Coface aponta impactos da guerra tarifária entre EUA e China para Brasil e América Latina

Webinar promovido pela Coface destaca como a desaceleração global e a estratégia da China reconfiguram o comércio internacional e afetam a economia da América Latina

Fonte: Coface

Coface Brasil realizou ontem (26/06) o webinar “Entre tarifas e alianças: como a América Latina pode crescer em meio ao impasse comercial EUA x China?”, com a participação da economista-chefe para a América Latina, Patricia Krause, e do chefe de estudos macroeconômicos, Bruno de Moura Fernandes. Os especialistas da Coface traçaram o cenário econômico global, enfatizando que a guerra tarifária imposta pelo atual governo dos EUA é um fator decisivo para o redirecionamento das cadeias de suprimento e para a relação estratégica da China com Brasil e América Latina.

De Moura Fernandes destacou que o embate comercial entre EUA e China impacta diretamente o crescimento global. Segundo projeções da Coface, o Produto Interno Bruto (PIB) mundial crescerá a taxas moderadas de 2,2% em 2025 e 2,3% em 2026, refletindo a desaceleração tanto das economias avançadas quanto das emergentes. “Esse ritmo mais lento ocorre também em meio a desafios internos na China, como a menor expansão do mercado imobiliário e o excesso de capacidade produção em muitos setores industriais”, disse.

Segundo o economista da Coface, ao mesmo tempo em o país asiático enfrenta um excesso de capacidades em indústrias importantes para o seu crescimento, como a automotiva, de equipamentos de transporte, farmacêutica, alimentos e eletrônicos, há consumo interno lento e quedas acentuadas nos preços industriais. Além disso, os preços imobiliários seguem muito abaixo dos níveis de 2021, afetando a riqueza doméstica.

“Eles precisam exportar e exportar a qualquer preço para alcançar seus objetivos de crescimento. Em 2018, quando os EUA também aumentaram suas tarifas, a América do Norte era o primeiro mercado para os produtos chineses, com cerca de 20% de participação, e agora é o terceiro ou quarto.”  No entanto, prossegue o economista, a China continuou comercializando muito, compensando essa perda com vendas maiores para outros países na Ásia, África e ainda América Latina.

“Se a China perder ainda mais espaço nos Estados Unidos, ela continuará a buscar outros destinos. E a América Latina, como importante fornecedora de commodities e compradora de bens chineses, viverá essa disputa”, analisou. Fernandes reforçou que as tarifas elevadas entre as duas potências já distorcem setores como os de tecnologia, têxtil e metalurgia, e que a América Latina precisa se preparar para maior pressão competitiva.

Expansão menor na AL

Patricia Krause detalhou os impactos regionais da disputa tarifária e do reposicionamento chinês na desaceleração regional, apontando que a América Latina terá crescimento médio próximo a 2,1% este ano, percentual semelhante ao global, mas heterogêneo entre os países. O Brasil, maior economia da América Latina, atravessa um momento de desafios e oportunidades em meio ao cenário econômico global, disse a economista.

Conforme Krause, com uma projeção de crescimento revisada pela Coface para cima em 2025, ficando em 2,3%, o país demonstra resiliência, impulsionado por setores estratégicos, como o agronegócio, além do consumo robusto das famílias. No entanto, enfrenta condições de crédito mais restritivas que devem impactar a atividade econômica nos próximos trimestres, diante do aumento da taxa básica de juros. “Mas o México, muito atrelado aos EUA, é o país mais vulnerável. Já o Brasil e a Argentina, por exemplo, têm oportunidades em setores como o agro para ocupar espaços que antes eram dos Estados Unidos no mercado chinês”, ponderou a economista.

Embora os EUA continuem sendo o principal destino das exportações regionais, nos últimos dez anos o comércio com a China cresceu substancialmente, em comparação a período igual e imediatamente anterior, pontuou Krause, acrescentando que as importações de produtos do país asiático também cresceram em medida relevante. Nesse contexto, a guerra comercial pode pressionar setores importantes, como o siderúrgico, uma vez que a China já envia para a América Latina 13% do total de aço que vende no exterior. “Por isso, muitos países tendem a adotar medidas protetivas para as suas indústrias em diversos setores.”

Além da importante relação comercial entre a China e a América Latina, observa-se também o interesse do país asiático em investir mais na região, em áreas de seu interesse, como tecnologia, infraestrutura, telecomunicações, automotivo e energia, além dos acordos de swap cambial.  

“Dados do Global Development Policy Center apontam que os investimentos em projetos greenfilds na região subiram de US$ 5,8 bilhões, entre 2008 e 2011, para algo em torno de US$ 21 bilhões, entre 2020 e 2023. Em termos de infraestrutura portuária, por exemplo, no ano passado, concluíram o porto de Chancay, no Peru, um hub importante comercial ligando a América do Sul à Ásia, o que pode reduzir o tempo e os custos de navegação”, exemplificou Krause.

Os executivos da Coface enfatizaram que o ambiente de guerra comercial e as tensões geopolíticas seguirão impondo às empresas a necessidade de diversificarem mercados e ajustarem suas cadeias logísticas, observando que o momento exige das empresas uma estratégia de antecipação e flexibilidade. “Num cenário global instável, a capacidade de reagir rápido às novas condições comerciais será um fator competitivo decisivo para empresas da América Latina”, concluiu Krause. 

Mitigando riscos comerciais em um cenário global desafiador

O cenário econômico global cada vez mais volátil eleva a percepção de risco entre empresas e gestores. Nesse ambiente, surge o dilema entre restringir a concessão de crédito para proteger o caixa e a necessidade estratégica de ampliar — ou ao menos manter — a base de clientes e o portfólio, assegurando a sustentabilidade do negócio.

O seguro de crédito, oferecido por empresas especializadas como a Coface, é uma solução para atenuar essas incertezas. Por meio dele, a empresa segurada tem seus recebíveis garantidos contra perdas decorrentes da incapacidade do devedor em honrar suas obrigações, protegendo o fluxo de caixa e permitindo que a empresa mantenha suas operações e seu crescimento, mesmo em um ambiente global marcado por tensões comerciais e riscos geopolíticos.

Denise Bueno
Denise Buenohttp://www.sonhoseguro.com.br/
Denise Bueno sempre atuou na área de jornalismo econômico. Desde agosto de 2008 atua como jornalista freelancer, escrevendo matérias sobre finanças para cadernos especiais produzidos pelo jornal Valor Econômico, bem como para revistas como Época, Veja, Você S/A, Valor Financeiro, Valor 1000, Fiesp, ACSP, Revista de Seguros (CNSeg) entre outras publicações. É colunista do InfoMoney e do SindSeg-SP. Foi articulista da Revista Apólice. Escreveu artigos diariamente sobre seguros, resseguros, previdência e capitalização entre 1992 até agosto de 2008 para o jornal econômico Gazeta Mercantil. Recebeu, por 12 vezes, o prêmio de melhor jornalista de seguro em concursos diversos do setor e da grande mídia.

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