Valor: Previdência privada reúne dados para tentar convencer governo a voltar atrás no IOF

Planos do tipo VGBL tiveram R$ 140 bi em aportes eventuais e R$ 35 bi em contribuições mensais, aponta mapeamento da Fenaprevi enviado ao governo

Fonte: Valor, por Adriana Cotias

A Federação Nacional da Previdência Privada (Fenaprevi) reuniu um conjunto de informações para subsidiar as conversas com o Ministério da Fazenda e tentar convencer o governo a voltar atrás na imposição de um pedágio de 5% de imposto sobre operações financeiras (IOF) nos aportes mensais acima de R$ 50 mil em planos do tipo VGBL. O objetivo é combater com dados o argumento de que o produto estaria sendo usado para elisão fiscal pelos chamados super-ricos.

Por ora, o segmento está meio paralisado e observou uma queda de cerca de 80% na captação nas últimas duas semanas, com uma perda estimada de arrecadação da ordem de R$ 5 bilhões, segundo executivo que atua nos bastidores do setor. A regra do IOF vale mesmo que o dinheiro esteja distribuído entre diferentes seguradoras ou entidades.

Dos mais de R$ 175 bilhões em captação bruta recebida pelas empresas de previdência aberta no ano passado nos planos VGBL, R$ 35 bilhões vieram de contribuições mensais, e R$ 140 bilhões, de aplicações esporádicas.

Só 515 pessoas fizeram aportes de R$ 10 milhões. Se abranger o universo acima de R$ 5 milhões, o total chega a 1.508 participantes, enquanto na fronteira dos R$ 50 mil para cima foram 509 mil que fizeram pelo menos uma contribuição ao longo de 2024.

Dos 11,2 milhões de brasileiros que estão na previdência aberta, só 4 mil têm saldo acima de R$ 10 milhões, com R$ 8,6 bilhões No conjunto, o setor reúne R$ 1,6 trilhão em reservas. “Para pegar os super-ricos vão afetar a classe média inteira? Parece ser uma medida desproporcional”, diz essa fonte.

Um interlocutor lembra que, em 2023, quando passou a legislação que instituiu o “come-cotas” (o imposto semestral antecipado) em fundos fechados e restritos usados por famílias ultrarricas para gestão de fortunas, o setor se articulou com o governo para evitar uma migração em massa de recursos para carteiras exclusivas de previdência por causa da arbitragem regulatória. Isso porque, nos veículos de previdência, não há come-cotas e o diferimento de imposto até o resgate foi preservado.

Na modernização das regras do setor, o Conselho Nacional de Seguros Privados (CNSP) proibiu a constituição de novos fundos de previdência com saldo individual de R$ 5 milhões de pessoas de um mesmo núcleo familiar. Parte do fluxo acabou alimentando os veículos condominiais.

Há um canal de comunicação aberto com a Fazenda, diz essa fonte, mas não houve, por ora, nenhuma sinalização de revisão da medida. O único aceno foi o adiamento do prazo de cobrança do IOF da previdência para 25 de junho. Se tudo ficar como está, a percepção é que vai representar um golpe “no coração do produto” e que o setor vai voltar algumas casas após avanços significativos consolidados no novo marco regulatório – que possibilitou que parte das reservas do participante fosse usada como garantia de crédito, além da escolha do regime tributário só na hora do usufruto dos recursos.

A avaliação no setor é que a estimativa de arrecadação para o governo caso a medida prevaleça é ilusória. Os participantes simplesmente deixarão de aportar volumes que ultrapassem os R$ 50 mil, por causa da mordida punitiva de 5%, e vão privilegiar produtos como letras de crédito imobiliários e do agronegócio (LCI, LIG e LCA), isentas de imposto de de renda para a pessoa física.
Uma fonte lembra que, para prazos curtos, a previdência é muito ineficiente, leva oito anos para o participante ter direito a uma alíquota de 15% de IR que empata com outras aplicações. Só depois de dez anos é que chega aos 10%, na tabela regressiva.

O VGBL é um produto relativamente novo no Brasil, e quem investe fica em média 7,5 anos nos planos, segundo o mapeamento da Fenaprevi. Outro ponto levado para a mesa de negociações é que o segmento é um grande financiador da dívida pública, respondendo por 13% do estoque de títulos do Tesouro.

Num primeiro momento algumas seguradoras deixaram de acatar novos aportes, e quem tinha sistema para isso barrou aplicações acima de R$ 50 mil. Seguem operando abaixo dessa linha, mas assumindo um risco solidário por não disporem de sistemas que enxerguem o que entra na concorrência. No primeiro trimestre, a previdência aberta recebeu R$ 44,9 bilhões, 92% NO VGBL.

Denise Bueno
Denise Buenohttp://www.sonhoseguro.com.br/
Denise Bueno sempre atuou na área de jornalismo econômico. Desde agosto de 2008 atua como jornalista freelancer, escrevendo matérias sobre finanças para cadernos especiais produzidos pelo jornal Valor Econômico, bem como para revistas como Época, Veja, Você S/A, Valor Financeiro, Valor 1000, Fiesp, ACSP, Revista de Seguros (CNSeg) entre outras publicações. É colunista do InfoMoney e do SindSeg-SP. Foi articulista da Revista Apólice. Escreveu artigos diariamente sobre seguros, resseguros, previdência e capitalização entre 1992 até agosto de 2008 para o jornal econômico Gazeta Mercantil. Recebeu, por 12 vezes, o prêmio de melhor jornalista de seguro em concursos diversos do setor e da grande mídia.

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