Na abertura do primeiro Fórum de Seguros França-Brasil, realizado em Paris em junho de 2025, o presidente da CNseg, Dyogo Oliveira, fez um alerta contundente sobre o risco de marginalização do setor nas decisões globais sobre clima. “Ou aproveitamos a oportunidade de participar e oferecer soluções, ou seremos punidos com ações e políticas que nos deixarão de fora do mercado e de diversas atividades”, afirmou.
Historicamente à margem das grandes negociações climáticas, o setor de seguros passou a ocupar espaço estratégico nas Conferências das Partes da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (COP), principalmente após o Acordo de Paris, firmado em 2015 durante a COP21. Desde então, seguradoras e resseguradoras vêm se consolidando como atores-chave na gestão de riscos, na adaptação às mudanças climáticas e no financiamento de soluções para populações vulneráveis.
“Precisamos nos unir como entidades e participantes para abrir essa janela de oportunidade. Ou nos dedicamos a compreender e participar das soluções que vão construir o marco legal e as políticas públicas, ou seremos excluídos das decisões.”
O discurso reforçou a urgência de articulação global entre seguradoras, resseguradoras e entidades representativas para que o setor assuma protagonismo nas soluções climáticas — não apenas como mitigador de riscos, mas como indutor de investimentos e inovação em adaptação.
A deputada francesa Eleonore Caroit destacou a relevância simbólica e prática do evento ser sediado no coração da Amazônia. “Tenho certeza de que vocês, os brasileiros, saberão dar um jeito e que tudo dará certo, como sempre no Brasil”, disse.
A presidente da France Assureurs, Florence Lustman, destacou que o fórum representa uma oportunidade concreta para repensar os modelos de cobertura e investimento diante dos impactos das mudanças climáticas, além de discutir os desafios da regulação da inteligência artificial. “Vamos cruzar experiências, tentar trazer respostas comuns e construir soluções juntos”, afirmou.
A anfitriã Marie-Aude Thépaut, presidente da CNP Assurances, ressaltou que o papel do setor vai além da proteção financeira. “Temos a convicção de que o nosso papel, enquanto seguradores e investidores, é agir por uma sociedade inclusiva e durável que proteja todos os percursos de vida”, disse.
Também presente, o embaixador Laudemar Aguiar (Secretário de Promoção Comercial, Ciência, Tecnologia, Inovação e Cultura do Ministério das Relações Exteriores) destacou os desafios de penetração do seguro residencial no Brasil, comparando os 14% de cobertura no país com os 97% da França, e reforçou a necessidade de ampliar a proteção como instrumento de desenvolvimento econômico e social.
COP21 (Paris, 2015)
A COP21 marcou um ponto de virada. Além da assinatura do Acordo de Paris, que estabeleceu metas globais de redução de emissões de gases de efeito estufa, o evento impulsionou compromissos do setor financeiro para a descarbonização. Foi nesse contexto que surgiu o Insurance Development Forum (IDF), com apoio da ONU, Banco Mundial e grandes resseguradoras. O objetivo: ampliar o acesso ao seguro e promover a resiliência climática em países em desenvolvimento.
COP23 (Bonn, 2017)
Com foco nas perdas e danos (loss and damage) enfrentados por países vulneráveis, a COP23 reforçou a importância dos seguros soberanos e regionais. Modelos como o Pacific Catastrophe Risk Assessment and Financing Initiative (PCRAFI) e o African Risk Capacity (ARC) foram destacados como soluções eficazes para proteção contra desastres naturais.
COP25 (Madri, 2019)
Apesar da menor visibilidade institucional, o setor esteve presente em discussões paralelas sobre seguros paramétricos, produtos inclusivos e instrumentos de transferência de risco. Especialistas alertaram, no entanto, para a ainda baixa participação das seguradoras nas negociações centrais da COP.
COP26 (Glasgow, 2021)
O reengajamento do setor financeiro foi um dos marcos desta edição. Foi lançada a Net-Zero Insurance Alliance (NZIA), uma coalizão de grandes seguradoras comprometidas com a neutralidade de carbono até 2050. As seguradoras passaram a ser vistas não apenas como financiadoras, mas também como provedoras de inteligência de risco climático. Debates sobre precificação, exclusões contratuais e lacunas de cobertura ganharam espaço.
COP27 (Sharm el-Sheikh, 2022)
O tema loss and damage foi alçado ao centro da agenda, culminando na criação de um fundo internacional para apoiar países afetados por eventos climáticos extremos. O setor de seguros foi chamado a contribuir tecnicamente com soluções como seguros paramétricos, microseguros e modelagem de riscos. A colaboração com bancos multilaterais foi reforçada.
COP28 (Dubai, 2023)
Com maior representatividade institucional, as seguradoras participaram ativamente de painéis sobre adaptação, financiamento climático e infraestrutura resiliente. A COP também destacou o papel do IDF em parceria com o G7 e países africanos. Em paralelo, cresceram as pressões sobre seguradoras que continuam a subscrever projetos ligados a combustíveis fósseis, o que levou a algumas baixas entre os membros da NZIA no ano seguinte.
COP30 (Belém, 2025): a estreia da Casa do Seguro
A próxima edição da COP será realizada em Belém (PA), com o Brasil na presidência da conferência. Em uma iniciativa inédita, a CNseg levará à COP30 a Casa do Seguro, um espaço físico que funcionará como hub de debates, conexões e divulgação de soluções do mercado segurador para os desafios climáticos.
A Casa do Seguro será aberta a autoridades, reguladores, representantes da sociedade civil e comunidade internacional, oferecendo painéis temáticos, apresentações de estudos, experiências de inovação e exemplos de aplicação de seguros na proteção de comunidades e ativos estratégicos frente aos eventos extremos. A iniciativa visa demonstrar, de forma concreta, o valor do seguro como ferramenta de resiliência climática.
Com essa ação, a CNseg quer assegurar que o setor esteja no centro das discussões sobre transição energética, adaptação e financiamento climático, ampliando a visibilidade do mercado brasileiro no cenário global. A expectativa é que seguradoras colaborem com dados, modelagens e propostas para proteger tanto comunidades amazônicas quanto grandes cadeias produtivas ameaçadas pelas mudanças do clima.