Rodrigo Avila, atual vice-presidente da Associação Brasileira de Gerenciamento de Riscos (ABGR) e novo presidente a partir de 2020, conversou com o blog Sonho Seguro sobre tendências do seguros para grandes corporações. Ele traz uma visão clara sobre o setor, uma vez que que administra um dos maiores programas de seguros do Brasil como gestor de risco da Suzano, a maior produtora global de celulose de eucalipto e uma das 10 maiores de celulose de mercado, além de líder mundial no mercado de papel, com cerca de 60 marcas. Leia a entrevista:
Que tendências você vê na compra de seguros no Brasil?
Destaco o especial crescimento nos produtos voltados aos riscos ambientais, que já se consolidou no mercado, e cibernéticos, um movimento que começou há 3 anos e que deve se expandir no médio prazo.
E no mundo? Afinal o risco de grandes empresas está globalizado e requer pulverização no mercado mundial.
Quando olhamos para um cenário global, ambos os riscos destacados já se encontram bastante disseminados no mercado, especialmente nas grandes empresas. Para o Cyber em especifico, a grande quantidade de sequestro de informações e ataques de sistemas o colocou como um dos principais riscos globais na visão dos empresários, de acordo com um levantamento realizado pelo Fórum Econômico Mundial. E a medida que se aumenta a preocupação com o risco, o movimento de transferência através de uma apólice de seguro se dá como uma importante solução.
Qual a estrutura de gerenciamento de risco nas empresas?
Empresas de grande porte geralmente possuem times específicos que atuam na gestão dos riscos. Esses times costumam ter bastante autonomia e estão ligados ao CFO ou até diretamente ao CEO da empresa. Isso já não se vê em empresas de médio e pequeno porte, onde a função de gestão dos riscos acaba que ficando diretamente ligada ao responsável pela empresa. No entanto, em alguns casos, essa função acaba até sendo negligenciada pelo empresário, algo mais ligado a falta de conhecimento sobre o tema do que falta de interesse.
Corretores, seguradoras e resseguradoras têm ofertado ajuda na consultoria de gerenciamento de risco?
No caso do corretor, ele acaba sendo um suporte fundamental para as empresas a medida que os gestores/empresários não conseguem ter o conhecimento sobre todos os riscos que a empresa esteja exposta. Entendo que o corretor é a figura que deve trazer o conhecimento de mercado bem como as soluções de seguros disponíveis. É o corretor que tem a capacidade de suprir essa dificuldade das empresas. Já as seguradoras e resseguradoras passam a ser importantes quando das suas visitas aos locais dos clientes e consequente emissão de relatórios de recomendações de melhorias de riscos. Isso é um processo frequente na aquisição de seguros de propriedade. De posse desse relatório o gestor toma conhecimento das medidas de proteção necessárias para mitigar seus riscos. Nesse momento vejo que o corretor volta a ser importante dado que ele pode auxiliar o empresário na estruturação e montagem do devido plano de ação.
Qual a importância da inovação nos programas de seguros, em termos de mudança de risco?
A inovação na gestão de riscos é algo fundamental para as empresas e o gestor precisa estar conectado com as soluções que surgem constantemente no mercado. Por exemplo: boa parte dos riscos de uma empresa se encontra na maneira de gerir os seus próprios processos diários. Nesse cenário, o gestor precisa encontrar quais são as aplicações e sistemas que possam tanto atuar na simplificação dos seus processos, bem como seja uma ferramenta de monitoramento e redução dos seus riscos.
As seguradoras tem ofertado novos seguros para novos riscos?
Acredito que o principal exemplo seja o produto de Riscos Cibernéticos. Esse produto tem tanto a função de ressarcir o empresário de eventual perda, bem como carrega um pacote de serviços úteis a empresa seja pós ou até durante o evento de sinistro, por exemplo: há uma cobertura no produto que envolve a colocação de um especialista em negociação com o sequestrador dos dados, função essa que dificilmente poderia ser realizada pelo cliente.
O uso de Inteligência Artificial e Internet das Coisas tem ajudado a criar soluções de transferência de riscos, com a criação de um banco de dados estatísticos que pode melhorar as negociações do programa de seguros?
A adequada gestão dos riscos de uma empresa passa pelo efetivo controle e monitoramento das suas informações e dados. Pode se citar exemplos como: controle de falhas sistêmicas, gestão dos estoques, mapeamento de sinistros, acidentes e incidentes, pesquisas de satisfação de clientes e fornecedores, depreciação de maquinas e equipamentos, eficiência logística, etc. Todos esses controles, de alguma forma, acabam impactando na gestão dos riscos da empresa e consequentemente na colocação dos seus seguros.
Recentemente você participou de um evento internacional sobre as tendencias do setor. Quais as principais queixas dos gestores?
Os gestores estão preocupados com os impactos que o clima extremo e catástrofes naturais vem impactando na precificação dos seguros como um todo, em especial nos programas de property. Está sendo percebido um movimento de alta de preços e em alguns casos redução de capacidade. Grandes empresas estão com maiores dificuldades na montagem de seus painéis de seguro, muitas vezes sendo necessário agregar uma maior quantidade de seguradoras ou resseguradoras para ter a proteção de 100% do risco.
Como seria possível melhorar esse cenário de alta de preço sem a contrapartida de alta na sinistralidade?
A eficiente gestão dos riscos é o único caminho que eu vejo para que uma empresa consiga obter as melhores taxas do mercado. Esse é um trabalho fundamental e constante para o gestor. Maior gestão de risco, menor sinistralidade e taxa de seguro.
Quais as suas sugestões para melhorar o relacionamento dos gestores de riscos com corretores e com as companhias de re/seguro?
Além do relacionamento diário já existente, eu acredito que os eventos de mercado são as melhores oportunidades para uma aproximação efetiva. É um importante momento de networking que deve ser valorizado. A EXPO ABGR 2019 acaba tendo um papel muito relevante para o mercado de seguros brasileiro, afinal, estamos falando do maior evento da América Latina com um público superior a 3 mil pessoas.