Mercado de resseguros vive momento de condições rígidas de negociações, afirma vice-presidente da Alper Re

O resultado é elevação de taxas, de franquias e menor apetite pelos contratos, mesmo aqueles sem histórico de sinistros”, conta o vice-presidente da Alper Re, Eduardo Toledo

As difíceis condições de negociação impostas pelos resseguradoras mundiais estão exigindo muita inovação dos corretores especializados no tema, que buscam capacidade financeira para viabilizar os contratos de seguros em melhores condições de preço e de cobertura. O atual momento internacional é conhecido como “hard market”. “Muitos resseguradores e investidores estão revendo suas posições estratégicas ao contabilizarem perdas com a pandemia e segmentos com elevada sinistralidade, como riscos cibernéticos. No Brasil, as perdas recordes no seguro rural também assustaram os resseguradores. O resultado é elevação de taxas, de franquias e menor apetite pelos contratos, mesmo aqueles sem histórico de sinistros”, conta o vice-presidente da Alper Re, Eduardo Toledo.

Neste cenário de condições mais duras de negociações, o especialista em resseguros da Alper parte para negociar presencialmente com os principais mercados de resseguros do mundo presentes no Lloyd’s of London, que agrupa mais de 300 sindicatos que atuam nos mais diferentes riscos. “Passada a pandemia, esperávamos uma desaceleração significativa da taxa. Mas os preços continuam a aumentar em quase todas as geografias e linhas de produtos em todo o mundo”, cita. Além de buscar mais capacidade para os clientes no Brasil com as resseguradoras tradicionais, a Alper Re tem ampliado contatos para pulverizar o painel de resseguradores, incluindo também outros mercados, como China, Índia e Emirados Árabes. 

Toledo afirma que para o mercado global de resseguros e o mercado de Londres, a guerra em si representa um evento de catástrofe de médio porte, afetando principalmente linhas especializadas como aviação, marítima, risco político, crédito comercial e seguro cibernético. No entanto, os “players” tiram o pé do acelerador para rever estratégias devido a perdas com a pandemia, catástrofes e explosão de ataques de hackers em todo o mundo. “As restrições de capacidade mais rígidas em riscos cibernéticos sinalizam a urgência de rediscutir as coberturas e a forma de calculo dos custos de perdas para ter um parâmetro de indenizações mais claro”, comenta. 

As catástrofes são uma preocupação recorrente por ter uma média de pagamentos de indenizações com tendência de alta ano a ano. As perdas seguradas por catástrofes naturais atingiram US$ 111 bilhões em 2021, 33% acima do valor de 2022 e a quarta maior nos registros da Sigma, divisão de estudos da Swiss Re, confirmando a tendência de longo prazo de perdas seguradas em alta média de 5 a 7% ao ano em todo o mundo.

Segundo relatório da Fitch Ratins divulgado em abril deste ano, a guerra Rússia-Ucrânia exacerbou algumas das tendências macroeconômicas negativas que afetam as resseguradoras e o mercado de Londres. A inflação crescente, que já estava elevando os custos de sinistros, acelerou. O aumento da volatilidade do mercado financeiro levou a exigências de capital regulatório mais alta e – em alguns casos – as perdas de investimento devido a spreads de crédito mais amplos e avaliações de ações mais baixas. Cita também a pressão sobre o crescimento econômico pode diminuir a demanda por cobertura de seguros e resseguros.

Um aspecto positivo na análise do setor de resseguros é que a capitalização do setor é forte, tendo se recuperado de perdas pandêmicas de 2020 e 2021, com a disciplina de subscrição. Com o tempo, taxas de juros mais altas para combater a alta inflação podem levar a um aumento da receita de investimentos, compensando parcialmente o efeito da inflação de sinistros na lucratividade geral das seguradoras e resseguradoras. Isso pode trazer de volta um ciclo “soft” para as taxas de resseguros. 

“Nosso esforço é negociar as melhores taxas para os clientes da Alper, mesmo em um ciclo hard. E temos conseguido, como mostra nosso crescimento em 2021 e no primeiro trimestre deste ano. Conquistamos clientes relevantes e estamos prospectando diversos clientes da Alper para entendermos mais os riscos e necessidade de proteção que necessitam”, diz Toledo. 

Além dos riscos tradicionais, a Alper Consultoria em Seguros busca inovar, com a criação do facility de seguro de atletas e jogadores de futebol profissionais que queiram coberturas adequadas a Lei Pelé. A modalidade cobre despesas de vários tipos, como em caso de um dano físico que impeça o profissional de continuar no exercício da sua função de forma temporária ou permanente, além de cobertura de morte por causas naturais e acidentais. 

“Hoje, no Brasil, tem poucas seguradoras que trabalham nesse nicho e que têm coberturas adequadas a Lei Pelé. Acredito que seremos pioneiros neste segmento com o nível de abrangência de coberturas seguradas que estamos oferecendo. Para atender essa demanda, firmamos contrato com uma seguradora no Brasil e um ressegurador internacional, para juntos viabilizarmos o produto”, cita Toledo. 

O executivo cita que além da agilidade, há condições de aceitação estabelecidas, domínio do clausulado e das políticas de subscrição, o que traz agilidade e desburocratiza a contratação. O executivo ressalta ainda que a Alper tem uma equipe especializada no tema, o que permite fazer contratos adequados a realidade de cada atleta. “Este segmento é muito carente no Brasil, o ‘país do futebol’. Queremos atender os clubes e atletas que precisam de um contrato com opções satisfatórias aos seus interesses”, conclui Toledo. 

Denise Bueno
Denise Buenohttp://www.sonhoseguro.com.br/
Denise Bueno sempre atuou na área de jornalismo econômico. Desde agosto de 2008 atua como jornalista freelancer, escrevendo matérias sobre finanças para cadernos especiais produzidos pelo jornal Valor Econômico, bem como para revistas como Época, Veja, Você S/A, Valor Financeiro, Valor 1000, Fiesp, ACSP, Revista de Seguros (CNSeg) entre outras publicações. É colunista do InfoMoney e do SindSeg-SP. Foi articulista da Revista Apólice. Escreveu artigos diariamente sobre seguros, resseguros, previdência e capitalização entre 1992 até agosto de 2008 para o jornal econômico Gazeta Mercantil. Recebeu, por 12 vezes, o prêmio de melhor jornalista de seguro em concursos diversos do setor e da grande mídia.

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