A disputa pelos investimentos de resseguradoras estrangeiras que deverão chegar ao Brasil a partir de 2008 é levada a sério por vários empresários. Menos pelos que realmente vão colocar a mão no bolso. Os executivos estrangeiros que entrevisto regularmente dizem que não há alterações em ficar em São Paulo, onde está a maioria da sede das seguradoras com as quais terão de negociar, ou no Rio, onde estão entidades como a Superintendência de Seguros Privados (Susep) e a futura Confederação Nacional de Seguros, Previdência e Capitalização, atual Fenaseg. Além do próprio IRB Brasil Re, que terá a preferência de 60% dos negócios nos primeiros três anos.
Agora para os governos do Rio ou de São Paulo a disputa é importante. Não porque irão abrigar no máximo 20 escritórios de resseguradoras, um setor enxuto, ou seja, com poucos funcionários e gastos mínimos em infra-estrutura. Apesar do valor de investimento ser modesto, acredita-se que o setor traz prestigio para a cidade. Ter um centro internacional de resseguros significa mostrar-se para o mundo. Atrair para a cidade com certa freqüência pessoas de outros países em viagem de negócios, investidores institucionais de primeiro mundo. Eles ficam apaixonados pelo Brasil. E também penalizados. Praticamente todas as resseguradoras e seguradoras têm projetos sociais no local onde estão instaladas.
Maria Silvia Tavares Bastos, presidente da Icatu Hartford e também vice-presidente da Associação Comercial do Rio de Janeiro (ACRJ), lidera o movimento “Rio Resseguro”. Segundo ela, há alguns mitos que precisam ser desfeitos, como, por exemplo, que São Paulo abriga as maiores empresas. Ela citou como exemplo Companhia Vale do Rio Doce, Petrobras, Nuclebrás e Eletrobrás e lembrou também que vários fundos de pensão, como Previ, Petros e Valia possuem sede na cidade e seriam potenciais clientes de resseguro. “O Rio tem praticamente 50% de todo o volume de resseguro do País”.
Mas ainda não tem vôos internacionais diretos com freqüência, o que traz um certo desconforto para os executivos e até mesmo aumenta o risco, por terem de voarem um trecho maior em território brasileiro. “Isso já está sendo resolvido”, refuta Maria Silvia. O Rio oferece mais qualidade de vida. Na verdade, para o estrangeiro, o Brasil oferece mais qualidade de vida, por um custo menor. Vários estrangeiros que vieram morar aqui não querem voltar mais.
Lembro de Alfredo Larrea, que presidiu a Mapfre e desde que deixou o cargo atua como consultor. Jean Paul, ex-presidente da Swiss Re, seguiu o mesmo caminho. Thad Burr, que comandou a MetLife. Sua esposa e os três filhos (o quarto está a caminho), não quiseram deixar o Brasil e ele buscou uma colocação aqui. Comanda a área de vida da ACE na América Latina. Bem, todos esses moram em São Paulo. Mas têm os apaixonados pelo Rio. Dinand Blom, presidente da Royal & SunAlliance, por exemplo, teve de mudar a sede da companhia para São Paulo totalmente a contra gosto.
Um caso prático. Lorde Levene, presidente do Lloyd’s of London, foi muito bem tratado quando esteve no País. Justiça seja feita, foi realmente “mimado” no Rio. Até mesmo batedores o governador Sérgio Cabral Filho disponibilizou para o executivo. Além de um belíssimo jantar no Palácio Laranjeiras, sede do governo carioca. Já a iniciativa privada o recebeu no Hotel Copacabana Palace.
Em São Paulo, realmente uma cidade mais neurótica do que o Rio em razão de seu tamanho e quantidade de riqueza que produz ao País (só em seguro SP representa mais de 50% dos prêmios), Levene ficou extremamente irritado. Não só porque estava longe do clima do mar, o que induz ao relaxamento físico e espiritual. Logo que chegou à capital paulista foi informado das regras de abertura de resseguros colocadas em audiência pública pela Susep, com normas bem diferentes daquelas discutidas com o governo. Também enfrentou os tradicionais congestionamentos da cidade e aguardou um tempo extra para entrar no avião e depois para decolar.
Na verdade, o que importa mesmo é fazer bons investimentos. Seja na qualidade de vida, nos relacionamentos, na família, nos amigos. Mas se o negócio não for rentável, o acionista não colocará mais dinheiro na operação. Por isso, a decisão para onde irá o investimento será tomada com base nos custos. E se não for, com certamente o executivo ficará pouco tempo na empresa. Mas fará esforços para ficar no Brasil e poder morar um uma bela residência, desfrutar de bons amigos reunidos em uma casa de veraneio seja na montanha ou na praia, ter vários empregados e poder viajar para lugares belíssimos sem grandes riscos, tendo a seu favor um clima abençoado por Deus.
*Articulista da Revista Apólice