Seguros nas telas: filmes e séries que fazem da trapaça o coração da trama

Se você quer entender a mente humana em situações-limite, preste atenção nos contratos e nas cláusulas: o diabo mora nos detalhes.

Um dos principais argumentos do falecido Mathias Molina, diretor da redação da Gazeta Mercantil, para me convencer a cobrir seguros logo no inicio da carreira, foi: o seguro é tão fascinante, que pauta os principais enredos de filmes em todo o mundo. Além, claro, de você aprender um pouco de todos os segmentos da economia mundial e das finanças pessoais das famílias. Pois, sem exceção, todos contratam seguros e por isso este mercado é essencial para a sustentabilidade das finanças corporativas, governamentais e das pessoas. Não à toa, o maior investidor do mundo, Warren Buffett, fez fortuna com a sua seguradora Berkshire.

E assim me convenceu e aqui estou na cobertura deste setor há mais de 30 anos. E fazendo jus ao que o Molina falou há tres décadas, hoje, com a ajuda da AI, trago uma matéria sobre filmes e séries que citam o seguro de forma mais relevante, pois indiretamente as palavras “apólice e indenização” estão em praticamente TODAS as produções.

Se você quer entender a mente humana em situações-limite, preste atenção nos contratos e nas cláusulas: o diabo mora nos detalhes. O tarifaço de Donald Trump, por exemplo. Traz perdas bilionárias para o mundo. Fábricas paradas a espera de uma solução para o impasse entre o governo Trump e o governo Lula. Mas as perdas não contarão com seguro para aqueles que excluíram cobertura de risco político.

Somente cobertura de lucros cessantes não dá conta deste problema, pois ela exige que haja um dano material concreto, como explosão, incêndio, roubo, danos no transporte. Brigas de políticos não tem cobertura. Muitos acham este tarifaço algo bobo e que tudo acabará em pizza, mas as perdas são relevantes e já estão sendo computadas. E em alguns anos veremos o papel do seguro desde triste momento mundial contado num documentário, filme ou série.

O seguro, na vida real, é algo técnico, burocrático, até entediante na vida real. Mas na ficção, ele ganha outra cor. É uma promessa de proteção que, quando quebrada, revela as fraquezas humanas: ganância, desespero, ego. É o tipo de elemento narrativo que conecta temas existenciais com conflitos concretos. Além disso, fraudes sempre trazem drama: existe a construção do plano, a tensão da execução, o risco da descoberta — e quase sempre, a queda.

Filmes e séries que exploram fraudes e seguros não estão apenas contando histórias de crime: estão examinando como lidamos com medo, perda, risco e sobrevivência. Seja um golpe mal planejado ou uma crítica ao sistema, o seguro é mais do que pano de fundo — é gatilho narrativo e espelho social.

De golpes de seguro mirabolantes a esquemas de fraude corporativa, o cinema e a televisão sempre tiveram um caso de amor com personagens que manipulam sistemas — especialmente quando o sistema em questão é o de seguros. O motivo é claro: o seguro, por definição, lida com risco, perda e morte. Elementos perfeitos para criar tensão dramática, dilemas morais e reviravoltas inesquecíveis.

Seguem alguns relembrados pela AI. Pena que foi só até 2022. Tem novas séries fantásticas atualmente que podemos citar, mas ficará para o próximo post. Vou fazer um levantamento nas próximas semanas. Se lembrar de algum, me manda que vou acrescentando neste post ao longo do tempo.

Double Indemnity (1944)

Tema: Fraude de seguro de vida
Por que é importante: Este clássico noir de Billy Wilder praticamente fundou o subgênero “fraude de seguro como enredo principal”. Um vendedor de seguros se envolve com uma mulher casada para matar o marido dela e embolsar a apólice de seguro com cláusula de “indenização dupla”. A tensão cresce conforme a investigação se estreita — e a culpa também.
Tropo dominante: O plano perfeito que dá errado.
Curiosidade: O filme é baseado em um caso real de 1927.

The Insider (1999)

Tema: Seguros, ética corporativa, denúncia
Por que é importante: Embora não seja uma fraude no sentido tradicional, o filme mostra como uma empresa de tabaco manipula informações sobre os efeitos colaterais do cigarro. O protagonista, um executivo que rompe o silêncio, enfrenta ameaças à sua reputação, à sua vida e até à apólice de seguro de sua família.
Tropo dominante: O herói solitário contra o sistema.
Relevância atual: Em tempos de fake news e corporativismo agressivo, o filme segue extremamente atual.

Fargo (Filme de 1996 e Série 2014)

Tema: Sequestro falso e seguros de vida
Por que é importante: No filme dos irmãos Coen, um vendedor de carros endividado arma o sequestro da própria esposa para extorquir o sogro milionário — e considera o seguro de vida como plano B. Já na série, diversas temporadas abordam fraudes, golpes e sinistros de seguro como parte do pano de fundo do crime no interior dos EUA.
Tropo dominante: Pessoas comuns fazendo escolhas desastrosas.
Estilo: Mistura de humor negro com violência absurda.

The Rainmaker (1997)

Tema: Negligência de seguradora
Por que é importante: Baseado em romance de John Grisham, o filme acompanha um jovem advogado enfrentando uma grande seguradora que nega cobertura médica a um paciente com leucemia. O caso se transforma numa batalha moral e judicial.
Tropo dominante: David contra Golias, com um contrato nas mãos.
Mensagem: O seguro pode ser tanto salvador quanto vilão, dependendo de quem o administra.

Breaking Bad (2008–2013)

Tema: Seguro de saúde como motivação do crime
Por que é importante: Walter White decide fabricar metanfetamina depois de ser diagnosticado com câncer e perceber que seu seguro não cobre os custos do tratamento. O ponto de partida da série é uma crítica direta ao sistema de saúde americano.
Tropo dominante: O sistema falha, o indivíduo radicaliza.
Transformação: De vítima do sistema para arquétipo do anti-herói.

Pain & Gain (2013)

Tema: Fraude de seguros e identidade
Por que é importante: Baseado em eventos reais, o filme segue um grupo de fisiculturistas que sequestram um empresário para forçá-lo a assinar papéis de transferência de bens, incluindo seguros. A comédia ácida expõe a fragilidade dos sistemas burocráticos.
Tropo dominante: Golpistas burros em busca de fortuna.
Tom: Humor negro e crítica social.

Ozark (2017–2022)

Tema: Lavagem de dinheiro, fraudes financeiras e seguros
Por que é importante: Embora o foco da série seja lavagem de dinheiro, vários episódios exploram fraudes contábeis, empresas fantasmas e manipulações de seguros para justificar movimentações suspeitas.
Tropo dominante: Família de fachada, crime como rotina.
Narrativa: O seguro aqui é usado como ferramenta de encobrimento e manipulação.

The Secret Life of Walter Mitty (2013)

Tema: Seguros e imaginação escapista
Por que é importante: Walter Mitty é um funcionário de longa data de uma seguradora que avalia riscos em fotografias. O filme brinca com a ironia: alguém cujo trabalho é prever perdas vive com medo de arriscar. Quando embarca numa jornada real, o seguro vira metáfora de tudo que ele deixou de viver.
Tropo dominante: O herói relutante desperta.
Leitura alternativa: O seguro como prisão mental e social.

Denise Bueno
Denise Buenohttp://www.sonhoseguro.com.br/
Denise Bueno sempre atuou na área de jornalismo econômico. Desde agosto de 2008 atua como jornalista freelancer, escrevendo matérias sobre finanças para cadernos especiais produzidos pelo jornal Valor Econômico, bem como para revistas como Época, Veja, Você S/A, Valor Financeiro, Valor 1000, Fiesp, ACSP, Revista de Seguros (CNSeg) entre outras publicações. É colunista do InfoMoney e do SindSeg-SP. Foi articulista da Revista Apólice. Escreveu artigos diariamente sobre seguros, resseguros, previdência e capitalização entre 1992 até agosto de 2008 para o jornal econômico Gazeta Mercantil. Recebeu, por 12 vezes, o prêmio de melhor jornalista de seguro em concursos diversos do setor e da grande mídia.

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