Idosos não pensam em mudar de plano, revela pesquisa do Datafolha

A ‘Pesquisa Longevidade: Idosos e Planos de Saúde’, divulgada hoje pela Federação Nacional de Saúde (FenaSaúde) durante o 3º Fórum de Saúde Suplementar, que acontece até amanhã em São Paulo, vai de encontro com o que percebo no dia a dia de convivência com pessoas acima de 60 anos. O levantamento mostra que 97% não pensa em mudar de plano e que 64% de beneficiários acima de 60 anos percebem seu estado de saúde como “Bom ou ótimo”. Esse índice cai para 53% para os idosos que não dispõem do serviço.

Minha sogra, tias e amigas com essa idade não podem me ver que começam a contar tudo sobre o plano de saúde, de tantos problemas e dúvidas que já as ajudei a resolver. Então posso dizer até que tenho um MBA no assunto. E elas são categóricas: não mudo de plano. Ai eu aviso: se mudar, nunca mais vai ter um para comprar, pois não vendem mais planos individuais.

Elas retrucam: é caro, mas me atende bem. Uma coisa ou outra não cobre, como exame para verificar vitamina D, mas ai eu pago pois não é tão caro. Custa menos de R$ 100. Uma delas, que teve um reajuste muito acentuado ao completar 70 anos, pediu ajuda. A seguradora logo se prontificou a fazer um estudo do uso do plano e sugerir alguma adaptação que torne o preço mais acessível, sem que ela perca coberturas básicas. “Vamos ver o que vem. Desde que eu tenha garantida internação em bons hospitais, posso rever, pois não preciso mais de cobertura para AIDS ou parto”, brinca ela.

Uma delas precisou ficar três dias na UTI depois de um episódio de amnésia após um estresse acima do limite do corpo e da mente. E conta para todas: “imagina se eu tivesse que ir para o SUS? Tinha morrido. E se tivesse que pagar ou pedir ajuda para os meus filhos? Deus me livre. Ainda bem que tenho plano de saúde. Só esses três dias de UTI já pagaram mais de um ano de plano”, diz.

Ai faço as contas com ela e mostro que o custo do que usa, um check-up com cardiologista e ginecologista por ano, equivale a um terço do valor pago anualmente a operadora de saúde, caso optasse por ficar em plano e usasse uma das centenas de clinicas de preço popular que surgiram nos últimos dois anos. Minha moral vai por água abaixo com esse comentário. Elas começam a falar mais alto, como se eu fosse uma ignorante: “Ah vá… E se a gente precisar ser internada? Ninguém sabe se vai ter uma pedra no rim, na vescicula, um problema do coração”, retrucam, contando dezenas de casos de amigas que precisaram de um procedimento cirúrgico de emergência.

A tranquilidade de saber que tem o plano particular para uma emergencia hospitalar não tem preço, segundo elas. E realmente estar seguro de ser atendido em caso de uma necessidade de internação, seja de urgência ou para uma cirurgia planejada, é um fator relevante para a redução de estresse e melhora da qualidade de vida. “Sem contar na moça que me liga todo mês para saber se estou bem, se preciso de algo”, acrescenta uma das minhas amigas 70+.

Esse meu universo vai de encontro com o resultado da pesquisa com 1.110 pessoas a partir dos 60 anos – com e sem plano de saúde – nas cidades do Rio de Janeiro e de São Paulo, que o Datafolha entrevistou.

“Esse resultado soma-se ao índice de 70% de satisfação do idoso com seu plano de saúde também demonstrado na pesquisa, sendo que 53% está satisfeito com tudo. Hoje, cria-se uma imagem de que o idoso é maltratado pelo serviço até ser expulso pelos planos, o que não foi constatada pela pesquisa, antes o contrário. Para ter ideia, os beneficiários acima dos 60 anos têm, em média, seus planos há 19 anos e a maioria não pretende mudar de plano nos próximos seis meses”, revela Solange Beatriz Palheiro Mendes, presidente da FenaSaúde.

O acesso do idoso aos serviços também foi comprovado pela pesquisa. O idoso que dispõe do serviço faz mais exames em relação a quem não tem o atendimento privado à saúde. Segundo o Datafolha, 51% dos beneficiários acima dos 60 anos na amostra faz, pelo menos, um exame a cada seis meses. Esse número cai para 39% para os idosos que não têm plano.

Atualmente, há 6,2 milhões de beneficiários acima dos 60 anos – grupo que mais cresce nos planos de saúde. Nos últimos doze meses terminados em julho de 2017, aumentou em 2,3% o número de idosos detentores de planos, enquanto as faixas etárias mais jovens apresentaram quedas significativas de beneficiários.

Em geral, 24% da população brasileira é coberta pelos planos de saúde. Na pesquisa, 37% dos idosos têm assistência privada, sendo que 50% acima da faixa etária dos 80 anos possui o atendimento. “O plano é um serviço estimado pelo idoso, que tem a garantia de atendimento à saúde de qualidade, como comprovam os resultados. Isso demostra que não há seleção de risco por parte das operadoras, como muitos alardeiam sem razão”, explica a executiva.

“Outro dado interessante é o que o clínico geral é a segunda especialidade mais procurada, o que mostra que não há barreira cultural para um médico generalista ser um orientador do cuidado. A FenaSaúde defende esse tipo de modelo de atendimento que possibilita uma visão integrada do paciente, na qual um profissional detém todo o histórico de saúde”.

As associadas à FenaSaúde realizam programas de promoção e prevenção à saúde em todas as faixas etárias de seus beneficiários, como também participam do programa ‘Idoso Bem Cuidado’, da Agência Nacional de Saúde Suplementar, que visa a melhora na qualidade do atendimento por meio de um acompanhamento sistemático.

Planejamento financeiro – Além de um retrato da saúde de idosos com ou sem plano, a pesquisa Datafolha também apresenta características que influenciam a qualidade de vida desse grupo da população. O planejamento financeiro mostra, mais uma vez, a relação entre planos de saúde e idosos: dos 34% que fizeram planejamento, 46% possuem plano de saúde. Já em relação aos 66% que não se planejaram, 73% não têm o benefício.

O desafio agora está em ofertar um produto para idosos que estão fora do sistema e desejam entrar. Com preços acessíveis para eventuais internações, pois esse é o que mais aflige o 60+. O custo de consultas e exames a família consegue pagar. De nada adiantará um seguro “popular” só para consultas e exames.

O risco está na internação. Segundo a pesquisa, 87% da mostra entrevistada não foi internada em hospital nos últimos 12 meses. Em cinco anos, 73% não usou esse serviço. Já o uso de pronto socorro é mais comum: 62% nunca usaram nos últimos 12 meses e 46% em cinco anos. “Pode parecer um número baixo, mas é muito elevado quando considerado o custo”, destaca José Cechin, diretor da FenaSaúde.

No entanto, são mensalidades elevadas e que ajudam a operadora de saúde a manter o equilíbrio das contas, uma vez que já perderam mais de 1,5 milhão de clientes no último ano e a entrada de jovens para subsidiar o equilibro da carteira está retraído. A saída é abusar de programas de qualidade de vida, de controle de doenças crônicas e “agir” para colocar em prática o diagnóstico já desenhado a quatro mãos para tornar a saúde suplementar sustentável no longo prazo, tanto a pública como a privada.

Se nada for feito, a saúde privada custará cada dia mais num cenário que o consumidor não suporta mais o custo. “Isso pode, em pouco tempo, ser um problema semelhante ao da previdência, que consome boa parte da receita do governo com impostos, acarretando um déficit fiscal sem precedentes para um país que ainda carece de investimentos básicos em saneamento, educação e infraestrutura”, finaliza Márcio Coriolano, presidente da CNseg. “Não temos mais tempo. O momento de agir é agora”.

Acesse a pesquisa online aqui

Denise Bueno
Denise Buenohttp://www.sonhoseguro.com.br/
Denise Bueno sempre atuou na área de jornalismo econômico. Desde agosto de 2008 atua como jornalista freelancer, escrevendo matérias sobre finanças para cadernos especiais produzidos pelo jornal Valor Econômico, bem como para revistas como Época, Veja, Você S/A, Valor Financeiro, Valor 1000, Fiesp, ACSP, Revista de Seguros (CNSeg) entre outras publicações. É colunista do InfoMoney e do SindSeg-SP. Foi articulista da Revista Apólice. Escreveu artigos diariamente sobre seguros, resseguros, previdência e capitalização entre 1992 até agosto de 2008 para o jornal econômico Gazeta Mercantil. Recebeu, por 12 vezes, o prêmio de melhor jornalista de seguro em concursos diversos do setor e da grande mídia.

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