Exposição de acidentes ambientais na mídia e nas redes sociais aumenta procura pelo seguro ambiental

Fonte: CNseg

O cenário está mais favorável para a contratação do seguro ambiental. A afirmação foi feita por praticamente todos os 16 executivos que participaram dos quatro paineis no 4º Seminário de Seguros e Riscos Ambientais, realizado pela Associação Internacional de Direito de Seguros (AIDA), no auditório do Sindicato das Seguradoras de São Paulo (SindSeg-SP), no dia 10 de agosto.

Ajudar seus clientes a perceberem os riscos a que estão expostos em caso de, por exemplo, uma poluição súbita, e criar soluções diferenciadas para cada um deles tem ocupado boa parte da agenda dos executivos envolvidos com seguro ambiental. O objetivo do evento foi analisar as principais peculiaridades relacionadas aos danos ambientais, suas formas de reparação e a sistemática de atuação dos seguros ambientais.

Um dos exemplos citados para mensurar o tamanho do desafio dos especialistas é o termo técnico usado praticamente para todas as apólices empresariais: custo de limpeza. “Esse termo tem significados diferentes em apólices como transporte, ambiental e responsabilidade civil. Um custo de limpeza em uma apólice de transporte é uma coisa. Outra, é ter de recuperar um dano ambiental. Temos de deixar isso claro”, ressalta Alfredo Chaia, executivo da International Risk Veritas Advisors&Solutions.

Entre as maiores seguradoras que operam no ramo estão Chubb, AIG, Tokio Marine, HDI, XL, Argo, Mapfre e Liberty. O volume de vendas desse grupo no primeiro semestre deste ano chegou a R$ 31,8 milhões, com R$ 10 milhões pagos em indenizações. Algumas empresas registraram perdas relevantes nesta carteira, uma vez que a punição a poluidores por parte de órgãos públicos tem crescido dia a dia, bem como a divulgação de acidentes na mídia e nas redes sociais, que chamam a atenção dos fiscais, que comparecem ao local acidentado já munidos de fotos e dados. Em 2016, o segmento ambiental movimentou R$ 55 milhões em vendas. Para se ter uma ideia do crescimento, em 2011,as companhias venderam R$ 18,5 milhões.

Os participantes também foram unânimes em afirmar que a fase de divulgar o seguro ambiental já passou. Alguns acidentes noticiados na grande imprensa ajudaram a aquecer a demanda pelo seguro ambiental. Na memória, estão casos como o da tragédia com o rompimento das duas barragens da Samarco em novembro de 2015, em Mariana (MG). Em 2016, o Ministério Público Federal calculou as perdas causadas pela Samarco e controladoras Vale e BHP em R$ 155 bilhões.

Também na lista de eventos caóticos há o caso do Toddynho, citado em vários dos paines do evento. Há cinco anos, a Pepsico do Brasil foi condenada a pagar uma indenização de R$ 420 mil por ter vendido, em cidades do Rio Grande do Sul, o achocolatado contendo detergente. Na época, a Pepsico declarou que o problema aconteceu durante a limpeza de equipamentos na fábrica responsável pelos lotes, localizada em Guarulhos, na Grande São Paulo. Uma das linhas envasou algumas embalagens com uma mistura de água e detergente.
Foram também citados os casos de derramamento de óleo com a exploração de petróleo, como o da British Petroleum, que concordou em pagar multa de aproximadamente US 20 bilhões ao governo federal norte-americano e aos Estados de Louisiana, Mississippi, Alabama, Texas e Flórida, em reparação ao prejuízo ambiental causado pelo acidente no Golfo do México, em 2010.

A repercussão desses casos deixou muito claro o nível de exposição das empresas e a amplitude que um dano ambiental alcançar. No entanto, a falta de cultura pesa bastante. Diante disso, o mantra dos executivos agora é: conscientização. “Estamos dedicados a conscientizar os clientes sobre os riscos que correm e qual o papel do seguro ambiental, pois várias coberturas importantes não estão incluídas dentro do escopo de outras apólices que a empresa mantém”, afirmou Katia Papaionnaou, líder para a prática de responsabilidade civil ambiental e gerente de placemente na Marsh.

Nathalia Gallinari, engenheira ambiental e especialista em seguro ambiental da AIG, concordou. No Brasil, o trivial ainda é a contratação de um seguro de responsabilidade civil comum, que não engloba os riscos ambientais. “O seguro ambiental é um dos poucos que olha a cadeia de risco como um todo, desde o processo produtivo da empresa até o produto final no pátio de um cliente. Ou seja, do berço ao túmulo: do inicio ao fim da cadeia de risco”, salientou ela.

Um dos advogados presentes na plateia fez um comentário interessante. “Eu sou espírita. Então, para mim, a vida não termina com o corpo no túmulo. E assim entendo ser o seguro ambiental. Há danos que aparecem depois de anos e acredito ser importante que todos pensem e avaliem o risco levando em conta as consequências no longo prazo que um simples acidente pode causar ao planeta. Ou seja, é preciso estudar muito para ter sempre uma noção clara das implicações que um dano ambiental pode causar no ambiente, na marca da empresa e na vida profissional do executivo gestor de empresas.

Fábio G. Barreto, membro da subcomissão do Seguro de Riscos Ambientais da Federação Nacional de Seguros Gerais (FenSeg) e do GNT de Seguro de Riscos Ambientais e Sustentabilidade da Chubb, ressaltou que não adianta trazer todas as coberturas disponíveis no mundo, sendo que nem o básico ainda foi entendido pelos clientes no Brasil”, disse o executivo que também é superintendente da Chubb, que é a maior seguradora global do risco ambiental.

O objetivo do seguro ambiental é atender, tanto à demanda de poluição súbita, quanto da gradual. A poluição súbita, ou acidental, é aquela na qual é possível delimitar um período de início e fim, que normalmente é de 72 horas, como no tombamento de um caminhão na estrada. A poluição gradual se estende por um período maior, que pode ser até de anos, como o de um vazamento paulatino de um tanque de armazenamento subterrâneo em um posto de combustível ou até mesmo um incêndio que se estenda por dias. Indústrias, armazéns e transportes estão sujeitos a acidentes que se enquadram nos dois casos.

Segundo Barreto, de 2007 para 2017, mais que dobrou o número de áreas contaminadas, segundo dados divulgados pela Cetesb. “Isso torna a gestão do risco ambiental ainda mais importante dentro das empresas, bem como ter uma regulamentação mais robusta, com penalização dos executivos a frente das empresas”, salientou Barreto. Mas somente haverá estimulo no mercado nacional se houver efetivamente a cobrança do poder público”, frisou ele. “O risco existe. É preciso ter consciência, tanto por parte do empresário, como do poder público, em fiscalizar e punir”.

Dentro do plano de conscientização dos riscos, os palestrantes destacaram que o ambiental é um seguro de gestão, pois pequenos detalhes podem destruir a imagem da empresa ou do executivo, principalmente agora, com as mídias sociais tão ativas e quando cada pessoa com um smartphone na mão pode ser considerada um difusor de imagens e informações com grande repercussão.

Porém, para ter um seguro que realmente responda às necessidades da empresa, os especialistas destacaram a importância do fornecimento de informações, das básicas às mais complexas, para que a cobertura do seguro seja eficiente na hora em que acontece um acidente. As principais consequências da falta de informação são a recusa de cobertura e a precificação feita de forma errada.

“Um exemplo é a troca de um tanque subterrâneo antigo por um novo. Se o gestor da empresa não informar isso no questionário, a seguradora vai taxar o risco de um tanque antigo, o que encarece o seguro no preço final”, destacou Lívia Barreira, engenheira ambiental, subscritora de riscos ambientais para a América Latina da Liberty Seguros e integrante do GNT de Seguro Ambiental e Sustentabilidade. A subscrição é a parte mais importante da jornada do seguro ambiental. “É preciso ter uma apólice bem desenhada para não haver surpresas com a ocorrência de um acidente que não tenha cobertura”, afirma Livia.

Bruno Pieroni, engenheiro de riscos da JLT e consultor ambiental, destacou aspectos legais e jurídicos relacionados a riscos portuários, evidenciando que há no Brasil um grande potencial de venda deste seguro. Pieroni destacou também que o seguro ambiental tem sido exigido por quem está financiando projetos, algo que até um tempo atrás não era usualmente observado no Brasil. Para transações imobiliárias de compra e venda de ativos e para acordos de M&A, o seguro ambiental também pode oferecer soluções.

Mesmo com o segmento de seguros ambientais crescendo no Brasil, ele ainda possui legislação, regulamentação e bases técnicas pouco conhecidas pelos operadores do mercado. Diante desse cenário e buscando proporcionar uma visão global e sintetizada da estrutura dos seguros ambientais existentes na atualidade, a Escola Nacional de Seguros inicia em setembro uma pós-graduação em Seguros de Riscos Ambientais em São Paulo. As aulas abordarão as práticas usuais do mercado nacional e farão a comparação com as adotadas no exterior. Serão apresentadas análises das bases contratuais vigentes e questões técnicas, além das ferramentas de gerenciamento dos riscos ambientais.

Denise Bueno
Denise Buenohttp://www.sonhoseguro.com.br/
Denise Bueno sempre atuou na área de jornalismo econômico. Desde agosto de 2008 atua como jornalista freelancer, escrevendo matérias sobre finanças para cadernos especiais produzidos pelo jornal Valor Econômico, bem como para revistas como Época, Veja, Você S/A, Valor Financeiro, Valor 1000, Fiesp, ACSP, Revista de Seguros (CNSeg) entre outras publicações. É colunista do InfoMoney e do SindSeg-SP. Foi articulista da Revista Apólice. Escreveu artigos diariamente sobre seguros, resseguros, previdência e capitalização entre 1992 até agosto de 2008 para o jornal econômico Gazeta Mercantil. Recebeu, por 12 vezes, o prêmio de melhor jornalista de seguro em concursos diversos do setor e da grande mídia.

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