ARTIGO: Ensinar o filho dirigir é uma tradição, assim como seguro não indeniza quem infringir a lei

Por Fábio Leme, vice-presidente Técnico da HDI Seguros

Ensinar os filhos a dirigir é uma tradição que um pai presente acaba vivenciando em algum momento da vida de seus herdeiros. O ritual costuma preceder a educação formal proporcionada pela auto-escola, e é até uma maneira de endossar a autoconfiança do futuro motorista nas aulas no volante que virão. O que nem todo pai, por mais prudente que seja, leva em consideração nessas horas, é a possibilidade de acontecer um acidente e suas inevitáveis consequências.

As seguradoras não têm obrigação de arcar com o ônus de um sinistro se o veículo estiver sendo guiado por alguém sem habilitação e, por incrível que pareça, esse tipo de ocorrência é mais comum do que se imagina, o que se torna crítico quando envolve a integridade de alguém de fora do círculo familiar de pai e filhos.

A proteção a terceiros envolvidos em acidentes é prevista nos seguros, mesmo nas coberturas mais básicas, mas a questão é quem causou o sinistro. E vai além: se a vítima for menor de 14 anos, para a cobertura de APP que indeniza passageiros em caso de morte ou invalidez, que estejam no interior do veículo, a regra em vigor prevê apenas o reembolso de despesas decorrentes do ocorrido, limitado ao valor da cobertura contratada.

Portanto, a responsabilidade sob alguém que coloca para guiar um carro uma pessoa sem perícia técnica, e até desenvolvimento emocional adequados, precisa ser condizente com a temeridade da ação. Mesmo que o intuito seja o melhor possível, movido pelo puro amor altruísta, o rigor das consequências precisa de um tom a mais, pois funciona também como um elemento de reforço à educação no trânsito, ajudando a evitar tragédias.

Dados compilados pela ONG Criança Segura na plataforma de dados Datasus, disponibilizada pelo Ministério da Saúde, mostram que a taxa média de mortes de crianças de 0 a 14 anos no trânsito brasileiro em 2016, último levantamento feito, é de 3,5 mortes por dia. Na série histórica, que começa em 2001, são mais de 2 mil mortes em média, por ano. 

Tão duro quanto ver tantas vidas serem ceifadas tão precocemente, é o que poderíamos ter feito, como pais e profissionais do meio automotivo, para evitar isso. Em primeiro lugar, algo urgente: estimular a cultura da prevenção no Brasil. É preciso disseminar a ideia de que ser proativo ao resguardar aquilo que nos é valioso sempre será a decisão mais inteligente. O seguro não foi criado para ser apenas um resgate para momentos emergenciais: sua vocação é a de garantir às pessoas que os seus patrimônios estarão preservados independente da situação.

Depois, mas tão relevante quanto, precisamos deixar de relativizar os efeitos do chamado “jeitinho brasileiro”, principalmente quando a ação tem o potencial de afetar o meio social – onde enquadra-se o trânsito. Amaldiçoar o volume de multas por infrações no trânsito é praguejar contra o espelho, já que ele não é uma entidade subjetiva. Nós é que estamos no trânsito e o fazemos existir. Se há multa, é porque há desrespeito e imprudência dos motoristas.

As seguradoras têm feito a sua parte junto aos órgãos oficiais, e também entre si, na disseminação da cultura da precaução. A legislação securitária aperfeiçoa-se continuamente, tendo no corpo técnico da Susep um apoio decisivo; e os players do setor vêm criando um ecossistema segurador, que une o que cada um faz de melhor e divide as atribuições.

No fim das contas, todo pai é também professor, e ensina-se para a vida. O que precisa ser prioridade é o cuidado para que os erros que aconteçam, naturais e inevitáveis, tenham a chance de serem corrigidos. E na hora certa.

Denise Bueno
Denise Buenohttp://www.sonhoseguro.com.br/
Denise Bueno sempre atuou na área de jornalismo econômico. Desde agosto de 2008 atua como jornalista freelancer, escrevendo matérias sobre finanças para cadernos especiais produzidos pelo jornal Valor Econômico, bem como para revistas como Época, Veja, Você S/A, Valor Financeiro, Valor 1000, Fiesp, ACSP, Revista de Seguros (CNSeg) entre outras publicações. É colunista do InfoMoney e do SindSeg-SP. Foi articulista da Revista Apólice. Escreveu artigos diariamente sobre seguros, resseguros, previdência e capitalização entre 1992 até agosto de 2008 para o jornal econômico Gazeta Mercantil. Recebeu, por 12 vezes, o prêmio de melhor jornalista de seguro em concursos diversos do setor e da grande mídia.

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