Aprimorar dados e modelagem de “riscos fora de picos” é uma virada de jogo necessária no setor de seguros, aponta relatório

Estudo da Guy Carpenter também mostra que a crescente frequência de catástrofes naturais provocará aumentos nos custos devido à grande procura por materiais para reconstrução após eventos de destruição

Fonte: Guy

Embora as seguradoras e resseguradoras tenham reportado perdas recordes relacionadas com catástrofes desde 2017, muitas delas ocorreram devido a eventos de riscos menores e fora dos picos. Nos últimos 5 anos, os riscos de picos, como ciclones e terremotos, foram responsáveis por menos da metade das perdas seguradas, enquanto os riscos fora de picos, como tempestades, invernos severos, incêndios florestais e inundações, tornaram-se o fator secundário para o agregado anual de perdas catastróficas. É o que aponta o recente relatório global Beginning of a new era—impact of global issues in (re)insurance da Guy Carpenter, divisão de resseguros da Marsh McLennan.

“A frequência crescente de desastres naturais de maior magnitude num contexto de mercado em baixa, com taxa de juros em alta criou um ambiente de endurecimento nos preços e as resseguradoras revisaram as suas estratégias de subscrição de riscos. Elas estão muito mais seletivas”, avalia Pedro Farme, CEO da Guy Carpenter no Brasil.

“Os resseguradores devem então se concentrar na melhoria do lucro de subscrição, a fim de minimizar o impacto negativo nos lucros e no capital devido à queda nos retornos dos investimentos. Isto é especialmente importante, uma vez que os resseguradores são mais suscetíveis a perdas por catástrofes naturais, tendo em conta o aumento do risco climático”, ressalta o executivo.

O relatório mostra também que a crescente frequência de catástrofes naturais provocará aumentos nos custos devido à grande procura por materiais para reconstrução após um evento de destruição. A inflação econômica e social aumentará os pressupostos de custos utilizados pelas seguradoras e resseguradoras nas suas estratégias de provisionamento de reservas e de preços.

“Esses impactos refletirão significativamente nos seguros e resseguros com grandes sinistros (exposição à cauda longa). Isso levará seguradoras e resseguradoras a reverem os seus apetites de subscrição e a serem mais rigorosas na atribuição de capacidade”, explica.

Ainda de acordo com o relatório, à medida que as seguradoras aumentam a sua retenção, elas esperam reter todas as perdas catastróficas com períodos de retorno mais baixos anteriormente cedidas às resseguradoras. No entanto, tendo em conta o aumento do risco climático, o aumento da ocorrência de eventos de risco fora dos picos poderia deixar as seguradoras mais suscetíveis a uma maior retenção de perdas por catástrofes.

“Sem movimentos adequados de taxas e uma seleção condizente de riscos nos processos de subscrição, pode potencialmente pôr em risco o capital das seguradoras. Reter mais riscos também é capaz de limitar a capacidade de uma seguradora de procurar oportunidades de crescimento, uma vez que poderá ser necessário mais capital para apoiar uma maior exposição ao risco relacionado a catástrofes”, diz Farme. 

Modelagem de riscos climáticos 

De acordo com o Relatório de Riscos Globais 2023, publicado pelo Fórum Económico Mundial em colaboração com Marsh McLennan e a seguradora Zurich, a maioria dos riscos futuros são de natureza ambiental, o que pode levar a sinistros de seguros maiores e mais frequentes.

Ao reavaliar o impacto das alterações de retenção na exposição retida global, as seguradoras devem considerar os cenários de risco climático e como estes podem aumentar o capital de risco necessário. 

As seguradoras e resseguradoras atualmente contam com modelos de catástrofe desenvolvidos internamente ou desenvolvidos pelos fornecedores para simular perdas prováveis para eventos naturais prescritos. No entanto, os modelos de catástrofe sobre riscos fora dos picos, como inundações, tempestades, invernos rigorosos, calor extremo e incêndios florestais, carecem de modelos de fornecedores credíveis para avaliar riscos e perdas relevantes.

“Aprimorar dados e capacidade de modelagem será uma virada de jogo necessária”, afirma o CEO da Guy Carpenter.

Denise Bueno
Denise Buenohttp://www.sonhoseguro.com.br/
Denise Bueno sempre atuou na área de jornalismo econômico. Desde agosto de 2008 atua como jornalista freelancer, escrevendo matérias sobre finanças para cadernos especiais produzidos pelo jornal Valor Econômico, bem como para revistas como Época, Veja, Você S/A, Valor Financeiro, Valor 1000, Fiesp, ACSP, Revista de Seguros (CNSeg) entre outras publicações. É colunista do InfoMoney e do SindSeg-SP. Foi articulista da Revista Apólice. Escreveu artigos diariamente sobre seguros, resseguros, previdência e capitalização entre 1992 até agosto de 2008 para o jornal econômico Gazeta Mercantil. Recebeu, por 12 vezes, o prêmio de melhor jornalista de seguro em concursos diversos do setor e da grande mídia.

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