A indústria de seguros prevê crescimento de dois dígitos em 2015. Segundo o presidente da CNseg, a confederação das seguradoras, o avanço estimado para este ano é de 12,4%. Em 2014, o setor registrou arrecadação de R$ 327 bilhões. Em tempos de crise, esse é um grande desafio para os executivos do setor, com muitas frentes de negócios para desenvolver. Paulo Marraccini, membro do conselho da Allianz e vice-presidente da CNseg, contou um pouco desses desafios aos participantes da primeira palestra da Trilha de Seguros, que acontece no CIAB 2015, maior evento de tecnologia bancaria da América Latina promovido pela Federação dos Bancos (Febraban).
Ele citou estudo do Lloyd’s of London, maior mercado segurador do mundo, sobre o Brasil. De acordo com o relatório, as vendas de seguros no Brasil podem crescer significativamente nos próximos anos na área de seguros gerais, com potencial para mais US$ 14 bilhões em vendas de apólices. Marraccini citou que hoje há 125 milhões de brasileiros sem seguro de Vida/Acidentes Pessoais; 182 milhões sem plano dental; 58 milhões de residências sem seguro; 152 milhões de pessoas sem seguro saúde; 38 milhões sem seguro de automóveis e 3 milhões de empresas sem seguro empresarial. Ao lado disso, o mercado pode ampliar o consumo entre as classes mais assistidas também, porque o consumo per capita é baixo e abre oportunidades para todos os ramos de seguros.
Além de crescer, ele destacou a importância da Tecnologia na prestação de serviços ao cliente. “Atendê-lo bem quando ele está com o carro quebrado de noite na marginal é a melhor maneira de estimular o crescimento da indústria de seguros. Bom evento a todos e que possamos conhecer muitas inovações para implementar na nossa indústria”.
Gustavo Fosse, gerente geral do Banco do Brasil, ressaltou a importância da tecnologia para que o setor explore todas as oportunidades que tem pela frente. “Um recente estudo divulgado pela Geneva Association, uma das principais entidades mundiais sobre estudos da indústria de seguros mundial, afirmou que a tecnologia será determinante para o sucesso ou fim de uma empresa. E por isso estamos aqui para alavancarmos o nosso crescimento”, disse durante a abertura da Trilha de Seguros, que tem como primeira palestra Mercado Segurador: desafios e oportunidades. ”Vemos nossos clientes cada vez mais usando as proteções ofertadas pelos mercados. Vamos discutir para que nosso segmento seja referencia mundial em inovação”, finalizou Fosse.
AUTO-REGULAÇÃO ONLINE
O primeiro palestrante foi Paulo Vianna, presidente do comitê de estudos e pesquisas da Superintendência de Seguros Privados (Susep). “O grande projeto da Susep é ter a supervisão eletrônica de todas as empresas que compõem o mercado”, afirmou Vianna. O projeto de supervisão eletrônica é o pontapé inicial para o Big Data. “Queremos que a Susep seja capaz de gerar informações para consumo interno, como controlar a solvência e proteger o consumidor, bem como fornecer informações para a Receita Federal, que nos solicita uma série de caos que ainda não conseguimos atender. Uma delas é cruzamento da compra do seguro com o despacho da carga. Temos demanda também do setor judiciário, do Coaf e também para nutrir o próprio mercado com dados relevantes para estudos sobre o setor”, explicou.
De acordo com ele, o custo será diluído ao longo do tempo, com eliminação de redundâncias e dados agregados. “Isso ajudará a reduzir a frequência e escolha das alterações nos dados requisitados”, destacou. Entre as oportunidades do projeto de TI da autarquia, Vianna citou a realimentação com dados consolidados e estatísticos, bem como maior transparência do mercado e maior eficiência regulatória.
“Estamos focando a regulação na tecnologia. O mais desafiador do projeto é como vialibilizar, pois o setor publico tem limitações. Vamos precisar de um parceiro nesse projeto, assim com tem o Tesouro Nacional que desenvolveu o Tesouro Direto em parceria com BM&F ou o Banco Central tem com a Cetip uma parceria para produtos que ajudam na regulação. Também não esta descartado que a Susep desenvolva os sistemas necessários internamente, mas dependemos de recursos e isso levaria um tempo maior do que ter uma parceira de peso nos auxiliando. Estamos estudando os riscos e benefícios de todos esses caminhos, mas vamos mergulhar de vez na regulação online. É um caminho sem volta”, afirmou.
DESAFIOS E OPORTUNIDADES PARA AS SEGURADORAS
As oportunidades do setor foram mostradas aos executivos na plateia por Alexandre Leal, superintendente de regulação da CNseg. Ele cita que a crise ainda não chegou no mercado de seguros, segundo mostram os números do primeiro quadrimestre, com avanços de dois dígitos. “O setor vem crescendo nos últimos anos uma média de 15% ao ano na última década e neste ano a previsão é de 12,4%”, citou. Segundo ele, com uma inflação estimada em 8%, crescer 12% ainda mostra um crescimento real relevante diante da retração há observada na economia e com PIB estimado com retração de um ponto percentual.
Entre os desafios, Leal citou o quadro macroeconômico. “O aumento da renda e ter a inflação controlada são importantes para o setor de seguros terem um desenvolvimento interessante. Não somos uma ilha. Se esses indicadores piorarem, o setor será afetado”, comentou. Na área regulatório ele citou o risco de mercado e o risco operacional. “Ambos precisam ter as normativas aprimoradas e significam um grande desafio para as seguradoras, que estão correndo atrás para reestudar seus processos e pontos de controles. Isso vai demandar muitos investimentos financeiros e de recursos humanos”.
Ele também citou que aspectos contábeis e gestão de risco, com o fortalecimento de boas praticas e politicas de supervisão baseada em risco, com requisitos mínimos para gestão de riscos de forma integrada (ERM) e a definição de critérios de auto-avaliação de ricos e solvência (Orsa) estão na lista de desafios do setor. “Isso sem falar no uso de tecnologias para venda de seguros por meios remotos”, ressaltou. De acordo com ele, há muitas coisas na regulamentação de meios remotos que podem ser melhoradas.
Entre os desafios tecnológicos, ele comenta que as seguradoras são menos digitalizadas do que bancos. Menos da metade das companhias conseguem apresentar seus produtos digitalmente, segundo pesquisas do setor com base em dados mundiais. “Os bancos já fizeram grandes investimentos e as seguradoras começam a trilhar esse caminho superando as dificuldades regulatórias”, disse. Leal acredita que a tecnologia cria um novo ambiente de negócios e que exigirá parcerias diferenciadas entre as seguradoras e empresas diversas interessadas no setor.
A digitalização, além de mudar a comunicação da seguradora com seus clientes, também abre novos mercados. “Toda essa integração das mídias sociais gera muitos negócios, como a oferta de produtos ao se detectar que um cliente está planejando uma viagem”, cita. Também ajuda a detectar fraudes, como um segurado que declarou não ser fumante em um questionário de saúde e aparece nas mídias com um cigarro na mão”, acrescentou. O uso da tecnologia, mais do que um desejo, é uma necessidade. Há varias desafios, mas com certeza traz muitas oportunidades.