O setor de seguro sofrerá com a crise da Grécia?

Provavelmente não, afirmam seguradores e resseguradores entrevistados pelo blog Sonho Seguro. A maioria dos executivos questionados não tem a resposta a essa pergunta. Mas garantem que, pelas conversas de bastidores da indústria, é pouco provável o registro de perdas relevantes.

O argumento é que as seguradoras praticamente deixaram de operar com seguros de “default”, ou Credit Default Swap (CDS), desde a crise de 2008, quando a AIG, a maior seguradora do mundo na época, precisou ser socorrida com mais de US$ 180 bilhões pelo governo americano para evitar uma quebradeira sem precedentes.

O governo americano socorreu a AIG porque ela precisava honrar os seguros comprados por bancos de investimentos contra inadimplência do pagamento de títulos públicos e privados. Apesar da área de CDS representar um pequeno departamento do grupo americano em faturamento, chegou a gerar mais de um quarto do lucro do conglomerado antes da explosão da crise.

Se não honrasse os compromissos assumidos em derivativos, a quebradeira seria muito maior, uma vez que os bancos precisariam contabilizar em seus balanços as perdas geradas pelo não recebimento do seguro. Se os bancos perdessem patrimônio e rating, haveria uma corrida ao saque dos recursos e haveria um pânico total. Por isso foi melhor injetar recursos na AIG e em outras instituições problemáticas.

A conta paga pelo setor de seguros foi grande, da qual participaram também outras seguradoras que atuavam com esse tipo de ativo, como Ambac e MBIA, por exemplo. No entanto, não houve quebra de seguradoras ou de contratos, pois as companhias de seguros são obrigadas a fazer reservas para cada prêmio de risco que assumem e contratam resseguro, instrumento financeiro que possibilita a pulverização do risco em várias empresas, de diferentes países.

Praticamente a mesma situação acontece agora com a Grécia. Se o governo da Grécia resolvesse dar um calote – hipótese ainda remota diante dos resultados positivos das negociações em andamento –, os bancos que compraram os títulos do governo grego e também das empresas privadas do país vão buscar o ressarcimento das garantias que compraram antes de conceder os créditos aos tomadores que apresentarem “default”.

Esses seguros são negociados no mercado financeiro por bancos de investimentos e também por seguradoras. Conhecidos como CDS, esse instrumento financeiro é comprado por investidores que querem se proteger de eventual calote, seja em títulos de governo, títulos privados e até mesmo pela variação de moedas, onde os derivativos são os mais conhecidos.

A informação de quanto há desses títulos no mercado talvez seja divulgada em uma nova série de filmes no estilo “Wall Street”, tendo como enredo as reuniões entre os bancos centrais e as instituições financeiras, numa guerra fria de distribuição de culpas, multas e divisão de prejuízos. O que se sabe hoje é que há uma lista grande de bancos de investimentos americanos operando com CDS, o que faria a crise voltar ao governo de Barack Obama.

A hipótese dessa crise atingir fortemente as seguradoras e as resseguradoras é remota, pois depois das perdas de 2008 as poucas companhias que operavam com esse seguro optaram por rever a atuação, reduzindo suas exposições. Além dos CDS, a indústria de seguros pode sofrer perdas com a carteira de investimentos, caso tenha aplicado recursos em títulos que venham apresentar forte desvalização.

Um nicho específico da indústria de seguros, as seguradoras de crédito, pode também sofrer um abalo, caso o esforço do FMI e Comunidade Europeia de se fazer uma restruturação ordenada do risco de inadimllencia de títulos do governo e dos títulos privados gregos não dê certo. Se tudo correr bem, o risco das perdas em seguros será quase que eliminado. Simples assim. Agora se isso não for feito e a crise chegar na França e na Espanha, por exemplo, países onde o seguro de crédito e de garantia é relevante, ai a situação ficará complicada. Não só para as seguradoras. Mas para todos.

Denise Bueno
Denise Buenohttp://www.sonhoseguro.com.br/
Denise Bueno sempre atuou na área de jornalismo econômico. Desde agosto de 2008 atua como jornalista freelancer, escrevendo matérias sobre finanças para cadernos especiais produzidos pelo jornal Valor Econômico, bem como para revistas como Época, Veja, Você S/A, Valor Financeiro, Valor 1000, Fiesp, ACSP, Revista de Seguros (CNSeg) entre outras publicações. É colunista do InfoMoney e do SindSeg-SP. Foi articulista da Revista Apólice. Escreveu artigos diariamente sobre seguros, resseguros, previdência e capitalização entre 1992 até agosto de 2008 para o jornal econômico Gazeta Mercantil. Recebeu, por 12 vezes, o prêmio de melhor jornalista de seguro em concursos diversos do setor e da grande mídia.

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