmbio. Temos também investidores mais pobres com a queda das bolsas. E por enquanto só. O nível de desemprego se mantém, o presidente Lula garante que os investimentos, principalmente do Programa de Aceleração dos Investimentos (PAC) vão continuar e o crédito logo deverá se estabilizar com as medidas adotadas pelo BC.

Nada perto do que passa os EUA. O preço dos imóveis não pára de cair. A insegurança faz com que consumidores, empresas e bancos sejam extremamente cautelosos, o que tira a liquidez do mercado e ajuda a afundar a economia. Todos aguardam para comprar um carro novo, para planejar uma viagem de férias, para pedir um empréstimo, ou para aprovar uma nova contratação. O índice de confiança do consumidor americano caiu para 57,5 pontos em setembro. Trata-se da maior queda de confiança já vista desde que o índice começou a ser apurado, em 1978.

Imagina quem irá pensar em comprar seguro. Com certeza aqueles mais propensos a receber uma indenização. E qual será a estratégia adotada para vender seguro nesta realidade? A redução das vendas da indústria de seguros será inevitável. Junto com a queda do faturamento, as companhias registram perdas com os ativos financeiros e o índice de sinistralidade começa a se elevar com os pedidos de indenizações das catástrofes naturais e também da crise, principalmente as carteiras de crédito, de responsabilidade civil de executivos e de erros e omissões de executivos. Um cenário propício para aumento de preço de resseguro.

Sem contar na preocupação com os planos de aposentadoria. Uma pesquisa da AARP, uma organização que defende os interesses de pessoas com mais de 50 anos nos EUA, informou que um em cada cinco trabalhadores nesse faixa já deixou de contribuir com seu plano de aposentadoria privada, devido à dificuldade de pagar gastos básicos, como alimentação e moradia. A perda financeira trazida com a crise poderá reduzir a expectativa do patrimônio estimado e com isso os trabalhadores poderão ser forçados a se aposentar mais tarde ou receber benefício menor do que o esperado. Além disso, com a insegurança generalizada de quebras de empresas ou de perdas ainda maiores, muitos investidores estão sacando de suas contas antecipadamente.

Por acreditarem que este cenário internacional trará reflexos no Brasil pela redução do consumo e do crédito, executivos estão revendo o orçamento de 2009. Eles não esperam nada de tão grave, desde que o noticiário internacional sobre falências continue sem trazer resseguradoras ou seguradoras de porte em suas manchetes. E ninguém está imune. Segundo avaliou o diretor-gerente do Fundo Monetário Internacional (FMI), Dominique Strauss-Kahn, a atual crise financeira global demonstra a falência dos sistemas regulatórios das economias avançadas, incapazes de fixar regras para o gerenciamento de risco das maiores instituições financeiras privadas e de estabelecer mecanismos para disciplinar o mercado. Diante disto, é importante redobrar a atenção na escolha dos parceiros e usar o primeiro semestre do ano para adequar estruturas e deixar a empresa pronta para a retomada do crescimento da economia a partir do segundo semestre.

Artigo publicado na Revista Apólice – dezembro/2008

A eficiência dos corretores

Fiquei imaginando o trabalho dos corretores de seguros com os problemas enfrentados pelo American International Group (AIG) nos últimos meses. São milhões de clientes inseguros espalhados por 130 países, desde aqueles que depositaram suas economias para resgatá-las na aposentadoria até mesmo mega-projetos, como a hidrelétrica do Rio Madeira, apólice que conta com uma das maiores garantias do mundo.

Imagina explicar para segurados que a maior seguradora do mundo em valor de mercado, com ativos superiores a US$ 1 trilhão, com rating máxima “AAA” das agências de classificação esteve a beira de quebrar. Não foi à falência porque recebeu US$ 85 bilhões no dia 16 de setembro do banco central dos Estados Unidos, o Fed. Já o Lehman Brothers, quarto maior banco de investimentos dos EUA, não teve a mesma sorte. Pediu concordata dois dias antes.

Se ela, cheia de status financeiro, esteve à beira de um colapso, imagine as outras, pensaria qualquer pessoa com o mínimo de bom senso. E o que dizer aos segurados em geral se nem mesmo os mais renomados economistas conseguem prever quem estaria a salvo? Pior, todos os analistas são unânimes em afirmar que mais notícias de falência de grandes instituições estão por vir.

Alguns clientes da Unibanco AIG me procuraram para saber o que eu achava da situação. A primeira pergunta a eles foi: e o seu corretor? Não tinham. Eles haviam recebido um email da seguradora, assegurando que os problemas enfrentados pela AIG não afetariam a operação local. Mas isso não os tranqüilizou. “Preciso ter certeza. De alguém que me diga se devo mudar ou não de seguradora. Quem enviou o email certamente tem interesse em segurar os clientes para minimizar a crise”.

Eis a mostra da importância do corretor. O consumidor quer alguém que o tranqüilize. Alguém sem vínculos com a instituição. A crise financeira que assola o mundo todo terá poucos reflexos aqui no Brasil. O corretor brasileiro talvez seja poupado deste problema de insolvência das companhias. Até mesmo porque o prazo para elas se adaptarem às regras de solvência foi flexibilizado, dando tempo dos controladores buscarem capital ou um sócio.

Mas os corretores brasileiros têm outros desafios: tornar o seguro um investimento para o segurado. Até mesmo o seguro de automóvel, que aparentemente parece ter serviços iguais e preços diferentes, precisa ser explicado. Os consumidores têm adorado poder chamar um profissional para socorrê-los com uma invasão de vírus ou uma pane no computador.

Porém, quantas vezes eles podem acionar este profissional durante a vigência da apólice? E o motorista amigo para levá-los para casa em caso de mal estar pode ser solicitado sempre que necessário? Imagine o que o segurado irá pensar do seguro na quarta vez que ligar para solicitar o serviço e ouvir da atendente “o senhor já usou o seu limite neste serviço”. Com certeza o arquivo do cérebro do consumidor desavisado não acessará palavras como ética, transparência e bom investimento.

Quando o assunto passa a ser o seguro de vida, a ajuda do corretor é ainda mais prioritária. O consumidor tem sido abordado pelo cartão de crédito, pelo gerente do banco, pelo vendedor de financiamento, pelo call center da seguradora, no caixa das lojas de varejo e por muitos outros profissionais ávidos por ofertar proteção em caso de morte. A grande maioria dos consumidores hoje tem várias apólices. Juntas custam uma fortuna e oferecem uma proteção abaixo das expectativas do cliente.

Ninguém melhor que o corretor para assessorar o cliente sobre as coberturas necessárias para deixar os beneficiários em segurança caso ele venha a falecer antes de seus filhos terem condições de se sustentarem. Quem tem dívidas, pode livrar a família do ônus e proteger o patrimônio da família com o seguro de vida. E mesmo aqueles que tem patrimônio podem ter um seguro para arcar com custos durante o período de levantamento e divisão de heranças.

Os corretores podem mostrar aos clientes que as apólices de seguro são um investimento interessante, sobretudo quando o pior acontece. Ao contrário de muitos funcionários sem especialização, que ofertam o produto de forma comercial, ficando a impressão de ser algo desinteressante e utilizado como troca de favores.

A eficiência dos corretores no mercado de seguros fica evidente quando se levanta o número de queixas do setor na Superintendência de Seguros Privados (Susep) e nos órgãos de consumidores. Em ambos, as reclamações são inferiores a 1% do total das indenizações pagas, que superam 8,5 milhões anualmente. Com certeza isso conta muitos pontos a favor do corretor, que vende um produto complexo para a grande parte da população.

Por isso, só posso finalizar este artigo no mês que se comemora o Dia dos Corretores, com um enorme P A R A B É N S a todos aqueles profissionais dedicados, que priorizam e se dedicam aos seus clientes, tornando o seguro um bem necessário para tornar famílias e empresas sustentáveis. E não se esqueçam de aderir ao Código de Ética lançado pela Fenacor, um selo de qualidade que ficará cada vez mais em evidência depois deste “tisunami” financeiro mundial.

Artigo publicado na Revista Apólice – novembro/2008

Rumo à nova indústria de seguro*

42-21522202As mudanças demoraram a acontecer na indústria de seguros brasileira. Mas agora parecem não ter fim. Todo dia tem novidade. Seguradora ampliando atuação para um nicho ou região. Executivos trocando de desafios, como Sérgio Santiago deixando o IRB Brasil Re para fazer parte da equipe da J.Malucelli Re. Uma seguradora transformando prejuízo em lucro, como a MetLife, com ganhos de R$ 21,7 milhões neste primeiro semestre do ano. Na outra ponta, a Porto Seguro registrando queda de quase 36% no lucro líquido acumulado do ano até julho, com R$ 160 milhões. Até eu, que escrevo desde 1992 (com algumas saídas) sobre o setor para a Gazeta Mercantil, deixei o jornal no final de agosto.

Tudo isso mostra que a indústria de seguros traz grandes desafios e oportunidades para todos. Para os estrangeiros, as notícias sobre o Brasil os motivam a mudar estratégia e rever o peso do País na obtenção de metas traçadas pelos acionistas. A grande maioria dos CEO de seguradoras estrangeiras que entrevistei neste ano foi unânime em afirmar que o Brasil é prioritário para que os grupos atingirem as metas de crescimento, uma vez que em seus países de origem enfrentam crise financeira, perdas com catástrofes e acirrada concorrência, típica de mercados maduros.

A estratégia para convencer os analistas de mercado responsáveis por recomendar a venda ou a compra de ações é de que o futuro é brilhante em razão do desenvolvimento das operações internacionais, em países emergentes, principalmente aqueles que compõem o bloco conhecido como BRIC (Brasil, Rússia, Índia e China). Além do positivo discurso em entrevistas, o Brasil foi destacado no balanço semestral de grande parte delas. AIG, Mapfre, Allianz, ACE, Chubb. Liberty entre tantas outras destacaram a operação local pelo crescimento das vendas e da rentabilidade.

Ou seja, o Brasil está no topo da lista entre os países para receber investimentos de resseguradores. Patrick Thiele, presidente e CEO da PartnerRe, disse que o Brasil lidera entre os Brics. “O Brasil é o que tem o maior potencial no prazo de cinco anos. A Rússia e a Índia ainda apresentam regulamentações restritivas, que inibem investimentos estrangeiros. A China será um grande mercado nos próximos dez ou 15 anos”, disse.

Fora todos esses elogios dos principais CEOs de seguradoras e resseguradoras, um dos mais respeitados estudos da indústria de seguros mundial destacou o Brasil. Segundo análise da Swiss Re, o mercado brasileiro de seguros cresceu 10,3% em termos reais, três vezes mais que a média global de 3,3% em 2007, passando a ser o 19º no mundo em volume de prêmios, com R$ 75,5 bilhões. O seguro de vida foi responsável por R$ 35,6 bilhões, alta de 15,5%, ocupando a 22º colocação. O segmento não-vida, ou ramos elementares, ficou com R$ 39,9 bilhões, evolução de 6,1%, o que dá ao Brasil a 14ª posição do ranking global.

E o céu é de brigadeiro. A Swiss Re prevê que em 2008 os prêmios de ramos elementares continuarão a aumentar com os investimentos em infra-estrutura previstos e também pelo próprio crescimento do País, do aumento da renda da população e acesso das classes de menor renda ao crédito. Tudo isso se o Brasil continuar imune à desaceleração econômica global.

Aproveitando tal cenário, a Confederação de Seguros, Previdência e Capitalização (CNSeg) tem divulgado o Brasil no exterior. Em agosto um grupo foi para Japão, Coréia do Sul e Taiwan. Em setembro, Londres. Lá eles mostram tudo aquilo que sabemos aqui. O potencial do mercado em todos os nichos, de automóvel a usina nuclear; a necessidade de novos produtos para atingir as classes de menor renda e o grande desafio da distribuição.

Tendo por base o balanço do primeiro semestre, onde boa parte registrou lucro menor do que no mesmo período do ano passado, a competição ficará ainda maior a partir de agora, com produtos, serviços e preço. Segundo Bill Yates, presidente da Prudential, o crescimento da empresa no primeiro semestre veio do maior interesse dos consultores financeiros em vender o produto. “Os clientes têm interesse. Crescemos porque aumentou a produtividade de nossos vendedores”, informou.

Bem, vamos lá então. Vamos aproveitar esta onda do setor e abraçar desafios para crescermos junto com o Brasil e conseqüentemente com a indústria de seguros.

ABGR discute perfil do gerente de risco*

images6A Associação Brasileira de Gerência de Riscos (ABGR) comemora hoje 25 anos. Neste ano, a festa tem um sabor especial. O gerente de risco, na maioria das vezes um profissional sem muito destaque dentro das corporações, passou a ser valorizado diante da necessidade de uma maior regulação por parte de órgãos reguladores, que buscam informações para efetuarem uma fiscalização mais eficiente da solvência das companhias. “A tendência é profissionalizar a função de gerente de risco, um profissional que agrega valor ao acionista ao mensurar riscos e formas de mitigá-los”, diz Andres Holownia, presidente da ABGR e gerente de riscos da Scania.

*matéria da autora publicada no jornal Gazeta Mercantil, em 22/08/2008
O gerenciamento de risco ganhou tanta importância que até mesmo para a agência de classificação de riscos Standard & Poor’s informou que este será um item analisado e que contará pontos na emissão de ratings das empresas a partir do terceiro trimestre deste ano. “O gerente de risco não é um comprador de seguro e sim quem planeja o progresso da empresa”, diz o executivo que assumiu a associação em janeiro deste ano.

A abertura do mercado de resseguros no Brasil é um dos eventos que obrigou as empresas a repensar suas estruturas, processos, relatórios e controles. Isso porque quem não conhecer bem seus riscos, terá dificuldade de contratar seguro e resseguro. Com o monopólio, o IRB Brasil Re aceitava todos os riscos e a garantia de honrar o contratado era de 100%, uma vez que o órgão é controlado pelo Tesouro Nacional.

Num mercado aberto, a realidade é bem diferente daquele que os brasileiros estavam acostumados. “É preciso saber vender bem o seu peixe e para quem, pois de nada adianta obter o melhor preço e depois ficar sem cobertura”, diz o presidente da ABGR, uma entidade sem fins lucrativos e que conta hoje com 100 associadas.

Holownia ressalta a importância da abertura para as empresas que compram seguro. “Acredito que teremos grandes benefícios como compradores, tanto em novos players, preço, qualidade de serviços, agilidade, contratos modernos e novos produtos quando o setor estiver organizado.” Segundo ele, apesar da abertura ter sido discutida por tanto tempo, apenas a partir de abril é que todos começaram a se preparar para este novo cenário. “Faltam profissionais que entendam do assunto e será preciso muito investimento em treinamento. É um grande desafio”, diz.

Mundialmente, o gerente de risco ganhou mais destaque após as regulamentações criadas para melhorar a qualidade e transparências das informações financeiras das empresas após as grandes fraudes nos Estados Unidos. Entre elas Sarbanes&Oxley e o Committe of Sponsoring Organization of the Tradeway Commission (COSO), criado em 1992, normatizando padrões de controle baseado em riscos. Depois vieram novas edições, como COSO 1, COSO – Enterprise Risk Management (ERM) ou COSO II entre outros. “Há oportunistas dizendo que o ERM vai gerar uma maior necessidade de seguro quando muito provavelmente seja o contrário. O importante é detectar o risco e buscar a melhor forma de mitigá-lo para proteger o patrimônio do acionista”, diz.

Segundo ele, o objetivo é o de promover a gerência de riscos nas empresas, em linha com as mais modernas tendências e técnicas do mercado, permitindo um controle efetivo de seus riscos, dentro das especificações definidas pela sua direção. “Riscos podem ser tanto ameaças como oportunidades. É preciso analisá-los para garantir o crescimento sustentável”, diz.

Cultura Artística tem apólice da BB Seguros*

O seguro vai ajudar a recompor perdas materiais do Teatro Cultura Artística, com parte de sua estrutura destruída por um incêndio na madrugada de domingo passado. Segundo executivos do mercado de seguros, a apólice de danos causados por incêndio foi contratada na BB seguros Aliança do Brasil, com cobertura de até R$ 5 milhões. A seguradora não quis se pronunciar.

A direção do teatro ainda não sabe ao certo qual será o futuro da casa de espetáculos. Poderá ser reconstruída no mesmo local, na região central da cidade ou mesmo ter o terreno arrendado para que o teatro seja aberto em outra parte da cidade. “O valor é suficiente para a reconstrução do teatro, considerando-se o prédio e o conteúdo”, afirma o gerente de riscos Gustavo Mello, professor da Escola Nacional de Seguros (Funenseg).

Segundo cálculos de Mello, para construir 2 mil metros quadrados – metragem para dois andares do teatro – em São Paulo, o custo chega próximo de R$ 2 milhões, tendo como base dados do Instituto Nacional da Propriedade Industrial (Inpi) para construção fina. “Acrescentando tapetes, 1,4 mil poltronas, ar-condicionado entre outros detalhes, o custo chegaria a R$ 4 milhões.”

Já o prejuízo do promotor da peça “O Bem Amado”, cujo figurino foi todo perdido, não está na apólice de incêndio. “A cobertura de bens de terceiros geralmente tem um contrato à parte, que pode ser feito pelo proprietário da casa de show ou pelo organizador do espetáculo, explica Juliana Santos, gerente da área de entretenimento da Chubb Seguros, uma das principais seguradoras deste nicho, com venda de cinco apólices por dia, em média.

Segundo ela, a cobertura de responsabilidade civil muitas vezes comprada junto com o seguro de incêndio visa indenizar danos materiais e corporais causados a terceiros. “Um prédio vizinho atingido pelas chamas ou pessoas feridas estariam cobertos. Mas bens de terceiros devem ser garantidos por uma apólice separada”, explica.

Caso a produtora da peça de Marcos Nanini não tenha seguro, pode haver uma boa briga jurídica, uma vez que os bens estavam armazenados no local alugado para a realização da peça. “Este tipo de responsabilidade deve ficar muito clara nos contratos entre os produtores e casas de espetáculos com o objetivo de agilizar o pagamento e dar prosseguimento ao negócio”, frisa Dulce Thompson, especialistas em seguro de entretenimento da corretora Aon Risk Service.

Especulações à parte, independentemente do desfecho deste acidente, uma vez que a investigação está apenas começando, o assunto deverá mudar contratos de seguros. “É um bom momento para todos os envolvidos pararem para analisar os riscos a que estão expostos”, diz Dulce. Poucas seguradoras operam com seguro de entretenimento em razão da falta de demanda. Mas com a quebra do monopólio em resseguro (o seguro das seguradoras) em abril deste ano, vários produtos estão disponíveis no mercado brasileiro. Há apólices para cobrir todos os tipos de perdas ocorridas nesta acidente do teatro. Há seguro para perdas com cancelamento e adiamento de shows. Neste caso, o seguro cobre custos com devolução de ingresso e despesas com divulgação do reagendamento ou locação de um novo local.

Tem também uma apólice de lucro cessante que a casa de espetáculo pode contratar para recompor o lucro que deixará de ter com a cobrança da locação do local para a realização de eventos até que o novo prédio fique pronto para operar. Geralmente o teatro faz o seguro do equipamento de som e luz próprio. Mas tem espetáculos que exigem apetrechos mais sofisticados. Neste caso, tem de ficar claro de quem será a responsabilidade em caso de acidentes, frisa a especialista da Aon.

*Matéria da autora publicada na Gazeta Mercantil em agosto de 2008

Sucesso com bons produtos, preço acessível, marca e corretores

images13A MetLife, maior seguradora de vida dos Estados Unidos, foi a seguradora de vida que registrou a menor variação na bolsa de valores de Nova York (NYSE) neste ano, mesmo com a forte volatilidade do mercado acionário internacional. Segundo estudo feito pela Economatica, entre as 74 empresas de seguros que operam na Bolsa de Nova York, apenas 17 registraram alta e 57 tiveram queda de até 84% do início deste ano até 13 de maio. A MetLife ficou estável, com desvalorização de apenas 0,5%.

Desde 2000, quando a MetLife deixou de ser mútua para ser negociada em bolsa, o ganho operacional por ação saiu de US$ 2 para fechar 2007 acima de US$ 6. O retorno total da ação de 5 de abril de 2000, quando fez o IPO, até 6 de maio deste ano, os papéis da MetLife acumularam valorização de 323%. O resultado é muito acima do índice Standard & Poor’s 500, com rentabilidade de 6% no mesmo período, e do S&P Insurance, com valorização de 36%.

E sabem o que sustenta este resultado? A seguradora tem uma força de venda extraordinária para vender os seus produtos: 160 mil profissionais, sendo a maior parte agentes. Também utiliza canais alternativos, pois ofertar o produto em todos os lugares onde o cliente esta é uma realidade que não tem mais volta para o mercado de seguros mundial.

No entanto, os corretores conseguem vender porque há bons produtos, preço acessível e uma marca que significa confiança e solidez. A MetLife, com vendas superiores a US$ 53 bilhões por ano, ajuda seus corretores na venda do seguro de diversas formas. Fazer um bom produto, com cláusulas que não deixem dúvidas em relação à cobertura do produto, é uma das prioridades do grupo. “Se o produto não for bom para o cliente, não é bom para o negócio”, diz Willian Topetta, presidente da área internacional da MetLife, que já representa 10% do lucro do grupo mundialmente.

Realmente, um produto ruim feito traz perdas para todo o mercado. Já um cliente satisfeito conta sua história para pelo menos dez pessoas, alegam as pesquisas. Outro esforço da MetLife é em serviços. Ela faz pesquisas constantes para saber o que o cliente quer, o que o corretor precisa e o que pode agregar para renovar o seu negócio. “Quando se faz um bom produto todos copiam. Por isso é preciso estar sempre se atualizando para manter o cliente satisfeito”, diz Topetta.

A constância nos preços e no método de subscrição é outro aliado do grupo para agradar clientes e corretores. Jorge Ramirez, assistente da vice-presidência da MetLife, credita o bom desempenho das ações ao investimento diário do grupo em buscar um crescimento sólido em ambientes em plena transformação.

Um exemplo é o aporte de recursos em vendas dirigidas para um público preocupado com maior qualidade de vida, como não fumantes e atletas, bem como apostar em serviços voltados à qualidade de vida. Para manter a imagem da marca, o grupo investe mais de US$ 60 milhões por ano e tem 450 colaboradores em todo o mundo envolvidos em treinamento e desenvolvimento dos funcionários.

Tais atitudes ajudam a manter a rentabilidade sobre o patrimônio, que saiu de 10,3% em 2000 para 15,2% em 2007. “Nossa meta para 2010 é de 15%”, diz Ramirez. Segundo ele, a MetLife está bem posicionada para enfrentar a atual
turbulência financeira. “A crise do subprime foi identificada antecipadamente e tínhamos uma posição limitada”, informa.

A solidez ajuda a vender, principalmente em um mercado onde não se entrega um produto e sim uma promessa futura de pagamento. E os números mostram que a estratégia é eficiente. Em 2000, o número médio de produtos por cliente era de 2,1. “Em 2007 passou para 5,5, o que mostra que a empresa está diversificando seus produtos e os clientes estão satisfeitos com a empresa”, argumenta. O tempo de relacionamento médio dos clientes com a seguradora é de 27 anos. “Nossas estratégias estão sempre voltadas ao longo prazo.” São 70 milhões de clientes em todo o mundo.

No Brasil, por questões culturais e regulatórias, a MetLife ainda engatinha perto do que tem realizado em outros países como México, onde é a maior do país, ou no Japão e Chile, onde está entre as maiores em venda de seguro de vida e de renda vitalícia. Mas é um exemplo de sucesso mundial que pode ser copiado. Não só pelos concorrentes como também pelos corretores. Os clientes com certeza se sentirão mais seguros se perceberam que há solidez e estabilidade naqueles com quem negociam.

*Articulista da Revista Apólice

O varejo como canal de distribuição de seguros*

O interesse pelo produto é motivado pelos ganhos. No Ponto Frio, único grupo que divulga informações sobre os produtos financeiros, o lucro total obtido em 2007 foi de R$ 89 milhões. A venda de seguro representou 95% dos R$ 73 milhões que vieram dos produtos financeiros. Em 2006, o ganho foi de R$ 53 milhões. “Desde 1998 vendemos o seguro de garantia estendida. É um produto muito bom. Agrada a todos. A rede, o vendedor, o consumidor e a seguradora”, diz Antonio Machado, diretor de vendas da Globex, dona da rede Ponto Frio.

O sucesso do varejo nas vendas sobre os bancos só foi possível após a adesão dos clientes ao cartão de crédito, para que a cobrança do seguro pudesse ser viabilizada. Um dos argumentos que destaca o varejo como melhor forma de chegar às classe C e D é que elas não vão ao banco por não terem conta bancária. Muitos dos que vão sentem-se mais à vontade na loja, onde o clima é propício para compras.

“Lá ele entra para comprar e é sempre bem atendido pelo vendedor ávido por ofertar tudo. Já no banco, as pessoas são barradas nas portas giratórias e o gerente nem sempre está disponível”, diz Alessandro Jarzynski, presidente da seguradora QBE, especializada em proteção financeira.

“O preço do seguro é diluído nas parcelas, assim não pesa para o consumidor. O varejo remunera muito bem o vendedor, que chega a ganhar um outro salário com a venda de apólices. O seguro não ocupa lugar na loja, representa baixo risco, é operado por terceiros e gera receita que compensa a perda operacional”, diz o consultor especializado em varejo, Alberto Serrentino, da Gouvêa de Souza & MD Desenvolvimento Empresarial.

Segundo ele, o seguro chega a representar em média 50% do lucro das redes varejistas. “Em umas mais, em outras menos. Mas a tendência é de que o seguro vai ganhar mais participação a partir de agora, com a consolidação de novos produtos”, diz. Trata-se de um canal de distribuição novo para as seguradoras, com cinco anos de idade. Praticamente as 20 maiores varejistas já acertaram suas parcerias. E há lojas menores que já aderiram ao produto.

Tipos de seguro

O seguro de garantia estendida e o prestamista estão consolidados. “Aos poucos, outros produtos são incluídos nas redes com sucesso e isso fará com que o Brasil supere o Chile, hoje o maior mercado na venda de seguros pelo varejo na América Latina”, informa André Rodolfo Feltrin, diretor de varejo para América Latina da Aon Affinity.

No Chile, bancos e seguradoras buscam esses canais para aumentar suas vendas. O mesmo acontece no Brasil. O presidente da MetLife, uma das maiores seguradoras de vida dos EUA, José Roberto Loureiro, disse que está em busca de parcerias no varejo para vender seguros. Geralmente os parceiros neste tipo de negócio costumam amarrar seus contratos por no mínimo cinco anos em razão dos investimentos em tecnologia para processar um elevado número de apólices de baixo valor. “E é preciso ter um atendimento ágil e sem ruído para não arranhar a imagem do varejista”, afirma Marcelo Teixeira, diretor da corretora Marsh.

Se houvesse estatísticas, seria possível afirmar que a Casas Bahia, maior rede varejista do País que não publica balanço, seria também a maior seguradora de apólices prestamistas, que quita o saldo devedor em caso de morte, invalidez ou perda temporária de renda. Também seria possível afirmar que seria a maior seguradora de garantia estendida, produto que dá um ou dois anos a mais de proteção ao produto ao vencer o prazo dado pelo fabricante.

Segundo dados da Susep (Superintendência de Seguros Privados), a venda de seguro prestamista em 2007 atingiu R$ 2,06 bilhões, alta de 45% em relação ao ano anterior. A Mapfre é a seguradora líder de vendas por ser a parceira da Casas Bahia, com prêmios de R$ 612 milhões. A seguradora do Bradesco, por exemplo, líder em concessão de crédito, tem apenas R$ 94 milhões em apólice prestamista.

O seguro de garantia estendida, responsável pela entrada do varejo na venda de seguros, movimentou R$ 1,18 bilhão em 2007. A Unibanco AIG, parceira da Casas Bahia neste tipo de proteção, é a maior, com R$ 1 bilhão em prêmios.

Antonio José de Araújo, gerente de produtos financeiros da rede Magazine Luiza, informa que um dos argumentos de venda do seguro de garantia estendida é que ele cria valor agregado. “Se a pessoa alega que pretende trocar de produto, como o celular, em um ano de uso, descartando o seguro de extensão de garantia de fábrica, o argumento é de que ao comprar um novo equipamento ele pode vender o usado com a garantia estendida, agregando valor à negociação”, diz o gerente do Magazine Luiza, que opera com garantia estendida desde 1999.

O assunto é levado tão a sério pelo grupo que no ano passado foi criada uma seguradora em parceria com a francesa Cardif, a LuizaSeg. Em 2007 foram vendidas 3,2 milhões de apólices, sendo 50% delas de seguro garantia. Ter como cobrar o seguro é o ponto-chave desta operação. Quando o cartão de crédito foi implementado, vários outros seguros puderam ser incluídos no portfólio de produtos financeiros. Hoje a rede oferta seguro de proteção financeira, seguro de vida e de acidentes pessoais que inclui o cobertura odontológica. Também tem o renda hospitalar, ofertado via telemarketing desde o mês passado. “Esse é o mais fácil de vender, tanto pelo apelo como pelo preço”, conta Araújo. O seguro residência aguarda o sistema tecnológico ficar pronto para ser disponibilizado aos clientes.

*Matéria feita com exclusividade para a Gazeta Mercantil

Executivo exige proteção financeira*

A demanda de executivos por proteção financeira tem trazido mais seguradoras para explorar este nicho de negócio. Um negócio restrito praticamente à Chubb e Unibanco AIG até 2006, quando o IRB Brasil Re, na época o único ressegurador autorizado a operar, optou por autorizar as seguradoras a contratar resseguro no exterior no passado do que administrar uma carteira tão específica e que requer know how para se ter rentabilidade.

“Esse é um bom exemplo do que a liberdade de contratar seguro poderá fazer com o País”, diz Eduardo Pitombeira, executivo responsável por produtos financeiros na Zurich. O livre acesso ao resseguro trouxe mais concorrentes, hoje são quase dez, e coberturas mais próximas da necessidade das empresas brasileiras. “O clausulado foi totalmente reformulado para atender a legislação brasileira”, informa a Unibanco AIG, que lidera as vendas do seguro de responsabilidade civil dos executivos mais difundido no Brasil, o Directors & Officers.

Segundo dados da Susep organizados pela consultoria Siscorp, o seguro de D&O movimentou prêmios de R$ 96,4 milhões em 2007, alta de 9,3% em relação a 2006. A Unibanco AIG é a maior do Brasil, com prêmios de R$ 42,4 milhões. A Chubb é a segunda maior, com R$ 12,3 milhões, seguida pela ACE (R$ 11,6 milhões), SulAmérica (R$ 10,5 milhões), e Itaú XL (R$ 8,4 milhões).

Neste ano a venda deste produto deverá crescer. Afinal, as crises são usadas pelas seguradoras para vender mais seguro. “A crise serve para mostrar que o risco existe”, diz Pitombeira. A crise americana com créditos hipotecários de alto risco, conhecida como subprime, já traz efeitos para o seguro de responsabilidade civil de executivos.

Segundo Enrico Nanni, diretor-executivo da divisão Aon Network Solutions, do grupo Aon, dono de uma das maiores consultoras de seguros do mundo, informou em um seminário realizado em março deste ano que 47 empresas já haviam avisado que acionistas questionam judicialmente a responsabilidade dos executivos diante das milionárias perdas divulgadas até agora, perto de US$ 400 bilhões, segundo a Bloomberg News. Dessas, 25 são instituições financeiras.

Pitombeira acrescenta outra crise. “Além da crise do subprime, temos o choque de credibilidade que veio à tona com a fraude do Société Générale. As várias leis internacionais exigidas pelos órgãos reguladores para controlar riscos de gestão se mostraram frágeis e isso pode gerar uma revisão no cálculo do preço do seguro com o agravamento do risco. Se um grupo do porte do SocGen registrou perdas de US$ 4,9 bilhões, outros podem estar oferecendo o mesmo risco para o setor de seguros”, explica Pitombeira.

No entanto, tais crises não devem afetar o preço na América Latina. Mercados como o Brasil e México devem continuar sendo beneficiados pela farta oferta de capacidade e redução de preço gerada pela concorrência. Segundo a Aon, é possível achar com facilidade no mercado internacional capacidade de US$ 300 milhões por risco a um preço razoável.

O temor das seguradoras é ter um ano como no início do século 21. As maiores perdas em D&O foram iniciadas com a quebra da Enron, que gerou acordos com acionistas de US$ 7,1 bilhões. A WorldCom é a vice líder em indenizações, com US$ 6,1 bilhões. A Cedant gerou indenizações de US$ 3,5 bilhões.

No Brasil, o mercado está a pleno vapor. Tanto que novos produtos foram lançados e lotam a agenda de Pitombeira mesmo antes de lançar a campanha institucional que consumirá R$ 10 milhões inicialmente. A campanha, em fase de produção, será voltada para o público final. “Queremos instruir o público final sobre os riscos que podem impactar no resultado da empresa e que elas podem transferir para as seguradoras”, conta.

Serão divulgados basicamente três produtos: D&O, fraudes empresariais, e práticas trabalhistas, que envolvem ações de assédio moral e sexual. “Não são produtos que trouxemos para testar o mercado”, diz Pitombeira. O seguro de D&O protege o executivo e movimenta prêmios de US$ 12 bilhões nos EUA. O seguro de fraudes protege a empresa e movimenta US$ 5 bilhões em prêmios no mercado americano, conta. “Apostamos neste produto porque o seguro vem para resolver um problema que já existe. E não é um problema brasileiro. É mundial”.

Pesquisas revelam que sete em cada 10 empresas já sofreram algum tipo de fraude. “Entre os fatores que levam à intensificação desse quadro está o aumento da complexidade das organizações e transações que, combinadas com fusões, aquisições, reestruturações e terceirizações, aumentam os riscos e a extensão dos prejuízos causados pelas fraudes”, diz Pitombeira.

A apólice oferece cobertura para proteção de eventos variados, entre os quais destacam-se atos fraudulentos de empregados, falsificação e adulteração de documentos, fraudes eletrônicas e furto de bens e valores. Neste produto são excluídos custos de defesa, exceto honorários de auditores para apuração de sinistros, lucros cessantes e danos emergentes; multas e penalidades, tributos, verbas rescisórias e benefícios trabalhistas, segredo industrial, direitos autorais e marcas patentes.

O seguro de práticas trabalhistas surgiu pelo aumento no número de processos de ações de funcionários. De 2005 para cá, as ações coletivas antes direcionadas para a Justiça Civil, um pouco mais morosa no julgamento, passaram a ser julgadas pelo Ministério Público do Trabalho. O processo ganhou agilidade e valores milionários.

Agora, executivos com doutorado que são escalados para servir café, chefes ou diretores que atribuem funções acima daquelas para as quais seus subordinados foram contratados, ou estabelecem metas impossíveis de serem alcançadas podem ser processados. “Situações vexatórias, como o nome exposto como perdedor do mês ou que não desenvolveu projeto em tempo adequado também são alvo dos processos”, conta Pitombeira.

O seguro existe, mas empresas que não tratam bem os seus funcionários podem ficar sem seguro. “Queremos clientes com bem estar do funcionário, pois o seguro serve para proteger a empresa de um risco aleatório e não um risco certo”, explica. Segundo ele, hoje já se formou jurisprudência e os valores das ações situam-se entre R$ 1 milhão e R$ 10 milhões.

A Zurich conta com a capacidade da matriz para ofertar cobertura de até US$ 35 milhões e franquias com percentuais reduzidos de participação, entre 10% ou 20%. Segundo o executivo, é possível aumentar o limite durante a vigência da apólice.

*Matéria da autora publicada na Gazeta Mercantil em abril de 2008

Mimos para conquistar milionários*

A abertura do mercado de resseguros, que possibilita usar a capacidade financeira da matriz para ofertar indenizações maiores aos segurados, traz boas notícias para os endinheirados. Até pouco tempo atrás eles estavam limitados a poucas ofertas de seguro para protegerem seus patrimônios e ainda por um alto custo. Era impossível achar um seguro de vida acima de R$ 1 milhão. Hoje qualquer valor é negociado.

A única seguradora interessada em atender os proprietários de carros acima de R$ 100 mil, de residências a partir de R$ 1 milhão, de barcos com valores acima de R$ 300 mil e aviões de qualquer valor era a Chubb, que nos Estados Unidos é a principal quando o assunto são os milionários.

A falta de interesse por esses clientes era justificada pela fraca demanda. Por outro lado, os ricos preferiam fazer um auto-seguro a pagar taxas elevadas ao serem incluídos na vala comum das estatísticas gerais. Mas o surgimento de novos milionários, a necessidade de aumentar a base de consumidores e poder ofertar coberturas com valores mais elevados em razão da internacionalização da indústria de seguros aguçou o apetite de seguradoras.

De dois anos para cá surgiram alguns concorrentes, como a americana AIG, que criou uma diretoria exclusiva para atender os clientes de alta renda. Assim também tem sido na Alfa, Mapfre, Porto Seguro, SulAmérica, Bradesco, Liberty, na Icatu Hartford. E mesmo após dois anos de concorrência mais acirrada, acredita-se que apenas 20% das pessoas dentro desse perfil fazem seguro dos bens, um percentual muito abaixo dos 80% dos Estados Unidos.

Este cliente não quer saber de publicidade. É discreto. Não tem tempo de fazer o boletim de ocorrência. Irrita-se facilmente se alguém lhe pede um procedimento sem razão. Ofende-se quando é questionado por um detalhe irrelevante. Por isso, o diferencial está nos detalhes.

Grande parte das seguradoras tem uma central de atendimento especializada para atender os clientes “vips”. É possível perceber rapidamente a diferença no trato. Nada de longas esperas. E a pequena que tem é com música de bom gosto. O atendente não entra em discussão e nem se recusa a resolver o problema alegando que o procedimento é aquele do script. Há flexibilidade no tom de voz e também a possibilidade de falar com o gerente se for necessário.

A disputa tem acontecido em diversos produtos. Mas é no seguro de carro onde a concorrência é maior por ser considerada a forma mais fácil de chegar até eles. Para a Chubb, a concorrência é saudável, mas ainda não incomoda. Sidney Munhoz, diretor de linhas pessoais da Chubb Seguros, uma das mais especializadas no mundo neste segmento de alta renda, costuma dizer que a estratégia da Chubb é cuidar do patrimônio do cliente e não apenas do carro, desenvolvendo uma política de relacionamento. Ele também sabe que este tipo de segurado não olha o seguro mais barato e sim aquele que atende melhor.

O fato é que o preço caiu e isso tem atraído mais consumidores para o setor. Jabes de Mendonça, vice-presidente da Mapfre, diz que é preciso diferenciar o preço para o cliente de alta renda. Geralmente ele tem vários carros e usa pouco, o que reduz o risco para a seguradora.

Para se ter uma idéia, o preço de um seguro de carro representava cerca de 8% do valor da importância segurada há 10 anos. Caiu para 5% com o uso de rastreadores há cinco anos. E agora, com a concorrência, as taxas despencaram, chegando em alguns casos a 2%, conta Farid Eid, diretor da Alfa Seguradora, que tem cerca de 20 mil veículos importados em carteira.

Neste ano, as duas principais novidades neste segmento anunciadas na mídia vieram da Liberty e da Mapfre. A Liberty lançou um seguro com serviços sofisticados para carros com valor a partir de R$ 120 mil em janeiro deste ano. A aposta do grupo é no relacionamento com este cliente que tem vários carros, seguranças, utiliza rastreadores, é formador de opinião e fiel quando bem tratado.
“É preciso dar a ele preço e tratamento diferenciados. Apesar de segurar o auto, nosso objetivo é cuidar do seguro de forma pessoal. Por isso a nossa precificação leva em conta a pessoa e não o veículo “, diz Paulo Umeki, diretor de produtos da Liberty. São levados em conta os hábitos do proprietário, como se tem motorista, quantos veículos tem na família, a freqüência que utiliza o carro, se há um esquema de segurança entre outros.

A surpresa veio logo após o lançamento. A base montada para fazer a cotação ficou entupida, o que mostra a demanda por seguros desta classe social com veículos avaliados acima de R$ 120 mil. “Esperávamos 200 cotações por mês e estamos fazendo mais de 1 mil”, conta Umeki. Segundo ele, a equipe teve de ser triplicada, pois todo o processo é feito manualmente e individualmente. Hoje a Liberty tem fechando algo em torno de 200 apólices por mês. A Liberty pretende ter entre 2% e 3% da frota de veículos importados neste primeiro ano. Isso significa 4 mil seguros tendo como base os 15 mil carros importados em 2007. Automóvel é o primeiro produto e ao conquistar o cliente, há uma equipe para ofertar outros produtos, como residência, embarcações e motos.

A Mapfre criou um hotsite exclusivo para sua linha de produtos focada no público de alta renda. O objetivo do espaço na web é interagir com os consumidores, permitindo que eles montem, por meio da nova página, ‘uma vida especial’, além de mostrar que a empresa possui em seu portfólio seguros para motocicletas acima de 500cc e automóveis de luxo com valor superior a R$ 100 mil. Entre os mimos oferecidos pela Mapfre está a assistência a viagem que abrange o veículo e os passageiros, com traslado em classe executiva ou hospedagem em hotel cinco estrelas.

A maioria das seguradoras oferece carro extra em caso de pane mecânica. Se o carro quebrar na estrada, volta para casa de táxi especial. Dependendo da distância, pode voltar de avião. Os passageiros estão cobertos por um seguro de acidentes pessoais. Em caso de perda total no período de 12 meses, a indenização leva em conta o preço de um veículo zero quilômetro. Em caso de conserto do veículo, há serviços de leva-e-traz para oficinas. Há também um valor para despesas extraordinárias e blindagem.

Nas apólices de casa, barco e avião os mimos se repetem, como um sofisticado esquema de segurança pessoal, cobertura para animais de estimação e de competição, cofres em bancos e hospedagem em hotéis de luxo para a família em caso de acidentes. Nos seguros de vida, as coberturas automáticas já chegam a R$ 1,5 milhão. Valores acima deste patamar são negociados caso a caso e há exigências de exames médicos.

Cliente em primeiro lugar

Encantar o segurado é o mote do momento. Nas principais seguradoras do País não se fala em outra coisa. Pudera. Conquistar um cliente custa muito mais do que manter o que tem dentro de casa. Para atender a esta demanda, a Escola Nacional de Seguros realiza cursos em diversas capitais brasileiras com o objetivo de aprimorar o relacionamento com o cliente ao melhorar a auto-estima dos profissionais e, conseqüentemente, promover mudanças de comportamento nas relações comerciais.

O curso “Excelência no Atendimento” será realizado no dia 26 de abril na unidade regional de Goiás da Escola Nacional de Seguros. Com duração de oito horas, o curso será ministrado por professores do mercado goiano com experiência em relacionamento. Os alunos vivenciam situações do dia-a-dia, por meio de dinâmicas e demais questões específicas focadas na prática do atendimento.

Também na capital goiana, informa a Funenseg, acontece, em maio, o curso “Processo de Venda Orientado pelo Cliente”. De forma lúdica, ele desenvolve nos alunos a prática da percepção e da reflexão. De acordo com a gestora das Unidades Regionais da Escola fora do eixo Rio – São Paulo, Celia Pavão, o objetivo é promover mudanças de comportamento nas relações comerciais. Além de Goiânia, outras capitais brasileiras sediarão o curso: Recife (PE) e Salvador (BA), em maio, e Florianópolis (SC) e Curitiba (PR), em junho.

O curso “Atendimento ao Público” visa atender as normas de certificação, definidas pela Susep, nas áreas de seguros, previdência, vida e capitalização, para funcionários de corretoras e seguradoras. A proposta é fazer com o que o profissional enxergue o potencial cliente, a melhor forma de abordagem para efetivar uma negociação e como manter o cliente fidelizado.

Mais informações no site www.funenseg.org.br.

*Matéria da autora publicada na Gazeta Mercantil em abril de 2008

Energia, um mercado aquecido para seguros*

O crescimento da economia mundial exige investimentos milionários no setor de energia. O mercado de seguros conhecido como “energy”, que engloba riscos de petróleo, embarcações e mineração, está apostando suas fichas neste setor que prevê investimentos de US$ 21,8 trilhões em todo o mundo até 2030. Na América Latina, a projeção é de US$ 1 trilhão no período. Do valor total, energia fica com US$ 11,6 trilhões, exploração de petróleo com US$ 4 trilhões, gás com US$ 4,2 trilhões e a construção de navios com US$ 600 bilhões.

Segundo Willian Lynch, especialista do grupo Aon Risk, o setor de energia movimenta prêmios anuais de US$ 4 bilhões. A grande perda aconteceu em 2005, com a ocorrência de quatro furacões com intensidade elevada. Mas foi o Katrina que causou boa parte das perdas de US$ 20 bilhões registradas no Golfo do México nas plataformas de petróleo. O efeito foi a saída de várias seguradoras do ramo, aumento do preço do seguro e conseqüentemente a redução de capacidade de capital para segurar os riscos.

“Foi um momento difícil, mas as empresas conseguiram se recuperar rapidamente. Os ganhos obtidos em 2006 e 2007 foram suficientes para repor as perdas e por isso vemos agora um mercado com flexibilidade para negociações”, acrescenta. O lado positivo foi que o mercado melhorou bastante de 2005 para cá. “As petrolíferas aprimoraram seus processos de gerenciamento de risco, as seguradoras seguem uma política de subscrição mais estável e as parcerias se mostram em contratos de longo prazo”, diz.

Trata-se de um cenário excelente para clientes, com preço em baixa, capacidade em alta e muitos investimentos que necessitam de seguro para dar sustentabilidade aos projetos. Os investidores contam com um cenário de taxas de seguro de energia reduzida desde o ano passado em razão do excesso de oferta na capacidade de assumir riscos, além da forte competição. No entanto, a crise americana acendeu a luz amarela no mundo para este setor, que poderá sofrer com a perda de capacidade financeira de alguns investidores atropelados pelos prejuízos do subprime.

Também há uma apreensão mundial entre os executivos de seguros em razão do aumento do preço do petróleo, do aço, de materiais de construção de infra-estrutura, do custo de mão de obra e no fornecimento de equipamento. Tudo isso pode gerar aumento no custo de reposição, ou seja, da indenização a ser paga. Isso porque o contrato levou em consideração um custo “x” e como são apólices de longa duração, em média três anos, o custo pode passar a ser “x + y”.

No Brasil, a disputa por este segmento é grande. Os investimentos de R$ 275 bilhões previstos pelo governo brasileiro no Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) até 2010 para o setor de energia, que abrange geração, transmissão e distribuição, petróleo e gás, fez com que as seguradoras e resseguradoras criassem novas estruturas para atender a demanda de seguro que tais projetos demandam.

Pesquisas do setor mostram mais de 250 projetos de usinas para serem aprovados pela (Aneel) Agência Nacional de Energia Elétrica. São investimentos privados e também os que estão incluídos no PAC, que destina R$ 66 bilhões para projetos de geração de 12 mil megawatts, incluindo o do Rio Madeira, e R$ 12,4 bilhões em transmissão, com 13 mil quilômetros de linhas de transmissão, cuja apólice é considerada a maior do mundo, com garantias de US$ 2 bilhões obtidas pela Unibanco AIG.

O Brasil tem um tratamento diferenciado por não apresentar o risco político de seus vizinhos latinos. Entre as seguradoras estrangeiras que disputam o mercado local estão a AIG, sócia do Unibanco, a inglesa Royal & SunAlliance, a XL, sócia do Itaú, e o grupo alemão Allianz, maior seguradora do mundo em ramos elementares, e a ACE, das Bermudas. Segundo projeções da Royal, somente com energia alternativa a estimativa da matriz é de que os prêmios de seguros movimentem R$ 5 bilhões até 2015.

A construção de uma hidrelétrica, por exemplo, envolve dezenas de apólices para viabilizar e garantir o investimento, com custos estimados em 10% do valor total da obra. O seguro começa na garantia de que o investidor vai manter o valor da proposta apresentada no leilão até as perdas e danos quando o projeto estiver concluído. A Unibanco se dedica a elaboração do project finance, onde o seguro é apenas uma parte da estrutura do financiamento.

A estratégia das seguradoras é conquistar o cliente desde a apólice de garantia conhecida como performance bond, que assegura o valor ofertado no leilão, até que o projeto esteja em funcionamento. Essa estratégia cria maior valor ao investidor por vários motivos. A seguradora pode acompanhar cada etapa da obra, criando alternativas para que um acidente não acarrete atraso na entrega do empreendimento, o que evitará o acionamento do seguro garantia, por exemplo, que garante perdas causadas pelo não cumprimento do prazo.

*Matéria da autora divulgada na Gazeta Mercantil em abril de 2008