Catástrofes prejudicam solvência das seguradoras, o que faz a sustentabilidade ser prioritária na agenda do setor

Matéria escrita por Márcia Alves, publicada no portal da CNseg (www.viverseguro.org.br)

Conceitualmente, não existe relação entre poluição e catástrofes naturais. Enquanto a poluição é o resultado da ação humana na contaminação do solo, ou da atmosfera, ou, ainda, do meio aquático, as catástrofes, como erupções vulcânicas e tsunamis, são eventos súbitos da natureza. Mas, segundo o autor do livro “O impacto das catástrofes climáticas na solvência das seguradoras”, René Hernande, eventos climáticos podem potencializar os danos provocados pela poluição à natureza.

Durante a apresentação do tema “Fenômenos naturais, seguros e sustentabilidade”, no I Workshop Inovação e Oportunidades em Sustentabilidade, promovido ontem em São Paulo pela CNseg, René Hernande explicou que a poluição do solo, por exemplo, causada por infiltração de combustíveis, mesmo restrita a uma área limitada, poderá ter seus efeitos ampliados caso ocorra uma inundação. “Os resíduos podem se espalhar por uma área muito maior e ocasionar uma catástrofe ambiental”, afirmou. Efeito semelhante pode ocorrer se a passagem de furacão encontrar pela frente um vazamento em plataforma de petróleo. “Um furacão pode estar na origem ou na maximização de um problema de contaminação já existente”, disse.

Para René Hernande, a degradação ambiental, ainda que seja tratada como uma questão meramente econômica, é uma grave ameaça à vida. Tanto que a Organização Mundial de Saúde (OMS) realizou um estudo que relaciona a deterioração do meio ambiente com a saúde humana, apontando a prevalência de doenças como diarréia, infecções respiratórias, lesões involuntárias, malárias e outras.

Diferentemente da diarréia, que é mais frequente entre classes pobres, as infecções respiratórias, de acordo com o especialista, afetam todas as faixas de população.

René Hernande atribui a causa principal das doenças respiratórias à poluição do ar pela constante emissão de CO2 (dióxido de carbono). A situação é tão grave, segundo ele, que se as emissões de CO2 pudessem ser encerradas, seus efeitos ainda seriam sentidos por muitos anos. Mesmo assim, ele não condena o CO2, que será importante fonte de calor, a seu ver, quando a Terra entrar na era glacial, daqui a 1,5 mil anos.

No presente, porém, o aumento de dióxido de carbono na atmosfera mantém relação com o crescimento das grandes catástrofes naturais. O fato está registrado, de acordo com René Hernande, em um estudo da Munich Re, que relaciona o aumento das catástrofes entre 1950 e 2010 com o crescimento da emissão de CO2. A destruição e as mortes provocadas por esses eventos se relacionam, por sua vez, com o setor de seguros.

Para dar uma ideia da abrangência desses danos, ele apresentou um gráfico da OMS que indica as regiões com maior índice de mortalidade atribuída à poluição do ar. O Brasil e o Chile na América do Sul, juntamente com toda América do Norte e parte da Ásia, são as regiões onde se registraram mais de 5 mil mortes, em 2011.

René Hernande também identificou na frequência de raios no Brasil uma relação com o aumento da poluição. Considerando apenas os dados das regiões monitoradas (Sul, Sudeste e parte da Centro-Oeste), entre 2009 e 2010, São Paulo lidera com 48% das ocorrências, seguida pelo Rio de Janeiro, com 20%. Nesses locais, segundo avaliação do Inpe, a poluição se equipara com o fenômeno El Niño entre os fatores intensificadores de raios.

Mas os brasileiros estão mais preocupados com a preservação ambiental, segundo René Hernande. Uma pesquisa do Ministério do Meio Ambiente, realizada em 2002, revela que 81% dos entrevistados estão dispostos a comprar produtos fabricados de maneira ecológica e que 38% abririam mão de aumentos na produção e no abastecimento de energia, se isso implicasse em melhor tratamento ao meio ambiente. “Algumas empresas acreditam que doar plantinhas e canequinhas são ações sustentáveis. Mas é enrolação. Precisamos levar mais a sério os danos à natureza ou estaremos cometendo suicídio e homicídio”, disse.

Denise Bueno
Denise Buenohttp://www.sonhoseguro.com.br/
Denise Bueno sempre atuou na área de jornalismo econômico. Desde agosto de 2008 atua como jornalista freelancer, escrevendo matérias sobre finanças para cadernos especiais produzidos pelo jornal Valor Econômico, bem como para revistas como Época, Veja, Você S/A, Valor Financeiro, Valor 1000, Fiesp, ACSP, Revista de Seguros (CNSeg) entre outras publicações. É colunista do InfoMoney e do SindSeg-SP. Foi articulista da Revista Apólice. Escreveu artigos diariamente sobre seguros, resseguros, previdência e capitalização entre 1992 até agosto de 2008 para o jornal econômico Gazeta Mercantil. Recebeu, por 12 vezes, o prêmio de melhor jornalista de seguro em concursos diversos do setor e da grande mídia.

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