Edson Franco, CEO da Zurich, compartilha do otimismo do jornalista Carlos Alberto Sardenberg,que palestrou na abertura da segunda edição do evento Improve, realizado no último dia 28, em São Paulo, para cerca de 200 executivos convidados. “Há um cenário de apreensão com os efeitos da guerra comercial entre países importantes para o Brasil, como Estados Unidos e China. Ontem, por exemplo, o ouro bateu sua máxima. Mas há uma confiança maior na capacidade de ações dos bancos centrais e dos governos. Ou seja, há desconfiança no ar, mas uma perspectiva de que as instituições dão sentido a isso, com o mundo voltando a crescer de forma mais contundente a partir de 2020”, afirmou Sardenberg.

Antes de dar a palavra ao jornalista, Franco afirmou que o grupo iniciou um novo ciclo. “Temos um novo ciclo não só na Zurich como no Pais. Temos um cenário positivo, com a retomada das obras de infraestrutura. Esse evento traz o debate sobre como nós podemos apoiar as empresas e o pais neste processo de retomada de crescimento”. Uma das novidades foi apresentar Roberto Hernández, que assume a diretoria de seguros corporativos, substituindo Glaucia Smithson, que assumiu o comando da AGCS na América Latina. “Roberto Hernández, o espanhol mais brasileiro que conheço, fez uma transformação digital na área de sinistros que o alçou a voos maiores, para comandar essa área tão promissora para o grupo Zurich no Brasil”, afirmou Franco.
Franco citou entre as oportunidades para o grupo a retomada de obras de infraestrutura, seja por parcerias com investimento publico ou privados, que vão reativar seguros corporativos, como engenharia, garantia, financeiros entre outros. “Temos um ambiente para a retomada das discussões, com descolamento das agendas política e econômica, com microreformas de incentivo econômico, que só terão impactos se as reformas estruturais como da previdência e tributária, por exemplo, tiverem sido encaminhadas, dando ao investidor um olhar mais realista do Brasil, que mesmo nos piores momentos das crises mundiais manteve um nível de fluxo estrangeiro estável”, comenta Franco ao blog Sonho Seguro.
Segundo ele, a aposta do grupo suíço no Brasil é no longo prazo e o radar para boas oportunidades de investimentos está ligado. “Estamos atentos nas prioridades do grupo, que quer crescer principalmente na América Latina e na Ásia”, citou, sem poder entrar em mais detalhes. Nos último meses, a Zurich fez aquisições na Argentina e no Chile. No Brasil, em junho anunciou a parceria com obanQi, banco digital da Via Varejo, que quem já é parceira em seguros afinidades. O banQi divulgou aporte de R$ 300 milhões a ser aplicado na captação de clientes, sendo parte desse recurso proveniente da seguradora suíça. De acordo com Franco, a estratégia com o banQi é oferecer produtos diversos, como proteção para celular, assistência funeral, microsseguros residenciais, seguro de automóvel e previdência.
Diante de uma perspectiva favorável, o grupo realizou o evento Improve para promover o debate de temas relevantes para a indústria de seguros, que se debruça na reavaliação de riscos diante das transformações que marcam o dia a dia dos governos, empresas e indivíduos. “Temos de reavaliar em que situações o risco está incluído neste novo cenário e trazer produtos que ajudem os gestores de riscos a mitigar perdas”, comentou.
Os principais debates do evento foram em torno dos desastres naturais, como enchentes que trouxeram perdas significativas neste primeiro semestre do ano, barragens, ataques cibernéticos, avanços tecnológicos da indústria e tendências globais do setor.
Seguro garantia – Cássio do Amaral, socio do Mattos Filho Advocacia, abordou as oportunidades do seguro garantia judicial. Segundo ele, há uma continuidade de discussões tributárias. “No CARF, o volume de discussões chega a 119 mil procedimentos, com valor de estoque anual de R$ 600 bilhões. Não falta matéria prima para novas demandas judiciais”, afirma. Também em destaque na lista de oportunidades, Amaral cita as discussões sobre tributos como ICMS de software ou propagandas em internet, guerra fiscal entre Estados, amortização de ágio entre outros. Além disso, há discussões bilionárias no segmento de construção e de fusões e aquisições,que geram arbitragem que exigem uma garantia, que pode ser um seguro garantia”, acrescenta. “Sem falar nas grandes ações coletivas”, acrescentou.

Gestão de risco – A gestão eficiente de riscos foi tema abordado por Carlos Cortes, responsável pela área de Engenharia de Riscos da Zurich, que proferiu a palestra “Lições aprendidas com grandes sinistros de propriedade”. Depois de citar inúmeros acidentes que tiveram início por situações muitas vezes causadas por descuidos, ele enfatizou que as empresas que deixam a segurança em segundo plano são as principais na lista do departamento que investiga os pedidos de indenização das seguradoras.

O executivo conta que o grupo já fez mais de 3 mil recomendações de 2015 para cá sugerindo melhorias na gestão de riscos das empresas clientes. Corte e solda lidera as sugestões, seguida de planos de emergências. “O elemento humano tem tudo a ver com a prevenção e também com a ocorrência de acidentes. Se fortalecermos a gestão de prevenção humana é possível evitar boa parte dos acidentes”, garante o especialista, que sugere a formação de grupo multidisciplinares para enrobustecer os planos de emergências. Ele também chama a atenção para danos de água em componentes eletrônicos. “Isso pode facilmente causar um acidente com proporções assustadoras”, cita.
Mix das 3 mil recomendações feitas no período de 2015-2019:
- 32% melhorias nas permissões de trabalhos de corte e solda
- 16% melhorias em planos de emergência
- 9% melhorias em ordem e limpeza
- 6% melhorias na inspeção, teste e manutenção de sistemas protecionais de incêndio
- 6% gestão de mudanças
- 4% melhorias dos programas de manutenção
- 4% melhorias dos sistemas elétricos
Risco mundial – Vinicio Cellerini abordou as tendências do mercado segurador global, que segundo ele conta com elevado capital disponível. Um ponto interessante é a mudança de riscos nos últimos 10 anos. Em 2009, tecnologia não constava na lista dos cinco principais riscos, dominado pelo temor de doenças. Já em 2019, riscos tecnológicos é o quarto no ranking, diante do temor das perdas causadas pelos ataques cibernéticos.