S&P analisa setor de seguros gerais

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Fundamentos

Alteramos nossa avaliação do setor de seguro de ramos elementares do Brasil (BB/Negativa/B, brAA­/Negativa/­­) de acordo com nossa metodologia de Avaliação dos Riscos da Indústria de Seguros e do País (IICRA, na sigla em inglês para Insurance Industry Country Risk Assessment) de risco intermediário para risco moderado. A revisão do IICRA reflete nossa expectativa de que o setor apresentará desempenho operacional mais fraco nos próximos dois anos em razão das condições adversas no Brasil.

O IICRA de ramos elementares no Brasil incorpora nossa visão de risco­país moderado e de risco da indústria intermediário, o que estabelece o contexto para nossa análise do perfil de risco de negócios de uma seguradora. Essa avaliação é comparável a outros mercados de ramos elementares, como a Colômbia, Itália e África do Sul. Esperamos crescimento mais fraco no mercado de ramos elementares no Brasil, dado o cenário econômico desafiador no país e a perspectiva de crescimento mais fraco do PIB quando comparado a países similares. Em nossa visão, o desempenho da indústria brasileira de seguro de ramos elementares continuará a enfraquecer enquanto a economia do país continua a deteriorar.

Risco ­país: Moderado

O IICRA do setor de ramos elementares brasileiro reflete o risco­país moderado, com base em nossa visão dos riscos econômico e político, riscos do sistema financeiro, cultura de pagamento e Estado de Direito do país. Acreditamos que os baixos níveis de renda do Brasil, a contração econômica nos últimos dois anos e a alta da inflação limitarão o crescimento das seguradoras brasileiras e manterão a penetração de seguros em baixos níveis nos próximos dois anos.

O Brasil é a maior economia na América Latina, destacando­se por possuir o principal mercado consumidor. No entanto, o PIB per capita do país se deteriorou no último ano, causando um impacto muito acima do esperado no mercado de seguros. Com a expectativa de queda no PIB per capita para cerca de US$7.159 em 2016, as perspectivas de crescimento do Brasil são, em nossa opinião, mais baixas àquelas de outros países em fase similar de desenvolvimento.

Esperamos uma contração de 3,6% na economia brasileira em 2016, seguindo o declínio de 3,8% em 2015, com ligeira recuperação de 0,5% em 2017. Em 12 de maio de 2016, Dilma Rousseff foi afastada da presidência por um processo de impeachment iniciado em dezembro de 2015, o qual está na fase final; a votação final no Senado ocorrerá nos próximos 180 dias. Seguindo o protocolo, o Vice­Presidente Michel Temer assumiu a presidência interinamente.

O governo Temer tem pela frente desafios semelhantes àqueles enfrentados por Dilma: recuperar a credibilidade política, retomar a trajetória de crescimento do Brasil e reverter a deterioração fiscal. Como observamos no primeiro ano do segundo mandato de Dilma, a capacidade de execução bem­ sucedida das políticas depende do suporte incondicional do presidente, da coesão em seu gabinete e da capacidade de obter apoio do Congresso entre os partidos. Vale ressaltar que tais condições parecem estar presentes com a posse do Vice Presidente Temer, com aparente apoio da maioria dos partidos no Congresso.

A cultura de pagamento e o Estado de Direito influenciam o desempenho das seguradoras, dada a importância de acordos contratuais de longo prazo. Nossa avaliação desse subfator no Brasil é de risco moderadamente alto, incorporando indicadores externos, como os indicadores de governança do Banco Mundial para o Estado de Direito, facilidade de execução de contratos, controle da corrupção, e o Índice de Percepção da Corrupção da Transparency International.

Risco da indústria: Intermediário

Classificamos o risco da indústria do setor de seguro brasileiro de ramos elementares como intermediário, com base na avaliação de cinco subfatores relacionados à indústria: rentabilidade (medida pelo retorno sobre capital [ROE, ou return on equity]), risco do produto, barreiras à entrada, perspectiva de crescimento do mercado, e estrutura institucional.

Rentabilidade (Neutra)

Revisamos nossa avaliação de rentabilidade do setor de ramos elementares de positiva para neutra, dados os efeitos das condições econômicas desafiadoras no Brasil para as seguradoras desse setor. A rentabilidade do setor se enfraqueceu devido à alta nos custos de reparo e manutenção no segmento de seguro de veículos, o qual representa cerca de 40% dos prêmios totais do setor de ramos elementares. O custo de peças automotivas importadas aumentou devido à alta da inflação no Brasil e à desvalorização do real em 2015. Além disso, as seguradoras têm registrado aumento nas perdas em razão de roubos e fraudes, o que, em nossa opinião, deverá continuar afetando as empresas nos próximos dois anos em razão do aumento no desemprego no país. Como resultado, o índice combinado totalizou 99,7% em 2015, versus 96,8% em 2014, e acreditamos que continuará aumentando, atingindo cerca de 101% nos próximos dois anos. Estimamos que o ROE e o retorno sobre as receitas (ROR, ou return on revenue), também se enfraquecerão para 12,0% e 7,0% em 2016, respectivamente, contra uma média de 16,6% e 12,4% nos últimos cinco anos. Esses indicadores também deverão apresentar ligeira deterioração para 11,5% e 6,5%, respectivamente, em 2017, dada a nossa expectativa de redução nas taxas de juros no Brasil, o que deverá afetar os ganhos financeiros do setor.

Por outro lado, não acreditamos que haja tomada de risco excessiva na indústria. Estamos monitorando as linhas de seguro garantia, que têm crescido rapidamente, o que por sua vez pode indicar um sinal de crescente concentração em poucos segurados. No entanto, isso ainda não representa um risco considerável para o setor de ramos elementares brasileiro como um todo, uma vez que o negócio de seguro garantia representa apenas 4% dos prêmios da indústria.

Risco do produto (Neutro)

Em nossa opinião, os riscos decorrentes dos eventos de catástrofe são em geral moderados. Os desastres naturais mais comuns no Brasil são a seca e enchentes, os quais possuem pouca cobertura de seguro. O seguro rural, que poderia ser o segmento mais afetado por um cenário de seca/enchente, representa menos de 4% dos prêmios totais do sistema. Seguros de veículos podem ser relativamente vulneráveis a esse risco, mas, devido às suas características ­ tickets baixos e diversificação geográfica adequada – as secas e enchentes não representam um risco significante ao segmento.

Por outro lado, tem aumentado a ocorrência de fraudes no setor de ramos elementares, sobretudo em razão das condições econômicas adversas no Brasil. Entretanto, a classificação geral de risco do produto permanece neutra, dada a ausência de fontes adicionais de volatilidade.

Barreiras à entrada (Positiva)

Nossa avaliação de barreiras à entrada do setor de ramos elementares brasileiro é alta, refletindo primordialmente dois fatores: barreiras legais e regulatórias, as quais consideramos moderadas, e barreiras operacionais, que classificamos como altas.

O regulador implementou um rigoroso processo para a aprovação de novas licenças o que, porém, não representa um grande obstáculo para as seguradoras em comparação a outras jurisdições. As exigências de capital são rígidas, mas não são particularmente altas comparado aos setores de seguro de outros países.

Acreditamos que não haja limitação significativa de disponibilidade de recursos como administração e pessoal que possam impor barreiras operacionais. Em nossa visão, o número de universidades que oferecem cursos de especialização em áreas como gestão de risco nas regiões metropolitanas do país é adequado. Além disso, considerando o atual cenário econômico no Brasil, com aumento do desemprego, acreditamos que haja disponibilidade adequada de profissionais com capacidade analítica e técnica no mercado. No entanto, o mercado é dominado por bancos de grande porte, que controlam os canais de distribuição. Esses participantes também se beneficiam de estruturas de baixo custo e reputação e marca consolidadas no mercado, que em conjunto criam uma alta barreira operacional a novos competidores. Apesar de acreditarmos que seja possível a entrada de novas seguradoras em linhas menores e de nicho, especialmente se pertencerem a um grande grupo internacional, entendemos que um novo participante não mudaria a dinâmica ou a rentabilidade geral da indústria, dada a alta concentração do setor.

Perspectiva de crescimento do mercado (Negativa)

Revisamos a avaliação de perspectiva de crescimento do mercado de neutra para negativa. Os prêmios brutos subscritos (GWP, ou gross written premium) do setor de seguro de ramos elementares contraíram 4% em 2015 em termos reais, refletindo a fraca atividade econômica, o aumento do desemprego e a queda nos salários em termos reais. Poucos produtos de ramos elementares registraram crescimento em 2015. Entre eles, estão seguro de crédito habitacional e seguro garantia, que apresentaram crescimento real de cerca de 9% e 13%, respectivamente.

Esperamos a mesma tendência nos próximos anos, com queda nas taxas de crescimento das linhas de negócio mais representativas e taxas de crescimento positivas em termos reais apenas em linhas que representam uma pequena porcentagem da indústria. Esperamos que o setor de ramos elementares reporte crescimento nominal de 4% em 2016, com ligeira recuperação e 2017, reportando crescimento nominal de 6,5%, equivalente a uma taxa de crescimento real de ­4,7% e ­0,3%, respectivamente, o que sustenta nossa revisão negativa da perspectiva de crescimento do setor. Em nossa visão, a penetração deve permanecer inferior a 1,2% nos próximos dois anos.

Estrutura institucional (Neutra)

Avaliamos a estrutura institucional do setor como intermediária. A Superintendência de Seguros Privados (SUSEP) monitora a indústria de seguros em base frequente. O órgão possui um nível adequado de sofisticação e dispõe de regras estabelecidas para investimentos, adequação de capital e solvência, governança corporativa, controle de lavagem de dinheiro e prevenção de fraude. Embora a SUSEP regule o setor de seguro de ramos elementares no Brasil, o Conselho Monetário Nacional (CMN), braço do Banco Central, impõe certas limitações de investimento.

Avaliamos o histórico regulatório do setor brasileiro de seguro de ramos elementares como intermediário. Em nossa visão, a SUSEP, estabelecida em 1988, tem reduzido com êxito os riscos no mercado de seguro ao exigir melhores padrões de governança para as seguradoras, enquanto busca implementar padrões internacionais de solvência no mercado local, como as exigências mínimas de capital baseado em risco, implementadas em 2008.

Não vemos deficiência nos padrões de governança e transparência das seguradoras de ramos elementares no Brasil, dados os controles regulatórios satisfatórios. As informações da indústria de seguros e de cada empresa são disponibilizadas publicamente em base mensal, embora, em nossa opinião, o sistema se beneficiaria de informações públicas mais detalhadas e da disponibilidade de indicadores de desempenho por linha de negócio.

Denise Bueno
Denise Buenohttp://www.sonhoseguro.com.br/
Denise Bueno sempre atuou na área de jornalismo econômico. Desde agosto de 2008 atua como jornalista freelancer, escrevendo matérias sobre finanças para cadernos especiais produzidos pelo jornal Valor Econômico, bem como para revistas como Época, Veja, Você S/A, Valor Financeiro, Valor 1000, Fiesp, ACSP, Revista de Seguros (CNSeg) entre outras publicações. É colunista do InfoMoney e do SindSeg-SP. Foi articulista da Revista Apólice. Escreveu artigos diariamente sobre seguros, resseguros, previdência e capitalização entre 1992 até agosto de 2008 para o jornal econômico Gazeta Mercantil. Recebeu, por 12 vezes, o prêmio de melhor jornalista de seguro em concursos diversos do setor e da grande mídia.

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