MetLife On reúne corretores e traz alertas sobre economia, tecnologia e o papel estratégico do seguro

Evento contou com palestras da economista Zeina Latif sobre o cenário fiscal desafiador, da especialista Angélica Carlini sobre o avanço da inteligência artificial, e com a abertura de Ramon Gomez, vice-presidente da MetLife Brasil.

A oitava edição do MetLife On, realizada em São Paulo, Curitiba, Rio de Janeiro e Belo Horizonte, reuniu mais de mil corretores de seguros em encontros marcados por reflexões sobre o futuro da economia brasileira, os avanços da inteligência artificial (IA) e o papel estratégico do setor de seguros diante de um mundo cada vez mais incerto.

Com abertura de Ramon Gomez, vice-presidente comercial da MetLife Brasil, o evento reafirmou seu compromisso em promover conteúdos relevantes e conectados às transformações da sociedade e do setor. “Começamos esse projeto com o nome BTS, depois veio o Conecta, e entendemos que precisávamos colocar no centro da discussão os assuntos que realmente preocupam as pessoas”, explicou Gomez. “Selecionamos os temas com muito cuidado, porque acreditamos que o acesso à informação é também uma responsabilidade.”

Segundo ele, o MetLife On não tem o formato de um evento corporativo tradicional. “Fazemos questão de trazer convidados de alto nível, que realmente acrescentem. Este ano, por exemplo, oferecemos uma visão abrangente da conjuntura global e brasileira, com análises que impactam diretamente o nosso mercado.”

Zeina Latif: “Sem reforma, 2027 pode levar a um shutdown da máquina pública”

A economista Zeina Latif, sócia da Gibraltar Consulting, fez uma análise contundente do cenário fiscal brasileiro. Para ela, o próximo presidente — seja na continuidade ou na alternância do poder — terá que iniciar o mandato com uma reforma fiscal ampla e profunda. “As despesas obrigatórias estão crescendo muito mais rápido do que as receitas, e isso está comprimindo os gastos discricionários. Se nada for feito, o país poderá enfrentar uma paralisação da máquina pública já em 2027”, alertou.

Ela citou o acúmulo de precatórios (R$ 200 bilhões até 2026), a política de valorização do salário mínimo, o novo Fundeb e os pisos constitucionais de saúde e educação como pressões adicionais sobre o orçamento. O pagamento de juros da dívida pública, que já consome 7% do PIB, também contribui para o aperto fiscal.

Segundo Zeina, a dívida pública, que era de 68% ao final de 2022, saltou para 72% e deve continuar em trajetória de alta, enquanto a capacidade do Banco Central de reduzir os juros segue limitada pela desconfiança fiscal. “Para que os juros voltem a um dígito, será necessário um novo desenho de política fiscal.”

Ela concluiu que o Brasil tem potencial de crescimento e resiliência internacional, mas só conseguirá avançar com aumento de produtividade e reformas estruturais. “Precisamos investir em educação, qualificação da força de trabalho e melhorar o ambiente de negócios. O contencioso tributário no Brasil representa 75% do PIB, frente a 1% da média mundial. Nossa produtividade é um quarto da americana.”

Zeina Latif respondeu à pergunta de Ramon Gomez sobre o papel estratégico do seguro diante da informalidade e do envelhecimento da população brasileira. “O mundo não anda mais devagar como antes. Vivemos tempos de alta rotação, com eventos geopolíticos, crises sanitárias e desastres ambientais recorrentes. O seguro precisa fazer parte da vida das pessoas e das empresas. É uma proteção necessária diante da imprevisibilidade.” Segundo ela, o mercado de seguros tem papel fundamental não apenas como amortecedor de riscos, mas também como instrumento de estabilidade social e planejamento financeiro em uma sociedade desigual e envelhecida.

Angélica Carlini: “IA transformará os seguros, mas exige governança e preparo”

A advogada especialista em seguros Angélica Carlini trouxe ao evento um olhar jurídico e estratégico sobre a aplicação da inteligência artificial no setor. Com 41 anos de atuação, Carlini alertou para os impactos profundos da tecnologia e a necessidade de preparo ético e técnico das companhias. “A IA pode causar danos físicos, psicológicos e sociais. A regulação europeia já reconhece isso. No Brasil, também teremos mudanças regulatórias com impactos significativos para o setor”, afirmou.

Carlini explicou como as seguradoras já utilizam IA em aplicações como detecção de fraudes, automação de sinistros, subscrição com base em big data e recomendação de ajustes contratuais. Para os corretores, a tecnologia pode ser aliada na personalização de ofertas, gestão de leads e análise de mercado.

Ela defendeu que o uso responsável da IA exige governança com supervisão humana e compromisso com práticas éticas. “A regulação não resolverá tudo. É preciso estar emocional e tecnicamente preparado para o novo. Convivência com inovação exige equilíbrio emocional, controle da ansiedade e disposição para mudar.”

Entre os desafios estruturais, destacou a qualificação da mão de obra, parcerias com desenvolvedores éticos, criação de produtos digitais e híbridos, além de uma aproximação com universidades e centros de pesquisa.

Carlini reforçou ainda que os dados sempre foram a base dos seguros e que os profissionais do setor devem ser capazes de fazer boas perguntas, identificar riscos e tomar decisões com base em informação qualificada — sem abrir mão da mutualidade e da confiança que definem a essência do seguro. “Somos consultores de risco. Vendemos confiança. A mutualidade é o que nos trouxe até aqui. Seguro é sobre solidariedade. E isso não se automatiza.”

Denise Bueno
Denise Buenohttp://www.sonhoseguro.com.br/
Denise Bueno sempre atuou na área de jornalismo econômico. Desde agosto de 2008 atua como jornalista freelancer, escrevendo matérias sobre finanças para cadernos especiais produzidos pelo jornal Valor Econômico, bem como para revistas como Época, Veja, Você S/A, Valor Financeiro, Valor 1000, Fiesp, ACSP, Revista de Seguros (CNSeg) entre outras publicações. É colunista do InfoMoney e do SindSeg-SP. Foi articulista da Revista Apólice. Escreveu artigos diariamente sobre seguros, resseguros, previdência e capitalização entre 1992 até agosto de 2008 para o jornal econômico Gazeta Mercantil. Recebeu, por 12 vezes, o prêmio de melhor jornalista de seguro em concursos diversos do setor e da grande mídia.

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