por IRB(RE)
Executivos, especialistas do mercado de seguros e resseguros do Brasil e do exterior, representantes do governo e do mundo acadêmico participam, nesta quarta-feira (06/08), do 2º Fórum IRB (P&D). Pela manhã, na abertura do evento, cujo tema é “Transferência de Riscos: Estratégias e Inovações”, o presidente do Conselho de Administração do IRB(Re), Maurício Quintella; o vice-presidente de Resseguros do IRB(Re), Daniel Castillo; o presidente da Confederação Nacional das Seguradoras (CNseg), Dyogo Oliveira; o diretor de Regulação da Superintendência de Seguros Privados (Susep), Carlos Queiroz; e a coordenadora-geral de Seguros e Previdência Complementar da Secretaria de Reformas Econômicas do Ministério da Fazenda, Mariana Arozo, apontaram desafios e caminhos para o setor.
Maurício Quintella destacou a criação do IRB(P&D) e a atuação do IRB(Re) como referência de inteligência no mercado segurador do Brasil. “Sua criação marca um novo capítulo na nossa resseguradora, voltada para a inovação, para a antecipação de riscos, para a construção de soluções que respondam a um mundo em rápida transformação, velocidade e complexidade inéditas”, explicou.
O vice-presidente de Resseguros do IRB(Re), Daniel Castillo, também ressaltou o pioneirismo da iniciativa. “Essa cooperação é importante para buscarmos soluções que atendam à sociedade. Temas complexos, como as mudanças climáticas, o uso de novas tecnologias e a transferência de riscos exigem atenção e dedicação. O conhecimento é fundamental para a correta transferência de riscos”, frisou.
Dyogo Oliveira destacou a importância e a necessidade de avançar rapidamente na agenda das mudanças climáticas. “Estou profundamente convencido que esse é um caminho sem volta, em que pese o trabalho que vem sendo feito em mitigação”, disse o presidente da CNseg.
Carlos Queiroz, da Susep, também parabenizou a iniciativa de criar uma área dedicada à pesquisa e ao desenvolvimento, com uma equipe reconhecida por sua excelência no mundo acadêmico, e destacou a importância de promover fóruns para trocas de ideias com representantes de várias áreas do setor e atuar para transformar incertezas em oportunidades. “Vivemos uma era de riscos cada vez mais complexos. Nesse cenário, a inovação se revela essencial na transferência de risco”, afirmou.
Mariana Arozo, por sua vez, falou sobre a solidez e a capacidade do mercado segurador brasileiro, mas também sobre o déficit de proteção da população: “Há um espaço muito grande, muita oportunidade de expansão, de aumentar o acesso aos seguros. Temos desafios tanto para o Estado quanto para as seguradoras”.
Parcerias público-privadas na transferência de riscos
O primeiro painel do 2º Fórum IRB(P&D) abriu espaço para as oportunidades e os desafios das parcerias público-privadas na gestão e transferência de riscos. Anderson Caputo Silva, chefe de Conectividade, Mercados e Finanças do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID); Fábio da Silva, do Banco Mundial; e João Geo, CEO da Pottencial Seguradora, falaram sobre o tema, sob a mediação Esteves Colnago, diretor de Relações Institucionais da CNseg.
Colnago introduziu o tema propondo aos debatedores a abordagem de desafios para que países promovam projetos importantes para a infraestrutura. “Quando a gente fala de parceria, a gente não deve ficar restrito às concessões, tem também as parcerias público-privadas, que se diferenciam da concessão, porque há uma necessidade de uma complementação por parte dos governos para viabilizar os projetos; você tem obras públicas, serviços e políticas públicas de uma forma geral, que demandam essa parceria com o setor privado e com o setor segurador”, explicou.
Anderson Caputo destacou as mudanças que estão acontecendo na relação com os organismos multilaterais, entre elas, a de sair do papel de catalisador e atuar como uma instituição que possa trazer financiamentos do setor privado: “O que multilateral traz é esse casamento entre a parte técnica, que a gente pode contribuir, com a parte financeira. Nessa ideia de trazer recursos, a gente está menos no empréstimo direto e mais na parte de garantias”.
Fábio da Silva, que trabalha há 30 anos em mercados de capitais e investimento, discorreu sobre os produtos financeiros do Banco Mundial para o mercado de seguros. Ele mostrou exemplos de atuação do banco em grandes eventos climáticos internacionais, como no Chile, Filipinas e Uruguai, reforçando a necessidade de incrementar as parcerias com seguradoras privadas. “Os indivíduos e as empresas estão mais e mais desenvolvendo essa cultura de entender e gerenciar risco, então a demanda vai continuar subindo, e pra gente é fundamental ampliar esse esforço de trabalhar em conjunto”, disse.
Em seguida, João Geo, CEO da Pottencial Seguradora, falou sobre a importância de um debate com os organismos internacionais e demais atores para desenhar e afinar parcerias. “Temos que sair daqui hoje com uma parceria banco-seguradora-resseguro”, resumiu Geo, destacando que os especialistas presentes no Fórum podem contribuir muito para o aprimoramento destas parcerias. “Parabéns ao IRB(Re) pela iniciativa, precisamos estar perto do mercado, conversando com o mercado, para que possamos desenvolver produtos, entender as necessidades e resolver os problemas que precisamos”, finalizou.
Com o tema “Transferência de riscos: estratégias e inovações”, o evento é promovido pelo IRB(P&D), área do IRB(Re) com dedicação exclusiva à pesquisa e ao desenvolvimento, e tem apoio da CNseg. Entre os convidados, representantes do mercado de seguros e resseguros, do setor público e especialistas do Brasil e do exterior.
Enchentes no Sul evidenciam urgência de seguros contra desastres naturais
As enchentes que devastaram o Rio Grande do Sul em 2024 deixaram um rastro de destruição, perdas humanas e prejuízos bilionários. Cidades inteiras foram inundadas, milhares de pessoas ficaram desabrigadas e empresas tiveram suas atividades interrompidas por semanas. Em meio ao cenário de calamidade, um tema voltou ao centro das discussões: a importância do seguro como instrumento de proteção e resiliência diante de eventos climáticos extremos.
Ao abrir o painel, Claudia Prates expôs números relacionados à tragédia. Segundo Prates, os prejuízos chegam à casa dos R$100 bilhões. “O Rio Grande do Sul tem a quarta maior penetração de seguros no país e apenas R$ 6 bilhões foram cobertos. A maior parte para grandes riscos, cerca de R$ 3 bilhões; seguido de veículos, R$ 1 bilhão; e residencial, por volta de R$ 600 mil. O gap de proteção é enorme no Brasil”, afirma a diretora.
De acordo com Pricilla Santana, o Rio Grande do Sul é o estado que mais sofre com intempéries climáticas no Brasil, sejam eventos extremos generalizados ou focados. Entre 2020 e 2021, o estado foi atingido por seca e estiagem, que comprometeram a produção agrícola, mas que não alteraram a procura por seguros. Tanto que, de acordo com Cláudia Prates, nas inundações que ocorreram em 2024, cerca de 90% das famílias e dos pequenos negócios não estavam cobertos e apenas R$ 180 milhões em seguros foram destinados ao setor agrícola.
“Vocês vão ver no limite que quem arcou com as despesas da calamidade foi o poder público, federal ou estadual”, afirmou a Pricilla, acrescentando que “22% dos negócios tinham uma apólice de seguro, mas nenhuma delas tinha as características que davam cobertura ao evento que enfrentamos”.
A secretária afirmou ainda que acredita que grupos seguradores do RS não devem encampar sozinhos o mercado gaúcho, mas que são necessários uma política nacional e outros players para assumirem a cobertura do estado. “O Brasil tem capacidade de aprendizagem e planejamento, mas falta cultura securitária”, afirma.
A tragédia no RS foi tema do primeiro Relatório Técnico do IRB(P&D). A análise, publicada em maio, destaca a influência do fenômeno El Niño e o bloqueio atmosférico que manteve a alta concentração pluviométrica na região como fatores que agravaram a tragédia, assim como o desmatamento, as falhas na gestão das comportas do rio Guaíba e o bloqueio dos canais de escoamento. Ao todo, 2,4 milhões de pessoas foram impactadas pelas enchentes, que ocasionaram 58 mil solicitações de indenizações ao setor de seguros, totalizando R$ 6,04 bilhões em sinistros.