Por Fábio Morita, diretor executivo de Automóvel, Massificados e Vida da Allianz Seguros
Urbanização acelerada, mudanças climáticas, fenômenos extremos… Os desafios são muitos e as cidades estão no epicentro de quase todos eles. Os eventos que acompanhamos em diversas regiões do Brasil e do mundo, como as enchentes devastadoras, os deslizamentos, os incêndios e os apagões, nos dão a dimensão de como os centros urbanos passam por crises sistêmicas e são vulneráveis a ocorrências repentinas. Com isso, construir cidades resilientes passou de conceito técnico para uma urgência humanitária, econômica e social.
Algumas iniciativas mostram que há um caminho sendo pavimentado. Lançado em 2020, o programa Making Cities Resilient 2030, da Organização das Nações Unidas, reúne mais de 1,8 mil cidades, de 95 países, que buscam se tornar mais resilientes a desastres naturais e riscos urbanos pelos próximos cinco anos. Entre eles, há mais de 350 municípios brasileiros, de Norte a Sul do país, que, com o apoio de especialistas, seguem no processo de diagnosticar e compreender os seus riscos, desenvolver estratégias e implementar ações para tornarem-se referência em resiliência urbana.
Ações como essa representam um passo importante, mas a complexidade dos desafios urbanos também exige uma articulação coordenada. Um estudo publicado pela consultoria Deloitte, em 2024, aponta que 81% dos gestores públicos ao redor do mundo estão priorizando parcerias estratégicas com o setor privado – incluindo empresas de tecnologia e instituições financeiras – como um meio para enfrentar as questões das cidades no século XXI. Neste contexto, um fator deve ganhar protagonismo: a capacidade de antecipar riscos, proteger pessoas e se reconstruir com rapidez. E o seguro tem um papel crucial nessa equação.
Sem seguro, não há cidade resiliente. Isso porque o mercado segurador combina proteção financeira com soluções de prevenção que ajudam a evitar perdas e a fortalecer a capacidade de resposta dos municípios. Para isso, o setor tem investido no aprimoramento de modelos preditivos e na incorporação de tecnologias avançadas para enfrentar os riscos crescentes associados às mudanças climáticas. Combinando modelos estatísticos tradicionais e específicos para eventos naturais em larga escala, as seguradoras utilizam variáveis geodemográficas, topográficas e climáticas para estimar perdas causadas por fenômenos como enchentes, vendavais e ciclones.
O uso de ferramentas como geoprocessamento, inteligência artificial, machine learning e big data permite, ainda, mapear com precisão as áreas mais vulneráveis, personalizar a avaliação dos riscos e acelerar a resposta a desastres. Além disso, as políticas de precificação e subscrição estão cada vez mais sofisticadas e consideram fatores que estimulam comportamentos mais resilientes dos próprios segurados, garantindo uma precificação mais justa e alinhada ao risco real.
No Brasil, também contamos com o fato de que as apólices de seguros têm, em sua maioria, vigência anual, o que permite às seguradoras incorporar dados mais recentes em suas avaliações e realizar ajustes necessários tanto na precificação quanto nas coberturas e na aceitação de riscos.
Na construção de cidades verdadeiramente resilientes, o seguro não é acessório. Ele transforma incertezas em previsibilidade, perdas em recuperação e vulnerabilidades em capacidade de resposta. Junto do governo, das empresas e da sociedade, o setor deve ser visto como um agente estratégico da adaptação climática e da sustentabilidade urbana. A COP30, que acontecerá no Brasil em novembro, será uma grande oportunidade de reconhecer esse papel e ampliar essa agenda. Porque onde há resiliência, há seguro. E, onde há seguro, há futuro.