CNseg: setor de seguros tem de intensificar o debate climático

A CNseg levará à COP30 a Casa do Seguro, um espaço físico que funcionará como hub de debates, conexões e divulgação de soluções do mercado segurador para os desafios climáticos

Na abertura do primeiro Fórum de Seguros França-Brasil, realizado em Paris em junho de 2025, o presidente da CNseg, Dyogo Oliveira, fez um alerta contundente sobre o risco de marginalização do setor nas decisões globais sobre clima. “Ou aproveitamos a oportunidade de participar e oferecer soluções, ou seremos punidos com ações e políticas que nos deixarão de fora do mercado e de diversas atividades”, afirmou.

Historicamente à margem das grandes negociações climáticas, o setor de seguros passou a ocupar espaço estratégico nas Conferências das Partes da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (COP), principalmente após o Acordo de Paris, firmado em 2015 durante a COP21. Desde então, seguradoras e resseguradoras vêm se consolidando como atores-chave na gestão de riscos, na adaptação às mudanças climáticas e no financiamento de soluções para populações vulneráveis.

“Precisamos nos unir como entidades e participantes para abrir essa janela de oportunidade. Ou nos dedicamos a compreender e participar das soluções que vão construir o marco legal e as políticas públicas, ou seremos excluídos das decisões.”

O discurso reforçou a urgência de articulação global entre seguradoras, resseguradoras e entidades representativas para que o setor assuma protagonismo nas soluções climáticas — não apenas como mitigador de riscos, mas como indutor de investimentos e inovação em adaptação.

A deputada francesa Eleonore Caroit destacou a relevância simbólica e prática do evento ser sediado no coração da Amazônia. “Tenho certeza de que vocês, os brasileiros, saberão dar um jeito e que tudo dará certo, como sempre no Brasil”, disse.

A presidente da France Assureurs, Florence Lustman, destacou que o fórum representa uma oportunidade concreta para repensar os modelos de cobertura e investimento diante dos impactos das mudanças climáticas, além de discutir os desafios da regulação da inteligência artificial. “Vamos cruzar experiências, tentar trazer respostas comuns e construir soluções juntos”, afirmou.

A anfitriã Marie-Aude Thépaut, presidente da CNP Assurances, ressaltou que o papel do setor vai além da proteção financeira. “Temos a convicção de que o nosso papel, enquanto seguradores e investidores, é agir por uma sociedade inclusiva e durável que proteja todos os percursos de vida”, disse.

Também presente, o embaixador Laudemar Aguiar (Secretário de Promoção Comercial, Ciência, Tecnologia, Inovação e Cultura do Ministério das Relações Exteriores) destacou os desafios de penetração do seguro residencial no Brasil, comparando os 14% de cobertura no país com os 97% da França, e reforçou a necessidade de ampliar a proteção como instrumento de desenvolvimento econômico e social.

COP21 (Paris, 2015)
A COP21 marcou um ponto de virada. Além da assinatura do Acordo de Paris, que estabeleceu metas globais de redução de emissões de gases de efeito estufa, o evento impulsionou compromissos do setor financeiro para a descarbonização. Foi nesse contexto que surgiu o Insurance Development Forum (IDF), com apoio da ONU, Banco Mundial e grandes resseguradoras. O objetivo: ampliar o acesso ao seguro e promover a resiliência climática em países em desenvolvimento.

COP23 (Bonn, 2017)
Com foco nas perdas e danos (loss and damage) enfrentados por países vulneráveis, a COP23 reforçou a importância dos seguros soberanos e regionais. Modelos como o Pacific Catastrophe Risk Assessment and Financing Initiative (PCRAFI) e o African Risk Capacity (ARC) foram destacados como soluções eficazes para proteção contra desastres naturais.

COP25 (Madri, 2019)
Apesar da menor visibilidade institucional, o setor esteve presente em discussões paralelas sobre seguros paramétricos, produtos inclusivos e instrumentos de transferência de risco. Especialistas alertaram, no entanto, para a ainda baixa participação das seguradoras nas negociações centrais da COP.

COP26 (Glasgow, 2021)
O reengajamento do setor financeiro foi um dos marcos desta edição. Foi lançada a Net-Zero Insurance Alliance (NZIA), uma coalizão de grandes seguradoras comprometidas com a neutralidade de carbono até 2050. As seguradoras passaram a ser vistas não apenas como financiadoras, mas também como provedoras de inteligência de risco climático. Debates sobre precificação, exclusões contratuais e lacunas de cobertura ganharam espaço.

COP27 (Sharm el-Sheikh, 2022)
O tema loss and damage foi alçado ao centro da agenda, culminando na criação de um fundo internacional para apoiar países afetados por eventos climáticos extremos. O setor de seguros foi chamado a contribuir tecnicamente com soluções como seguros paramétricos, microseguros e modelagem de riscos. A colaboração com bancos multilaterais foi reforçada.

COP28 (Dubai, 2023)
Com maior representatividade institucional, as seguradoras participaram ativamente de painéis sobre adaptação, financiamento climático e infraestrutura resiliente. A COP também destacou o papel do IDF em parceria com o G7 e países africanos. Em paralelo, cresceram as pressões sobre seguradoras que continuam a subscrever projetos ligados a combustíveis fósseis, o que levou a algumas baixas entre os membros da NZIA no ano seguinte.

COP30 (Belém, 2025): a estreia da Casa do Seguro
A próxima edição da COP será realizada em Belém (PA), com o Brasil na presidência da conferência. Em uma iniciativa inédita, a CNseg levará à COP30 a Casa do Seguro, um espaço físico que funcionará como hub de debates, conexões e divulgação de soluções do mercado segurador para os desafios climáticos.

A Casa do Seguro será aberta a autoridades, reguladores, representantes da sociedade civil e comunidade internacional, oferecendo painéis temáticos, apresentações de estudos, experiências de inovação e exemplos de aplicação de seguros na proteção de comunidades e ativos estratégicos frente aos eventos extremos. A iniciativa visa demonstrar, de forma concreta, o valor do seguro como ferramenta de resiliência climática.

Com essa ação, a CNseg quer assegurar que o setor esteja no centro das discussões sobre transição energética, adaptação e financiamento climático, ampliando a visibilidade do mercado brasileiro no cenário global. A expectativa é que seguradoras colaborem com dados, modelagens e propostas para proteger tanto comunidades amazônicas quanto grandes cadeias produtivas ameaçadas pelas mudanças do clima.

Denise Bueno
Denise Buenohttp://www.sonhoseguro.com.br/
Denise Bueno sempre atuou na área de jornalismo econômico. Desde agosto de 2008 atua como jornalista freelancer, escrevendo matérias sobre finanças para cadernos especiais produzidos pelo jornal Valor Econômico, bem como para revistas como Época, Veja, Você S/A, Valor Financeiro, Valor 1000, Fiesp, ACSP, Revista de Seguros (CNSeg) entre outras publicações. É colunista do InfoMoney e do SindSeg-SP. Foi articulista da Revista Apólice. Escreveu artigos diariamente sobre seguros, resseguros, previdência e capitalização entre 1992 até agosto de 2008 para o jornal econômico Gazeta Mercantil. Recebeu, por 12 vezes, o prêmio de melhor jornalista de seguro em concursos diversos do setor e da grande mídia.

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