Por Guilherme Perondi Neto, presidente e CEO da Swiss Re Corporate Solutions Brasil
Acompanhei discussões relevantes sobre os desdobramentos das recentes tensões tarifárias em nível global, com origem em mudanças nas políticas comerciais dos Estados Unidos. Essas medidas já causaram impactos significativos nos fluxos econômicos internacionais, promovendo incertezas que afetam diretamente tanto grandes multinacionais — com cadeias de suprimento amplamente globalizadas — quanto pequenas e médias empresas, que tendem a ser mais vulneráveis a ciclos econômicos instáveis.
A América Latina foi menos impactada por tarifas (recíprocas). No entanto, a região não escapará dos impactos de curto prazo decorrentes de menores volumes de exportação, potenciais interrupções nas cadeias de suprimentos e maior volatilidade nos mercados financeiros.
Executivos do setor de seguros e resseguros, com quem tenho dialogado, compartilham uma visão semelhante: há preocupação crescente com os efeitos indiretos dessas tarifas sobre os mercados da América Latina, incluindo o Brasil. Embora não se trate necessariamente de um cenário negativo, a avaliação é de que o momento exige atenção redobrada e respostas estratégicas — especialmente para os players que atuam em mercados internacionais.
A leitura mais comum é de um otimismo cauteloso. Por um lado, a economia brasileira pode se beneficiar ao ocupar espaços deixados por mudanças no comércio global. Por outro, é essencial acompanhar de perto a condução da política econômica interna e como o país irá navegar esse novo cenário internacional.
O interesse segue constante no Brasil, pelo histórico de bom desempenho da indústria nos últimos anos e o fato de que – continuamos – com alto potencial de aumento da penetração dos seguros no orçamento das pessoas e das empresas.
A distribuição, incluindo corretores de seguro e resseguro e novos veículos como MGAs, segue bem animada, com corretores buscando oportunidades de compra e/ou sendo aproximados para parcerias estratégias e fusões. Com certeza o ambiente de fusão e aquisição vai continuar aquecido nos próximos meses.
Ainda sobre o mercado brasileiro, temos muitas companhias com operações no exterior e há interesse crescente em avaliar programas internacionais de seguros, sejam regionais na América Latina ou em mais de um continente.
O mercado nacional se movimenta também rumo às soluções mais estruturadas seja pelo interesse em analisar a viabilidade de cativas de seguro ou em combinar produtos paramétricos com programas tradicionais de seguros. Ainda que a adoção dessas soluções seja limitada no Brasil, o simples fato de mais profissionais estarem buscando esse conhecimento é um bom sinal para o nosso setor, já que essas ferramentas são amplamente utilizadas em outros mercados.
Em escala global, relatórios e estudos sobre o setor indicam que os preços de seguro tendem a ficar estáveis na média, com alguns mercados ou segmentos apresentando alguma redução -– onde houver mais capacidade disponível – e outros ainda com aumento – onde eventos climáticos impactam o setor de forma mais ampla – como por exemplo, os recentes incêndios na California, ou a enchente, no Rio Grande do Sul, no Brasil.
A resposta das companhias a esse momento do ciclo tem oscilado entre buscar eventual redução de preço e aproveitar a oportunidade de mais capacidade disponível e fortalecer seus programas de seguro, aumentando por exemplo seus níveis de cobertura e comprando mais proteção sem onerar seus orçamentos anuais de seguro.
Nesse momento, o diálogo entre seguradores, corretores e clientes tem sido intenso e produtivo, pois essas possiblidades abrem espaço para revisões e boas conversas sobre os programas de seguro vigentes e perspectivas para as renovações.
Por fim, não parece que haverá um impacto de grande dimensão no setor considerando o cenário macroeconômico global, até porque grandes empresas têm programas de gestão de riscos maduros com o seguro tendo sempre papel estratégico e relevante, mantendo de alguma maneira estável a decisão de compra de proteção. Os próximos meses vão deixar mais claro o nível do impacto na indústria.