“O Seguro no Brasil em 2030: fortalecendo o seguro para o desenvolvimento sustentável”

adriana boscovPor Adriana Boscov, Colunista de Plurale
De São Paulo

No último dia 14 de setembro aconteceu, em São Paulo, a primeira Mesa Redonda de Seguros para o Desenvolvimento Sustentável do Brasil. Organizado pela Confederação Nacional das Empresas de Seguros Gerais, Previdência Privada e Vida, Saúde Suplementar e Capitalização (CNseg) e em parceria com os Princípios para Sustentabilidade em Seguros (PSI) do Programa das Nac?o?es Unidas para o Meio Ambiente para Instituições Financeiras — PNUMA-FI (United Nations Environment Programme for Financial Institutions — UNEP-FI), o evento foi uma nacionalização do evento mundial “Insurance 2030 Global Roundtable” co-organizado pela UNEP FI e a Swiss Re em Maio de 2015. O evento contou com a presença de representantes do PSI, governo, setor de seguros e consultorias especializadas em sustentabilidade.

Segundo Butch Bacani, representante do PSI, “A mesa redonda foi uma discussão estratégica sobre como o Brasil pode aproveitar o potencial da influência do setor de seguros para o desenvolvimento sustentável, e desenvolver caminhos para ação, escala e impacto até 2030 — horizonte das novas metas de Desenvolvimento Sustentável da ONU que serão adotadas pelos governos ainda em setembro.” Durante a abertura, os participantes viram uma mensagem gravada da Secretária Executiva da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (United Nations Framework Convention on Climate Change — UNFCCC), Christiana Figueres, que focou no papel da indústria de seguros para a transição de uma economia baseada em baixo carbono e resiliente ao clima em preparação para a Conferência das Partes a ser realizada em Paris este ano (COP 21).

A visão Seguros em 2030 é especialmente importante para o Brasil por diversos fatores relembrou Butch. O Brasil é o maior mercado de seguros da América Latina e conta com o maior número de signatários dos PSI, totalizando 9 empresas e uma instituição apoiadora. Além disso, foi o primeiro país onde a Bolsa de Valores, BM&FBovespa, incluiu os PSI em seu Índice de Sustentabilidade Empresarial (ISE) e o mercado segurador instituiu metas concretas para atingir os 4 princípios, baseadas em uma extensa pesquisa sobre as práticas ambientais, sociais e de governança das empresas associadas a CNseg.

O foco das discussões do evento foi como a indústria de seguros pode contribuir para o desenvolvimento sustentável. A indústria tem três grandes papéis: gerenciamento de riscos (físicos) investimentos e gerenciamento de riscos financeiros (Risk carrier); e por meio desses papéis pode influenciar as decisões de alocação de recursos, além de oferecer produtos e serviços que atendam as demandas de riscos ambientais, sociais e de governança (ASG) que vem surgindo.

O setor de seguros é um dos maiores investidores no mundo e, por meio de suas políticas de investimentos, está liderando o movimento para uma mudança de economia baseada em combustíveis fósseis para uma economia baseada em energias renováveis e de baixo carbono, disse Christiana Figueres, da UNFCCC. O PSI hoje conta com 85 signatários que representam um quinto do mercado e 40 trilhões de dólares em reservas. Empresas que querem mudar o curso de seus investimentos e práticas em prol do desenvolvimento sustentável.

Como prova, várias práticas de empresas seguradoras e resseguradoras foram apresentadas, tanto do Brasil como no mundo. O que se pode notar é que em sua maioria, as iniciativas se baseiam em integração das questões ASG em suas operações, muitas vezes utilizando o modelo de parceria.

A Swiss Re foi a primeira resseguradora a criar uma Sustainability Risk Framework para gerenciamento de riscos e decisão de investimentos. A Munich Re desenvolveu uma ferramenta de subscrição de riscos ambientais, sociais e de governança para a carteira de riscos de engenharia/infraestrutura, além de um processo de integração das questões ASG em suas operações de maneira geral. O CEO da Axa se comprometeu a triplicar os investimentos “verdes” da companhia nos próximos 5 anos. Em parceria com o PSI, a Axa elaborou uma pesquisa sobre a resiliência a questões climáticas em grandes cidades de todo o mundo. Munich Re e International Finance Corporation (IFC) trabalham em Surety Bonds. A resseguradora Terra Brasis desenvolveu um mapa de eventos climáticos no Brasil.

A SulAmérica Seguros aprovou diversas políticas que tem se desdobrado na incorporação de questões ASG na matriz de riscos ERM, seleção de compras e práticas de engajamento de prestadores de serviços. A Brasilcap conta com uma linha de produtos de capitalização que investe parte do faturamento em projetos ambientais e de educação, totalizando mais de R$ 14 milhões em 2014. A Seguradora Líder DPVAT fez uma parceria com os Correios de forma a possibilitar acesso ao seguro DPVA tem todo o território nacional.

A empresa Renova é a mais nova empresa do grupo Porto Seguros e tem como foco a reciclagem e descarte correto de peças automotivas geradas de sinistros do seguro automóvel. A BB e Mapfre criou a Academia de Sustentabilidade onde são treinados corretores, prestadores e inspetores de riscos. A MongeralAegon criou a iniciativa Eu Planejo 360 em resposta aos resultados das pesquisas para entender os efeitos da longevidade no planejamento da aposentadoria.

Além das iniciativas das seguradoras e resseguradoras membros do PSI, a própria iniciativa da UNEP FI vem desenvolvendo estudos e projetos para o maior entendimento de como integrar questões ASG na operações de seguros. Algumas delas foram mencionadas no evento:

O projeto An insurance industry commitment in support of the process to develop the Post-2015 Framework for Disaster Risk Reduction do PSI da UNEP FI, que teve sua primeira etapa de pesquisas publicada em 2014, conclui que grande parte dos recursos disponíveis é utilizado somente para responder as catástrofes e não para prevenir que os riscos sejam tão severos. A segunda fase, já em curso, é desenvolver um mapa de riscos baseado em uma ferramenta desenvolvida na Austrália que seja pública e acessível a quem interessar.

A terceira fase é engajar localmente para que cada país possa construir sua própria O compromisso do setor de seguros apresentado no fórum de Sendai sobre Riscos de Desastres Climáticos em março de 2015 apresenta os principais pontos a serem trabalhados pelo setor para redução de riscos e aumento da resiliência de riscos derivados de desastres climáticos. Esse compromisso gerou uma plataforma online da PSI para que empresas possam mostrar como empresas podem apoiar a Global Framework de Riscos de Desastres. A UNEP FI vem consultando empresas do setor financeiro em um Inquiry into the design of a sustainable financial system.

Uma nova iniciativa da ONU será lançada durante a COP Paris sobre Climate Change Resilience – baseada no tripé antecipe, absorva e remodele (reshape) – onde se acredita que o papel do setor de seguros será chave para o sucesso. A ONU buscará no próximo mês compromissos das empresas signatárias.

No painel dos representantes do governo, falaram sobre o marco regulatório, Banco Central do Brasil, da Superintendência de Seguros Privados (SUSEP) e Ministério do Meio Ambiente. Nesse painel a principal discussão foi sobre o marco regulatório definido pela Lei 4327 do Bacen que traz obrigatoriedade as instituições financeiras de desenvolver uma Política de Gestão de Riscos Socioambientais. A SUSEP por sua vez, estuda uma proposta apresentada pelas empresas do setor para regulação de resíduos sólidos derivados das operações de seguros de acordo com a Política Nacional de Resíduos Sólidos e tem desde 2014 trabalhado na questão de Educação Financeira para melhorar o acesso a produtos financeiros. Já o Ministério do Meio Ambiente, mencionou a importância de se criar diretrizes quanto as melhores práticas ambientais a serem incorporadas mas empresas adaptadas aos diversos setores.

Em resposta à fala sobre a necessidade de maior integração das questões ASG nas estratégias de negócios das seguradoras, Solange Beatriz Palheiro Mendes, diretora executiva da CNseg, disse que “Sustentabilidade é sinônimo de boas práticas, como operar da melhor maneira possível olhando para as questões ambientais, sociais e de governança (ASG). E o setor de seguros deve ser o exemplo de indústria que persegue os preceitos e princípios de Sustentabilidade, por sua própria natureza que visa o bem do segurado ao repor danos e perdas.”

Seguindo a visão de Seguros 2030, fica claro depois desta enriquecedora tarde de discussões, que o caminho é longo mas possível, e que só poderá acontecer se todos os atores se unirem em prol das melhores práticas de forma a desenvolver um setor de seguros capaz de mitigar os riscos emergentes (ASG) e atender as demandas da sociedade por uma vida mais segura.

Denise Bueno
Denise Buenohttp://www.sonhoseguro.com.br/
Denise Bueno sempre atuou na área de jornalismo econômico. Desde agosto de 2008 atua como jornalista freelancer, escrevendo matérias sobre finanças para cadernos especiais produzidos pelo jornal Valor Econômico, bem como para revistas como Época, Veja, Você S/A, Valor Financeiro, Valor 1000, Fiesp, ACSP, Revista de Seguros (CNSeg) entre outras publicações. É colunista do InfoMoney e do SindSeg-SP. Foi articulista da Revista Apólice. Escreveu artigos diariamente sobre seguros, resseguros, previdência e capitalização entre 1992 até agosto de 2008 para o jornal econômico Gazeta Mercantil. Recebeu, por 12 vezes, o prêmio de melhor jornalista de seguro em concursos diversos do setor e da grande mídia.

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