Vale tem resseguradora cativa em Barbados

Uma das formas de tentar trazer clareza aos seguros da mineradora Vale é pela resseguradora cativa em Barbados, a Monticello Insurance Limited (MIL), responsável pelo gerenciamento global de risco do grupo no mundo. A MIL é integralmente detida pela Vale International S.A, que por sua vez é detida 100% pela Vale. Vários especialistas procurados pelo blog Sonho Seguro para falar deste tema se negaram. Então vamos ver o que o Google tem para nos contar.

Em novembro de 2017, a Fitch atribuiu rating de Força Financeira de Seguradora (IFS) de ‘BBB +’ à Monticello com um Outlook Estável, afirmando que a cativa não é vista como um centro de lucro para o grupo, mas seu objetivo é melhorar a eficiência e apoiar os esforços de otimização operacional e financeira. Os índices de capitalização e alavancagem podem ser afetados negativamente por grandes perdas em potencial. Em 2012 e 2013, o grupo aportou US$ 241 milhões na cativa, quando seu capital se deteriorou significativamente devido a grandes perdas. No relatório, a agência cita que os ganhos acumulados entre 2013 e 2016 totalizaram US$ 70 milhões, o que correspondeu a cerca de 20% dos ativos da Monticello no final de 2016.

Em dezembro de 2017, outra agência, a Mooyd’s Investors Service, retirou os ratings de força financeira de seguro B1 (IFS) da cativa, bem como a perspectiva estável. Isso atrapalha muito a negociação de risco no mercado mundial. Muitas resseguradoras e seguradoras são obrigadas, pelas matrizes, a negociarem com empresas com um rating mínimo estabelecido. Sem rating, a situação fica muito complicada, para não dizer impossível.

A Monticello é uma parte essencial do programa de gerenciamento de risco da Vale e é a única cativa utilizada no programa de seguro de propriedade e interrupção de negócios da Vale em todo o mundo, segundo informa o relatório da Moody’s. O apoio financeiro da Vale à Monticello é um fator-chave para o rating de crédito, que, por sua vez, é tido como base pelas players do mercado de seguros mundial para aceitar, ou não, parte dos riscos repassados pela cativa. Sendo assim, o apoio da Vale nas obrigações da cativa em relação a suas seguradoras de “front” (que emitem as apólices em cada país) é vital, embora esse apoio seja limitado pela força de crédito intrínseca da Vale.

Depois de retirar os ratings, a Moody’s não divulgou mais nada sobre a Monticello. Assim, poucas informações foram compartilhas sobre o ano de 2018, quando as negociações para pagamento das indenizações do caso Samarco ganharam mais força, pressionando a força financeira e imagem institucional da mineradora. Certamente muita coisa deve ter mudado de 2017 para cá. A mais recente notícia é um anúncio de vaga no LinkedIn para analista de risco na unidade de Saint-Prex Vaud, Suíça, que transfere os riscos para Barbados. O centro de controle dos riscos de seguros fica no Brasil, subordinado ao departamento de gerenciamento de riscos.

Uma seguradora ou resseguradora cativa é uma companhia que faz o seguro da empresa controladora. Segundo o portal Captive.com há mais de 6 mil no mundo, sendo 3.090 nos Estados Unidos (Vermont, Utah e Delaware são os principais), e 2.461 em outros países, sendo Bermudas o principal paraíso fiscal, com 739, segundo o mais recente levantamento de 2017.

O objetivo da cativa é auto-financiar os riscos do segurado, que participa ativamente das decisões de subscrição, operacionalização e investimento da cativa. Os principais domicílios das cativas hoje são Bahamas, Vermount, Bermudas, Dublin, Luxemburgo e Ilhas Cayman.

Existem vários tipos de cativas. As mais comuns são as tradicionais e as criadas por um grupo de empresas de um mesmo setor. Isso porque elas têm necessidade de criar um mercado para fornecer cobertura para determinados riscos que não encontram no mercado ou, se encontram, o preço é muito alto, como mineradoras, empresas de petróleo e gás, aéreas, empresas de transporte de carga ou de valores. As empresas financiam determinado valor e cada uma pode ter acesso a determinado valor por sinistro ocorrido.

O aluguel de cativa também é comum. Quando a empresa está em dúvida na política de seguro que deve adotar, pode fazer um teste alugando uma cativa, ficando sem as obrigações de gerenciar. As principais vantagens de utilizar uma cativa, segundo os consultores, são reduzir o custo de gerenciamento de risco; estabilidade do prêmio de seguro; provisão para cobrir prejuízos não seguráveis; acesso ao mercado de resseguro; maior liquidez no fluxo de caixa; programa de seguros sob medida; e maior eficiência na liquidação de sinistros.

As empresas brasileiras são um alvo para os consultores em captação de cativas. Em um recente evento sobre cativas – World Captive Forum 2019 -, a América Latina foi citada como a nova fronteira para seguros cativos, de acordo com Tim Faries, sócio-gerente da Appleby, segundo noticiou o portal Captive Insurance. “A região representa uma oportunidade significativa, que vem se desenvolvendo há muito tempo”, descreveu, segundo o post. “A lacuna no mercado latino-americano também pode ser vista como uma oportunidade. Existem centenas de empresas na região cujo financiamento e gestão de risco poderiam ser melhorados através de uma cativa. Nós vemos isso como uma oportunidade significativa para o crescimento dos cativas. Pensamos que a América Latina é a nova fronteira para o conceito cativo ”, disse, reforçando o potencial do Brasil.

Outros painelistas, como Javier Mirabal, consultor de gerenciamento de riscos corporativos da Javier Mirabal Risk Management, também enfatizaram o potencial da região. Mirabal destacou que havia 233 empresas privadas na região, com faturamento acima de US$ 1,25 bilhão em 2017, são candidatos a uma cativa, mas há apenas cerca de 115 cativas latino-americanos. De acordo com Mirabal, a principal causa dessa lacuna são questões de governança da empresa, e não problemas financeiros.

Ele explicou: “A questão principal não é problemas financeiros, os números estão lá. A principal barreira são os problemas de governança da empresa, como a forma de conectar as cativas ao quadro jurídico nacional. Ou como explicar às partes interessadas que você está incluindo um veículo financeiro fora de seu país, apenas para otimizar seu processo de financiamento de risco”, informa o portal. “Há uma falta de conhecimento de como a cativa trabalha e como usá-la. Pode haver pessoas com esse conhecimento, mas muitas vezes elas não têm o nível operacional na empresa para promulgar mudanças. ”

Bartolome Massot, chefe da América Latina na Quest Management Services, destacou as três maiores barreiras à entrada de cativos na América Latina. “As maiores barreiras à entrada na América Latina são a falta de conhecimento alternativo sobre transferência de riscos, fronting e as exigências de capital”. Massot também se concentrou na estreita correlação entre o crescimento do prêmio de seguros e o crescimento do PIB na América Latina nos últimos 10 anos. Ele sugeriu que esta estreita correlação sugere que, como o crescimento do PIB deve melhorar em 2019, o crescimento do prêmio pode ter um aumento similar.


Denise Bueno
Denise Buenohttp://www.sonhoseguro.com.br/
Denise Bueno sempre atuou na área de jornalismo econômico. Desde agosto de 2008 atua como jornalista freelancer, escrevendo matérias sobre finanças para cadernos especiais produzidos pelo jornal Valor Econômico, bem como para revistas como Época, Veja, Você S/A, Valor Financeiro, Valor 1000, Fiesp, ACSP, Revista de Seguros (CNSeg) entre outras publicações. É colunista do InfoMoney e do SindSeg-SP. Foi articulista da Revista Apólice. Escreveu artigos diariamente sobre seguros, resseguros, previdência e capitalização entre 1992 até agosto de 2008 para o jornal econômico Gazeta Mercantil. Recebeu, por 12 vezes, o prêmio de melhor jornalista de seguro em concursos diversos do setor e da grande mídia.

1 COMENTÁRIO

DEIXE UMA RESPOSTA

Por favor digite seu comentário!
Por favor, digite seu nome aqui

Ouça nosso podcast

ARTIGOS RELACIONADOS