Incêndio na Nestlé em Araras expõe riscos de esteiras transportadoras e impacto financeiro potencial

Recentemente, a Nestlé anunciou investimento de R$ 1 bilhão até 2028 para modernizar e ampliar a planta, dentro de um plano de R$ 7 bilhões para o Brasil

Um incêndio atingiu neste domingo (14) a fábrica da Nestlé em Araras, interior de São Paulo. Imagens registradas por moradores mostraram chamas consumindo parte da estrutura externa e uma densa nuvem preta de fumaça. Segundo a companhia, não houve feridos nem necessidade de evacuar a unidade. O fogo atingiu equipamentos localizados fora da área produtiva, preservando a linha de fabricação. A fábrica tem capacidade para produzir cerca de 33 mil toneladas de Nescafé por ano, em diferentes tipos de embalagens, além de 2 bilhões de latas anuais de achocolatados. Recentemente, a Nestlé anunciou investimento de R$ 1 bilhão até 2028 para modernizar e ampliar a planta, dentro de um plano de R$ 7 bilhões para o Brasil.

De acordo com Alfredo Chaia, gestor de risco da Veritas, o incêndio teve origem em uma esteira de cavacos de madeira, um dos pontos críticos para sinistros em instalações industriais. As esteiras transportadoras apresentam risco recorrente de incêndio devido ao contato entre fontes de calor e materiais combustíveis. Entre as principais causas estão o acúmulo de resíduos, como poeira, óleos e partículas, que podem inflamar em contato com calor; rolos travados, cujo atrito gera aquecimento até iniciar o fogo; bloqueio da correia, quando o tambor continua girando mesmo com a correia parada; e desalinhamento da correia, que provoca desgaste irregular e superaquecimento.

Chaia explica que práticas de manutenção e monitoramento são fundamentais para reduzir riscos. Entre as soluções mais eficazes estão sistemas de detecção de calor e fumaça, sprinklers ou névoa de água para supressão precoce, sensores de temperatura e vibração e desligamento automático da esteira integrado ao sistema de detecção de incêndio. Ainda que a Nestlé tenha controlado o incêndio sem afetar diretamente a produção, o especialista ressalta que sinistros desse tipo podem gerar perdas relevantes. Com base em uma simulação de produção de 120 mil toneladas por ano e margem EBITDA de 20%, uma paralisação poderia resultar em R$ 306 milhões de perda operacional, montante que supera em múltiplos o custo de investir em sistemas robustos de prevenção.

Além do impacto direto na margem operacional, a interrupção pode causar efeitos em cascata na cadeia de suprimentos: fornecedores de insumos especializados enfrentariam queda na demanda, enquanto operadores logísticos teriam capacidade ociosa. Segundo Chaia, empresas que demonstram excelência em gestão de riscos não apenas reduzem a probabilidade de sinistros graves, mas também conquistam condições mais favoráveis de financiamento, parcerias e expansão internacional. “No mercado global, padrões elevados de gestão de riscos são frequentemente critério determinante para a qualificação de fornecedores”, conclui o gestor da Veritas.

Denise Bueno
Denise Buenohttp://www.sonhoseguro.com.br/
Denise Bueno sempre atuou na área de jornalismo econômico. Desde agosto de 2008 atua como jornalista freelancer, escrevendo matérias sobre finanças para cadernos especiais produzidos pelo jornal Valor Econômico, bem como para revistas como Época, Veja, Você S/A, Valor Financeiro, Valor 1000, Fiesp, ACSP, Revista de Seguros (CNSeg) entre outras publicações. É colunista do InfoMoney e do SindSeg-SP. Foi articulista da Revista Apólice. Escreveu artigos diariamente sobre seguros, resseguros, previdência e capitalização entre 1992 até agosto de 2008 para o jornal econômico Gazeta Mercantil. Recebeu, por 12 vezes, o prêmio de melhor jornalista de seguro em concursos diversos do setor e da grande mídia.

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