Por Luiz Eduardo Halembeck, sócio-fundador do Grupo Halembeck Seguros
De acordo com o Datafolha, ter um seguro saúde ganhou um novo status na vida das pessoas, de uma necessidade básica, virou o terceiro maior desejo do brasileiro, e, para grande parte da população, ter um plano convencional é considerado um artigo de “luxo”.
Segundo dados da ANS, apenas 23,5% dos brasileiros têm acesso a esse tipo de produto, o que significa uma pequena fração da população do país, de 215 milhões de pessoas. Desse montante, apenas 4,14% têm acesso a um plano individual e 19,35% possuem planos coletivos empresariais.
Esses números retratam uma parte do cenário nada animador que o setor de saúde suplementar vive nos últimos anos. Dados da Fenasaúde apontam que esse mercado é bastante relevante para a economia do país: movimenta 3% do PIB e emprega 5 milhões de pessoas. No ano passado, o índice de sinistralidade das operadoras foi nas alturas: fechou o período em 89,2%, gerando um prejuízo operacional de R$ 10,7 bilhões, pior resultado obtido nos últimos 25 anos.
Mas aí você deve estar se fazendo a seguinte pergunta nesse momento: se as operadoras aumentam o valor das mensalidades, por que estão operando no vermelho? A resposta é simples: a conta não fecha.
Para compreender melhor esse cenário, vale destacar os principais fatores que afetam consideravelmente o lucro das operadoras. A começar pelas fraudes, abuso na utilização desnecessária, despesas jurídicas e regulatórias. Soma-se a isso ainda o novo rol de procedimentos a obrigatoriedade de incorporar tecnologias inovadoras que custam caro, sem uma projeção de retorno disso às empresas de saúde.
E é nesse ambiente desafiador que ocorrem os grandes problemas vivenciados por quem tem plano de saúde suplementar, incluindo, além dos reajustes elevados, as negativas de atendimento e procedimentos e os cancelamentos de contratos unilateralmente, pegando o consumidor de surpresa.
Do outro lado, enquanto a maioria da população carece de atendimento na rede de saúde privada, os segurados de maior renda, que também sentiram na pele o aumento do preço de seus planos, estão buscando alternativas para tornar essa despesa menos pesada. As estratégias que estão ganhando força nesse sentido é a compra de produtos com rede credenciada premium que inclui médicos renomados, produtos com cobertura de internações e os produtos para Gastos Médicos Maiores, que oferece atendimento livre-escolha em provedores renomados de saúde no Brasil e no exterior, sem burocracia para procedimentos mais caros, como por exemplo, transplantes, doenças raras e câncer.
Os custos dos planos com cobertura de internações chegam a ser 40% menores se comparados aos planos que incluem a cobertura ambulatorial e essa mudança tem levado a um uso mais consciente na utilização ambulatorial, algo que vem sendo buscado pelas operadoras, principalmente com o alto índice de fraudes e realização de procedimentos desnecessários. Fraudes essas que correspondem a 30% dos procedimentos médicos no país, o que acaba, no fim, sendo cobrado do próprio consumidor.
Outra tendência que também se fortaleceu nos últimos anos, para tentar atender as pessoas que estão com dificuldade de manter seus planos de saúde suplementar foi a criação de franquias de saúde – as chamadas healthtechs – que consistem em redes de atendimento que oferecem consultas e exames a preços mais atrativos. De acordo com dados da ABF, essas empresas respondem por 13% das 50 maiores franquias brasileiras. Em 2021, elas chegaram a faturar R$ 38,1 bilhões.
Esse cenário como um todo deve se agravar e a tendência é que com a dificuldade de manter um plano de saúde, o sistema público de saúde deve ficar sobrecarregado e sem condições de absorver essa demanda. Para se ter ideia, de acordo com dados do Instituto de Estudos para Políticas de Saúde, o investimento em saúde pública caiu 64% nos últimos anos.
Como endereçar toda essa problemática? Eu acredito em dois caminhos. O primeiro deles é promover maior flexibilização na regulamentação das operadoras, que são vistas como vilãs do mercado. E a segunda alternativa é mudança na legislação promovendo um bom aumento no orçamento na área da Saúde com respectivo controle de gastos visando melhoria substancial para a toda a população para que a utilização dos produtos de Saúde Suplementar, seja realmente suplementar.
Enquanto nada disso acontece, o consumidor seguirá pagando a conta. E a falta de acessibilidade e democratização do atendimento médico vai ficando cada vez mais para depois.