Artigo: A Susep precisa de ajuda. E só as seguradoras podem salvar 

Em busca do aumento de transparência para todas as operações de seguros, o setor precisar agir e garantir as melhores condições para a construção de uma plataforma integrada antes que um monopólio se apodere dos dados

ATUALIZAÇÃO em 5 de novembro de 2022:

Em relação a citação do autor deste artigo sobre a oferta dos seguros citados, a Confederação Nacional das Seguradoras (CNseg) esclarece que atualmente 27 seguradoras comercializam o seguro D&O (Directors and Officers Liability Insurance) e 12 empresas oferecem os riscos cibernéticos (Cyber Security), segundo dados divulgados pela Superintendência de Seguros Privados (Susep), órgão oficial de regulação e fiscalização do setor.

Por Edivar Queiroz Filho*

O mercado de seguros tem crescido e se aprimorado, independentemente de quem esteja à frente da Superintendência de Seguros Privados (Susep). E, mais importante, a sociedade deveria olhar com atenção para esse segmento, pois é ele que toma riscos em nosso nome, protege nossas casas, carros, instalações industriais etc.

É evidente que o mercado precisa evoluir: as reformas realizadas pelas duas recentes administrações da Susep devem continuar. Apesar de representar 3,5% PIB, existe muito espaço a ser conquistado. Por exemplo, o mercado oferece poucas opções quando falamos de seguros mais sofisticados. É o caso do D&O ou do Cyber Security, duas modalidades restritas a uma opção para o segurado. 

Essa escassez de oferta é ruim, pois, quando há concorrência, o mercado se torna mais saudável, eficiente e beneficia toda a sociedade. Como a Susep deve estimular o mercado para servir a sociedade, é uma questão que cabe a autarquia analisar.

Como iniciativa para essa evolução, o Conselho Nacional de Seguros Privados (CNSP), por meio da Resolução CNSP nº 383, de 2020, instituiu o Sistema de Registro de Operações (SRO) e introduziu a figura das entidades registradoras. Com a Circular SUSEP nº 599, também de 2020, a Susep definiu, como um dos requisitos mínimos para credenciamento dessas registradoras, a observação dos Princípios para Infraestruturas do Mercado Financeiro (PFMI), que regulamentam as infraestruturas do mercado financeiro (IMFs) no mundo todo.

As registradoras são entidades já conhecidas do Banco Central (Bacen) e da Comissão de Valores Mobiliários (CVM) e sua função social, conforme os PFMI, tem, basicamente, dois objetivos: prover transparência das transações registradas para o público e reguladores; e evitar abusos. Em resumo, as registradoras são entidades que deveriam auxiliar na supervisão do mercado, por meio da análise dos dados de construção das apólices pelas seguradoras.

É importante salientar que essa missão difere de forma fundamental de uma atuação da registradora como hub de informação. Esses hubs utilizam algoritmos para identificar padrões de comportamento, a partir dos dados registrados das apólices, para impulsionar as vendas, inclusive para seus clientes, que são entidades supervisionadas pela Susep. 

É evidente que isso gera um conflito com a missão das registradoras. Caso uma operação registrada de um grande cliente de um hub seja passível de supervisão, o report da registradora para a Susep poderia gerar um problema comercial. Por esse motivo, esses dados deveriam ser utilizados estritamente de acordo com a missão das registradoras, sem espaço para enriquecimento ou qualquer outra forma de negociação de dados.

Recentemente, a Confederação Nacional das Seguradoras (CNseg) fez uma crítica ao SRO pedindo seu adiamento. A crítica procede em vários aspectos, dentre os quais destaco a falta de padronização dos dados e a falta de conhecimento de seguros por parte das registradoras.

As duas críticas, na verdade, têm causa única: a falta clara de especificações técnicas dos ramos, considerando o que deveria ser obrigatório e como os dados das apólices deveriam ser armazenados nos sistemas internos das seguradoras. 

Comparando minha experiência de mais de 25 anos com o sistema financeiro e de quatro anos no segmento de seguros, garanto que o setor está defasado na parte de sistemas e controles em comparação com o sistema financeiro. Isso não poderia acontecer, dada a importância e relevância do segmento segurador para a sociedade.

Em seus normativos, a Susep estabeleceu que as registradoras são responsáveis pelo desenvolvimento, atualização e operação da base de dados centralizada (Plataforma Integrada) do SRO, que armazenará as informações de todas as operações de seguros, previdência complementar aberta, capitalização e resseguros, com seu custo dividido entre todas.

A base não pertence à Susep, pertence às registradoras. Imagine que, por competência, dumping comercial ou por outra razão, tenhamos em algum momento somente uma registradora como dona da Plataforma Integrada. Isso não seria bom para a sociedade, que não se beneficia do monopólio; as seguradoras terão seus dados e sua continuidade nas mãos de apenas uma registradora; e a Susep estaria refém dessa registradora, que poderia dificultar melhorias do sistema, em um potencial desalinhamento com o interesse público.

A ideia de o SRO ser custeado pelas registradoras está no fato que a Susep não tem verba para esse fim. Ora, como pode a autarquia que regula um setor tão relevante econômica e socialmente não ter verba suficiente para construir sua própria base de dados para fiscalização, que resolveria todos os problemas apresentados acima?

Está mais do que claro que a Susep carece e merece essa dotação! Precisamos, como sociedade e como seguradoras, conceder à Susep recursos para que possa aumentar seu quadro técnico; investir na qualificação de seu pessoal; e ter a propriedade de suas ferramentas.

No caso específico do SRO, estimo que essa contribuição seria de aproximadamente R$ 1.000 por mês, por seguradora, em um modelo simples! Esse valor irrisório deveria ser cobrado das seguradoras, via taxa de fiscalização, para seu próprio bem, garantindo melhores condições e manutenção da independência de seu órgão fiscalizador. Se dobrarmos o valor, já teríamos o suficiente para um aumento de quadro e investimento em qualificação. 

Acredito que com medidas simples e gestão resolveríamos muito, e poderíamos criar um mercado muito maior, mais dinâmico e mais inclusivo para a sociedade como um todo.

*Edivar Queiroz Filho é CEO da CSD BR, uma registradora de ativos financeiros autorizada por Bacen, CVM e Susep que utiliza tecnologia de ponta para simplificar transações complexas e aumentar a transparência e a eficiência operacional gerando redução de custos para os participantes do mercado.

Denise Bueno
Denise Buenohttp://www.sonhoseguro.com.br/
Denise Bueno sempre atuou na área de jornalismo econômico. Desde agosto de 2008 atua como jornalista freelancer, escrevendo matérias sobre finanças para cadernos especiais produzidos pelo jornal Valor Econômico, bem como para revistas como Época, Veja, Você S/A, Valor Financeiro, Valor 1000, Fiesp, ACSP, Revista de Seguros (CNSeg) entre outras publicações. É colunista do InfoMoney e do SindSeg-SP. Foi articulista da Revista Apólice. Escreveu artigos diariamente sobre seguros, resseguros, previdência e capitalização entre 1992 até agosto de 2008 para o jornal econômico Gazeta Mercantil. Recebeu, por 12 vezes, o prêmio de melhor jornalista de seguro em concursos diversos do setor e da grande mídia.

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