Empresas de leasing vencem processo bilionário contra seguradoras por aviões retidos na Rússia

AerCap, da Irlanda, e a Dubai Aerospace Enterprise (DAE) — que moveram um processo de US$ 4,7 bilhões

Fonte: The Guardian

Empresas de leasing de aeronaves venceram um processo multibilionário contra seguradoras, relacionado a aviões retidos na Rússia após a invasão da Ucrânia em fevereiro de 2022.

O tribunal superior de Londres decidiu a favor de seis empresas de leasing — entre elas a AerCap, da Irlanda, e a Dubai Aerospace Enterprise (DAE) — que moveram um processo de US$ 4,7 bilhões (£ 3,4 bilhões) em uma das maiores disputas de seguros já julgadas no Reino Unido. Em uma sentença de 230 páginas divulgada nesta quarta-feira, o juiz John Butcher decidiu que os aviões foram “perdidos” em março de 2022, o que permite às empresas de leasing recuperar os prejuízos com suas seguradoras de “riscos de guerra” — AIG, Lloyd’s, Chubb e Swiss Re —, já que a causa da perda foi “um ato ou ordem do governo russo”.

A decisão representa um duro golpe para as seguradoras, que enfrentam também um processo separado de £ 2,5 bilhões em Dublin. Os dois casos foram chamados de “mega julgamentos” e envolveram centenas de advogados e profissionais jurídicos.

Segundo o juiz Butcher, a questão central era se a causa da perda dos aviões foi uma decisão comercial das companhias aéreas russas — hipótese em que a responsabilidade caberia às seguradoras “all risks” — ou se foi resultado de um ato ou ordem do governo russo — caso em que as seguradoras de riscos de guerra também seriam responsáveis.

As sanções impostas pelo Ocidente forçaram as empresas de leasing a encerrar seus contratos com companhias russas até 28 de março de 2022, o que inicialmente levou o setor a prever prejuízos de até US$ 10 bilhões. Mas Butcher concluiu que “as aeronaves foram perdidas” porque a Rússia já havia apreendido os aviões antes do prazo das sanções — a perda teria ocorrido em 10 de março de 2022, quando uma lei russa proibiu a exportação de aeronaves e peças de aviação do país.

Inicialmente, houve pressão para que Moscou devolvesse os aviões “roubados”, mas o governo russo recusou. Muitos aviões foram re-registrados unilateralmente na Rússia e revendidos a companhias aéreas locais, sem o consentimento dos proprietários originais.

O juiz também afirmou que as seguradoras não estavam impedidas pelas sanções da União Europeia ou dos EUA de indenizar os autores da ação pelas perdas.

O julgamento em Londres, concluído em fevereiro, tratou de 147 aeronaves e 16 motores avulsos que as empresas não conseguiram recuperar após o início da guerra.

A AerCap, maior empresa de leasing de aeronaves do mundo, moveu ação relativa a 116 aeronaves e 15 motores, enquanto a DAE buscava recuperar perdas relativas a 22 aeronaves — segundo os documentos judiciais, três foram recuperadas, mas o restante foi “perdido” na Rússia em 10 de março de 2022. As demais companhias envolvidas no processo foram a Falcon e a Genesis (ambas de Dubai), a Merx Aviation e a KDAC Aviation Finance — todas com escritórios em Dublin.

Butcher descreveu o caso como “um litígio excepcionalmente exigente” e disse esperar que as partes consigam chegar a um acordo com base em suas conclusões.

O escritório de advocacia Herbert Smith Freehills Kramer, que representa a AerCap, afirmou que a sentença garantiu US$ 1,035 bilhão para a empresa, “além de recuperações substanciais já obtidas em acordos anteriores”.

O tribunal superior da Irlanda foi informado no mês passado de que todos os casos em Dublin estavam sendo resolvidos ou já haviam sido objeto de acordo.

Denise Bueno
Denise Buenohttp://www.sonhoseguro.com.br/
Denise Bueno sempre atuou na área de jornalismo econômico. Desde agosto de 2008 atua como jornalista freelancer, escrevendo matérias sobre finanças para cadernos especiais produzidos pelo jornal Valor Econômico, bem como para revistas como Época, Veja, Você S/A, Valor Financeiro, Valor 1000, Fiesp, ACSP, Revista de Seguros (CNSeg) entre outras publicações. É colunista do InfoMoney e do SindSeg-SP. Foi articulista da Revista Apólice. Escreveu artigos diariamente sobre seguros, resseguros, previdência e capitalização entre 1992 até agosto de 2008 para o jornal econômico Gazeta Mercantil. Recebeu, por 12 vezes, o prêmio de melhor jornalista de seguro em concursos diversos do setor e da grande mídia.

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