Otimismo dá o tom na estratégia das seguradoras para 2º semestre

50 maiores seguradoras apresentaram lucro no 1º semestre, com ganho total de R$ 14 bilhões

Eis o mais recente artigo escrito para o Infomoney

O otimismo prevalece entre os executivos do mercado de seguros em relação ao crescimento das vendas e dos lucros em 2023. Todas as 50 maiores seguradoras apresentaram ganhos no primeiro semestre deste ano, de acordo com um ranking elaborado pela consultoria Siscorp, especializada no setor. Excluindo a área da saúde, o lucro líquido praticamente dobrou, atingindo R$ 14 bilhões, em comparação com os R$ 7,4 bilhões do mesmo período do ano passado. As seguradoras que alcançaram lucros na faixa dos bilhões até junho incluem Bradesco, BB Seguridade, Caixa e Porto Seguro.

A arrecadação proveniente das vendas de seguros, bem como das contribuições para previdência e capitalização no setor de seguros, teve um aumento mais moderado, atingindo 7%, totalizando R$ 181 bilhões. Durante o período de janeiro a junho, o valor total pago em indenizações atingiu R$ 113,64 bilhões, um aumento de 2,42%. Esse crescimento foi principalmente impulsionado por resgates em planos de previdência e por reservas de títulos de capitalização. No âmbito dos seguros, os pagamentos aos clientes diminuíram 6,49%, de acordo com dados da Susep (Superintendência de Seguros Privados).

De modo geral, as seguradoras se beneficiaram dos investimentos em tecnologia, que trouxeram ganhos operacionais, controle de fraudes e aumento na abrangência das vendas através da evolução das plataformas digitais. A taxa Selic, que remunera quase a totalidade dos R$ 1,2 trilhão em reservas, está em 13,25%, o que tem contribuído para os ganhos financeiros. Os reajustes de preços, justificados para compensar as perdas de 2021 e 2022 causadas por acidentes climáticos, riscos de crédito como os da Americanas, bem como os resquícios das complicações geradas pela pandemia, também influenciaram positivamente o resultado final das companhias de seguros.

Dados econômicos e de emprego melhores do que o esperado têm levado bancos e analistas a revisarem suas expectativas de crescimento do PIB para 2023 e a diminuírem as projeções de inflação. As previsões do Programa Desenrola Brasil também têm contribuído para o otimismo das seguradoras. A renegociação de cerca de R$ 8 bilhões em volume financeiro pelos bancos, exclusivamente na Faixa 2, tem impactado positivamente esse cenário.

Ivan Gontijo, presidente do grupo Bradesco Seguros, expressa esse otimismo ao considerar a melhora das condições do país. Ele afirma que estudos internos e externos levaram o grupo a revisar as expectativas de resultados para seguros, previdência e capitalização, aumentando a projeção de crescimento de 6-10% para 21-25% em 2023. Ele ressalta que no início do ano a economia estava menos clara, mas a partir de julho, os economistas passaram a demonstrar claramente um segundo semestre positivo.

O Brasil, de acordo com Gontijo, está atraindo mais interesse de estrangeiros, o que reflete a força do país. Ele menciona a fase de transição entre governos, em um momento delicado devido aos desafios pós-pandemia, e também observa as mudanças no cenário global, como as revisões relacionadas ao Brexit e as evoluções econômicas nos Estados Unidos e Europa.

Essa perspectiva também é compartilhada por Roberto Santos, CEO da Porto, que não vê fatores significativos no segundo semestre que possam afetar negativamente o índice de sinistralidade, um dos principais indicadores para seguradoras. Ele antecipa um retorno à normalidade nos níveis pré-pandemia. O início do ciclo de queda da Selic não preocupa, uma vez que as seguradoras agora consideram o ganho operacional e financeiro ao precificar seus produtos, visando a saúde financeira e a oferta atraente para os consumidores.

Historicamente, o setor de seguros apresenta melhor desempenho no segundo semestre em comparação aos primeiros seis meses do ano. Neste ano em particular, espera-se que seja beneficiado pela retomada dos investimentos em infraestrutura, pelo crescimento do emprego e pela redução da inadimplência de empresas e indivíduos. O Programa Desenrola, que já beneficiou 10 milhões de brasileiros na renegociação de dívidas, também contribui para essas perspectivas positivas.

Os resultados do segundo trimestre refletem uma melhora evidente, impulsionando positivamente o resultado do semestre. O braço segurador do Bradesco, por exemplo, contribuiu com mais da metade do lucro do banco, com um lucro de R$ 4,1 bilhões (+21,6%) no primeiro semestre, enquanto o lucro líquido recorrente do banco foi de R$ 8,8 bilhões (-36,5%). As receitas provenientes das vendas de seguros e das contribuições de previdência e capitalização somaram R$ 50,5 bilhões (+10,3%).

O objetivo agora é fechar 2023 com um faturamento de R$ 100 bilhões, colocando o grupo entre as 10 maiores corporações do Brasil. Essa ambição é sustentada por áreas comerciais remodeladas, foco nas necessidades dos clientes e corretores, e investimentos em tecnologia, incluindo a migração de sistemas para a nuvem e processos de transformação digital. A estratégia busca oferecer produtos e preços adequados, bem como impulsionar sinergias e redução de custos operacionais.

A BB Seguridade, apesar das dificuldades enfrentadas nos últimos dois anos devido às mudanças climáticas, registrou um lucro líquido de R$ 3,7 bilhões no primeiro semestre, um aumento de 37,3% em comparação com o mesmo período do ano anterior. O resultado operacional cresceu 32% no semestre, sendo impulsionado principalmente pela redução significativa da sinistralidade em seguros agrícolas, aumento das vendas de seguros prestamista e rural, além de crescimento em planos de previdência e capitalização.

PAC e os investimentos previstos em R$ 1,7 trilhão 

Os executivos de seguros também estão contando com o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), que prevê investimentos de R$ 1,7 trilhão, sendo R$ 1,4 trilhão até 2026. Esse programa visa elevar o índice de conclusão das obras de infraestrutura, um fator importante para o setor de seguros. Alessandro Octaviano, Superintendente da Susep, ressalta a importância do seguro como suporte para os investimentos na construção de infraestrutura e inovação industrial.

A Susep planeja lançar um programa em agosto para melhorar o ambiente de contratação de seguros relacionados a esses investimentos, em colaboração com seguradoras, segurados e outras partes interessadas. O PAC, com seu impacto na economia, gera empregos e influencia diversos segmentos, incluindo seguros de saúde, proteção para financiamentos, seguros para carros, casas e empresas que buscam garantir a conclusão de obras e proteção contra imprevistos.

Nesse contexto, seguradoras, resseguradoras e corretoras de seguros estão investindo para aproveitar as oportunidades de negócios no Brasil. A Conferência Hemisférica de Seguros da FIDES, um importante evento para o mercado segurador nas Américas e Península Ibérica, está com ingressos esgotados. Os temas abordados na conferência incluem desafios da longevidade, riscos cibernéticos, sinistros em grandes obras de infraestrutura, mudanças climáticas e questões relacionadas a questões ambientais, sociais e de governança.

Em resumo, o otimismo está se espalhando entre as empresas de seguros devido ao crescimento das vendas e dos lucros, impulsionado por fatores como investimentos em tecnologia, reajustes de preços, melhores dados econômicos e ações governamentais. As perspectivas positivas estão alinhadas com as expectativas de crescimento do PIB, redução da inflação e os investimentos projetados pelo PAC, que têm potencial para impulsionar o setor de seguros no Brasil.

Denise Bueno
Denise Buenohttp://www.sonhoseguro.com.br/
Denise Bueno sempre atuou na área de jornalismo econômico. Desde agosto de 2008 atua como jornalista freelancer, escrevendo matérias sobre finanças para cadernos especiais produzidos pelo jornal Valor Econômico, bem como para revistas como Época, Veja, Você S/A, Valor Financeiro, Valor 1000, Fiesp, ACSP, Revista de Seguros (CNSeg) entre outras publicações. É colunista do InfoMoney e do SindSeg-SP. Foi articulista da Revista Apólice. Escreveu artigos diariamente sobre seguros, resseguros, previdência e capitalização entre 1992 até agosto de 2008 para o jornal econômico Gazeta Mercantil. Recebeu, por 12 vezes, o prêmio de melhor jornalista de seguro em concursos diversos do setor e da grande mídia.

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