Valor 1000: empresários projetam 2026 com cautela em meio a instabilidade global

As 28 companhias brasileiras que lideram seus setores no país, segundo o prêmio Valor 1000, mantêm planos de crescimento, apesar do cenário internacional instável e das guerras — comerciais, como a tarifária promovida pelos Estados Unidos, e armadas, como na Ucrânia e na Faixa de Gaza. Executivos presentes à 25ª edição da premiação, realizada ontem em São Paulo, destacaram que os desafios devem afetar direta ou indiretamente os negócios, mas que as empresas já se adaptam com estratégias voltadas à eficiência e à gestão flexível, capazes de responder rapidamente a diferentes conjunturas.

O tema fiscal e seu impacto na taxa de juros aparece no topo das preocupações para 2026. Em enquetes feitas durante o evento, representantes das companhias premiadas também apontaram efeitos das questões de segurança nas operações, investimentos em ESG e o uso da inteligência artificial como fatores que vão moldar o ambiente de negócios no próximo ano.

SEGUROS

O setor de seguros brasileiro enfrenta uma pressão sem precedentes, com potencial para afetar principalmente aqueles que não estiverem na vanguarda tecnológica. O grupo Bradesco Seguros, a SulAmérica e o grupo Porto foram os grandes destaques nesta edição do Valor 1000 no segmento de seguros, resseguros e capitalização. Com a entrada em vigor do novo Marco Legal dos Seguros, em dezembro de 2025, e um ambiente econômico mais desafiador, a indústria se prepara para 2026 com estratégias centradas na disciplina técnica, digitalização e, sobretudo, no aprimoramento da jornada do cliente. A meta é ampliar a base segurada e reduzir a enorme lacuna de proteção que ainda caracteriza o Brasil: apenas 3% do Produto Interno Bruto (PIB) é coberto por seguros (excluindo saúde), ante média de 8% em países europeus.

Screenshot

Segundo Dyogo Oliveira, presidente da Confederação Nacional das Seguradoras (CNseg), as mudanças climáticas e a necessidade de maior resiliência social expõem o setor a um desafio histórico: “As mudanças climáticas deixaram de ser um alerta distante para se tornarem um desafio concreto, diário e crescente. O setor de seguros está na linha de frente desse impacto e, por isso, a CNseg atua para ampliar a cobertura, fomentar a criação de soluções inovadoras e fortalecer a resiliência econômica, climática e social do país”, afirma. Entre as iniciativas destacadas pela entidade estão a proposta de criação do Seguro Social contra Catástrofes – que prevê indenizações rápidas para famílias vulneráveis afetadas por desastres climáticos; o incentivo a green bonds para infraestrutura resiliente e a formação de um Hub de Inteligência Climática para apoiar seguradoras no desenvolvimento de novos produtos.

Na liderança isolada do mercado no Valor 1000, o grupo Bradesco Seguros segue mostrando consistência. “Tivemos avanços importantes em várias frentes no primeiro semestre de 2025, como planos de saúde regionais, crescimento em seguros de vida e prestamista, além de expansão em ramos elementares como condominial, empresarial e habitacional”, afirma Ivan Gontijo, presidente do grupo. O executivo destaca o retorno médio sobre o patrimônio líquido acima de 20% e a melhora significativa do índice combinado, reforçando eficiência e disciplina técnica. A estratégia para 2026 seguirá ancorada em diversificação e inovação, com foco em previdência, vida individual e produtos para pequenas e médias empresas (PMEs), além de soluções para riscos climáticos e digitais. “Temos buscado crescer de forma estratégica, priorizando parcerias que fortaleçam nosso ecossistema de proteção, sempre com sustentabilidade e inovação”, completa.

PREVIDÊNCIA

Conforme costuma acontecer no mercado de previdência privada, as seguradoras ligadas aos tradicionais bancos de varejo mantiveram inalteradas as cinco primeiras posições do ranking Valor 1000 em relação ao ano passado, o que se deve principalmente aos seus amplos canais de distribuição. Também não foi surpresa o recorde histórico nas captações brutas, que atingiram R$ 196,1 bilhões em 2024, com alta de 15%, em comparação aos números de 2023. Isso reflete uma gradual mudança de comportamento do brasileiro quanto à necessidade de poupar a longo prazo pensando na aposentadoria — no ano não tão distante de 2020, as captações brutas haviam fechado em R$ 126,6 bilhões, segundo aponta a série histórica da Fenaprevi.

“Fomos surpreendidos pela cobrança de IOF nos planos VGBL. É uma medida que atinge mais a classe média do que a elite. É o caso da pessoa que não iniciou sua acumulação aos 25 anos, mas que tem a oportunidade de investir o valor de uma herança ou da venda de um imóvel por volta de 40 anos. Segundo levantamento interno, nos últimos dez anos, aportes únicos entre R$ 600 mil e R$ 1 milhão no mesmo ano foram realizados em uma única vez em 82% dos casos. Aportes regulares neste montante são pontuais. Com esta medida, é compreensível que haja produtos mais atraentes no mercado para esses valores”, afirma Edson Franco, presidente da FenaPrevi. A partir de 2026, a incidência passa a valer para aportes anuais acima de R$ 600 mil.

PLANOS DE SAÚDE

O setor de planos de saúde está em expansão, graças ao bom momento do nível de emprego, animando operadoras a investir em tecnologia, novas unidades, produtos e parcerias. Dados da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) mostram que em junho de 2025 havia 52,88 milhões de beneficiários de planos de assistência médica — 815, 4 mil a mais do que em dezembro de 2024 —, cerca de 83% em planos coletivos, especialmente os empresariais.

REDE D’OR

Ano em que foram inaugurados cinco novos hospitais, totalizando 70, e com um resultado final de R$ 50,5 bilhões de receita, 2024 foi marcante para a Rede D’Or, vencedora do segmento de serviços médicos no Valor 1000. Entre os hospitais inaugurados estão as primeiras unidades da Atlântica D’Or, uma nova rede hospitalar em parceria com a Bradesco Seguros. “Essa parceria pavimentou um caminho de crescimento importante”, avalia Paulo Moll, presidente da Rede D’Or.

BANCOS

Mesmo diante de um 2024 que começou com projeções macroeconômicas mais positivas do que encerrou, a atividade de concessão de crédito não teve do que reclamar. E os grandes bancos também não. Os empréstimos aceleraram 12,4% e superaram R$ 6 trilhões, o que resultou em ganho líquido conjunto dos bancos que chegou a R$ 191 bilhões, sendo que, deste total, R$ 161,54 bilhões — quase 85% — ficaram na conta das dez maiores instituições financeiras do país. Com a atividade econômica aquecida e a taxa de desemprego na mínima de 6,2%, o desafio foi entrar em 2025 com a inflação pressionada, em 4,83%, e a Selic alta, de 12,25% ao ano. Seguros é um foco dos bancos para elevar a rentabilidade e criar uma vínculo duradouro com o cliente.

Denise Bueno
Denise Buenohttp://www.sonhoseguro.com.br/
Denise Bueno sempre atuou na área de jornalismo econômico. Desde agosto de 2008 atua como jornalista freelancer, escrevendo matérias sobre finanças para cadernos especiais produzidos pelo jornal Valor Econômico, bem como para revistas como Época, Veja, Você S/A, Valor Financeiro, Valor 1000, Fiesp, ACSP, Revista de Seguros (CNSeg) entre outras publicações. É colunista do InfoMoney e do SindSeg-SP. Foi articulista da Revista Apólice. Escreveu artigos diariamente sobre seguros, resseguros, previdência e capitalização entre 1992 até agosto de 2008 para o jornal econômico Gazeta Mercantil. Recebeu, por 12 vezes, o prêmio de melhor jornalista de seguro em concursos diversos do setor e da grande mídia.

DEIXE UMA RESPOSTA

Por favor digite seu comentário!
Por favor, digite seu nome aqui

Ouça nosso podcast

ARTIGOS RELACIONADOS