MAPFRE discute o papel do mercado segurador na prevenção de riscos na aviação

Seminário reuniu autoridades do CENIPA, especialistas do setor e marcou o lançamento da plataforma digital MAPFRE Air, voltada para corretores de seguros

Fonte: Mapfre

Com foco em ampliar o debate sobre segurança operacional na aviação civil brasileira, a MAPFRE realizou nesta terça-feira (13/05), em sua sede na capital paulista, o “1º Seminário MAPFRE de Segurança nas Operações Aéreas”. O evento reuniu autoridades, especialistas e representantes do setor segurador em uma manhã de paineis temáticos e troca de experiências, com transmissão ao vivo para todo o país.

A abertura contou com a presença do major-brigadeiro Marcelo Moreno, chefe do CENIPA (Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos), que destacou a posição do Brasil como um dos únicos países com 100% de conformidade com os protocolos internacionais de investigação de acidentes, ao lado da França. “Nosso papel não é apontar culpados, mas entender os fatores que contribuem para os acidentes e, com isso, propor medidas eficazes de prevenção”, afirmou. Moreno também reforçou a importância da formação contínua, destacando que mais de seis mil profissionais passam anualmente pelos cursos do CENIPA.

Carlos Eduardo Polizio, superintendente de seguro aéreo, casco e transporte da MAPFRE e moderador do seminário, destacou que o setor de seguros tem um papel decisivo na construção de uma aviação mais segura. “A prevenção precisa estar no centro das operações. As exigências contratuais e os critérios técnicos que adotamos são parte ativa desse processo”, disse.

O seminário foi dividido em quatro paineis, cada um dedicado a um segmento da aviação (executiva, agrícola e comercial) e outro sobre seguros e resseguros, com debates que mostraram como a segurança é um tema transversal, que atravessa desde o hangar até o cockpit e que depende, acima de tudo, de cultura, disciplina e formação.

Um alerta sobre o fator humano

O primeiro painel abordou os desafios da aviação geral executiva, setor que, nos primeiros meses de 2025, já registrou 52 acidentes e com 21 vítimas fatais. O debate focou nos fatores humanos e operacionais como causas predominantes. Para Luiz Bohrer, da assessoria de treinamentos Air Safety, a mudança no perfil dos pilotos e a falta de apoio nas decisões, especialmente em voos solo, contribuem para o aumento do risco. “Muitos tomam decisões sem apoio ouorientação, o que aumenta significativamente o risco”, observou. 

Domingos Afonso, da empresa de táxi aéreo Helimarte, alertou para a necessidade de processos de comunicação mesmo em operações remotas. Já o engenheiro aeronáutico Diniz Gonçalvez, da empresa de regulação de sinistrosG&R, lembrou que muitos acidentes envolvem pilotos experientes, mas não necessariamente atualizados ou treinados, e que o simulador, nesse cenário, deveria ser uma ferramenta obrigatória. Fechando o painel, Raul Marinho, da Associação Brasileira de Aviação Geral (ABAG), alertou que embora o número de acidentes não esteja subindo, ele permanece em patamar elevado, o que atrai cada vez mais restrições regulatórias. “Menos acidentes significariam menos restrições regulatórias. É um círculo que precisamos quebrar”, afirmou.

Aviação agrícola: entre o crescimento e o risco

O segundo painel mergulhou na aviação agrícola, um setor que cresce junto com o agronegócio brasileiro e que, justamente por isso, enfrenta novos desafios. Apesar do aumento no número de treinamentos e da expansão da frota, os dados não são animadores: em 2024, o número de acidentes subiu 30% em relação ao ano anterior, com um aumento expressivo nas fatalidades.

Fernando Celestrino, da empresa de regulação de sinistros, McLarens, apontou para a falta de planejamento como um dos fatores recorrentes nos sinistros. “Ainda vemos pilotos que, com excesso de confiança, subestimam o cálculo de combustível ou da carga de pulverização”, afirmou. Luiz Fabiano, da Aeroglobo, empresa vendedora de aeronaves e centro de formação de pilotos, reconheceu o avanço nas iniciativas de formação, mas destacou que o fator humano segue como principal ponto de atenção. Já Thiago Magalhães, do Sindicato Nacional das Empresas de Aviação Agrícola (SINDAG), foi direto ao falar sobre a raiz do problema: “Sem uma cultura de segurança forte, que envolva pilotos, mecânicos e empresários, nenhum treinamento é suficiente. Segurança não pode ser arrogância. É rotina, é processo”, resumiu. 

A diferença entre reagir e estar preparado 

Na sequência, o painel dedicado à aviação comercial regular abordou um tema que muitas vezes só ganha destaque após os grandes incidentes: o preparo para lidar com emergências. Em um mundo hiperconectado e de exposição instantânea, uma resposta lenta ou mal coordenada pode custar muito, tanto em vidas, quanto em reputações e recursos.

Maurício Pontes, da C5i Consultoria, ressaltou que cumprir regras não é o mesmo que estar pronto. “Preparação real exige treino, estrutura e capacidade de continuidade após o impacto”, disse. Julio Costa, do escritório de advocacia HFW/CAR, complementou com uma visão jurídica e regulatória. Segundo ele, o mercado segurador tem enfrentado desafios cada vez mais complexos, desde a pejotização dos tripulantes até questões ligadas à exposição nas redes sociais e aos novos formatos familiares que influenciam diretamente nas indenizações. “Os riscos mudaram, e o seguro precisa acompanhar essa transformação”.

O papel do mercado segurador 

Encerrando o seminário, o quarto painel reuniu representantes do setor segurador e ressegurador para discutir como a prevenção pode começar já no momento da cotação. Gabriella Bonilha, da Vokan corretora, falou sobre a importância de traduzir exigências técnicas para o cliente de forma clara e acessível. “Muitos pilotos não entendem por que certos documentos são solicitados. Cabe a nós mostrar que tudo isso é sobre segurança, não burocracia”, disse.

Alexandre Marroquim, da corretora Alper, compartilhou a experiência de sua corretora e oficina de manutenção, destacando que a cultura do “jeitinho” está em declínio. “Quem voa hoje já entende que não dá para economizar em manutenção ou pular etapas de treinamento”. Daniel Fraga, da Dancor corretora, trouxe o olhar das regiões fora do eixo Rio-SP, onde a escassez de mão de obra qualificada e de acesso a treinamentos ainda são barreiras. Felipe Aragão, da Latin RE, sintetizou o debate com os “4 Cs” que norteiam a atuação em prevenção: cultura, confiança, continuidade e comunicação.

Lançamento do ‘MAPFRE Air’

Para fechar o evento, a MAPFRE apresentou duas novas soluções voltadas à aviação executiva e ao trabalho dos corretores.  A principal novidade foi o lançamento oficial do MAPFRE Air, uma plataforma digital desenvolvida para modernizar e simplificar a jornada de contratação de seguros aeronáuticos na aviação geral.

Pensada para ser uma solução ponta a ponta, o MAPFRE Air reúne, em um único ambiente, todas as etapas do processo de seguro: desde a tramitação das informações do negócio até a cotação, elaboração de propostas, geração de certificados e emissão online das apólices. A plataforma foi desenhada para oferecer mais agilidade, segurança e praticidade ao corretor de seguros, com ganho direto de produtividade e redução de erros operacionais. 

O primeiro produto disponível na plataforma será o que contempla cobertura para aeronaves de pequeno e médio porte, incluindo helicópteros, turboélices, jatos executivos e operações de táxi aéreo. Com foco nesse segmento, a seguradora pretende atender um mercado que cresce em volume e complexidade, exigindo processos mais ágeis e soluções cada vez mais alinhadas ao perfil dos novos operadores.

No evento também foi apresentado o novo portal de gerenciamento de riscos, voltado a operadores e gestores de hangares. A plataforma reúne conteúdos técnicos, manuais e boas práticas de prevenção, funcionando como uma base de consulta para quem atua na linha de frente das operações aéreas.

Denise Bueno
Denise Buenohttp://www.sonhoseguro.com.br/
Denise Bueno sempre atuou na área de jornalismo econômico. Desde agosto de 2008 atua como jornalista freelancer, escrevendo matérias sobre finanças para cadernos especiais produzidos pelo jornal Valor Econômico, bem como para revistas como Época, Veja, Você S/A, Valor Financeiro, Valor 1000, Fiesp, ACSP, Revista de Seguros (CNSeg) entre outras publicações. É colunista do InfoMoney e do SindSeg-SP. Foi articulista da Revista Apólice. Escreveu artigos diariamente sobre seguros, resseguros, previdência e capitalização entre 1992 até agosto de 2008 para o jornal econômico Gazeta Mercantil. Recebeu, por 12 vezes, o prêmio de melhor jornalista de seguro em concursos diversos do setor e da grande mídia.

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