Enquanto os pesos pesados da indústria de seguros dos Estados Unidos chegam nesta sexta-feira em Cuba para uma nova rodada de negociações sobre o debate do restabelecimento das relações diplomáticas entre os dois países, José Augusto da Costa Tatagiba prepara a sua viagem a Havana para fechar os últimos detalhes do início da operação brasileira da seguradora Capemisa em terras cubanas.
“Há um grande potencial em Cuba para venda de seguro viagem e também de seguros de bens”, afirma o presidente, citando que a participação do mercado de seguros no PIB de Cuba é de apenas 0,7%, enquanto a média mundial é de 8%. Segundo ele, a população de Cuba, estimada em 11 milhões de pessoas, até então fora da economia mundial, pode agora ingressar no mundo capitalista. “Se as empresas se instalarem lá, vão encontrar uma mão de obra qualificada para contratar, escolas que ensinam, hospitais sem filas. Pessoas que sabem preservar o que tem e um país com uma infra-estrutura organizada. Veja o porto de Mariel. Um dos mais sofisticados do mundo. Instalado na porta do Golfo. Cuba é um local perfeito para seguros”, resume, assumindo que dissiminar a cultura de seguro é algo desafiador num país desenvolvido dentro da filosofia de que o Estado é o grande provedor de benefícios sociais.
A Capemisa iniciou o processo de aproximação com o governo cubano em 2011, durante a 33ª edição da Feira Internacional de Turismo de Cuba, que ocorreu no mês de maio, em Varadero. A seguradora foi uma das 16 empresas brasileiras que participaram do evento, considerado o maior no setor no país, organizada pelo presidente da Apex, Mauríco Borges. Na época, a notícia sobre a autorização da Susep para a Capemisa atuar em Cuba foram ofuscadas pelo restabelecimento de relações entre Brasil e o irmão de Fidel, Raul Castro. Entre os principais temas da época temos registro sobre o financiamento da reforma do maior porto cubano, com recursos do BNDES, e do acordo com Havana para o envio de milhares de médicos cubanos ao Brasil.
Mas as negociações envolvendo seguros persistiram e resultam hoje em um dos negócios da Capemisa, que no final de 2014 assinou um acordo com o governo cubano e com a Empresa de Seguros Nacionales (Esen) para a venda de seguro viagem Capemisa, previsto para começar a ser vendido a partir de julho deste ano. “Hoje os turistas que vão para Cuba tem de acionar o seguro no país de origem”, relata Tatagiba em entrevista ao blog Sonho Seguro. “Com o seguro Capemisa o atendimento ao segurado será feito direto em Cuba, por meio da rede de hospitais e clínicas do país, por meio da Assistur, única empresa de assistência do governo cubano”.
Tatagiba faz uma conta simples. O mercado de seguro viagem movimenta cerca de US$ 52,5 milhões ao ano em Cuba, com um movimento de 3 milhões de turistas por ano, sendo 22 mil brasileiros. Considerando-se um preço médio de US$ 40 por seguro viagem para uma estadia de uma semana, o segmento movimenta, então, vendas anuais de US$ 1 bilhão. “Ou seja, Cuba perde dinheiro com seguro viagem. Tem receita de US$ 1 bilhão e só US$ 52,5 milhões ficam no país”, raciocina.
Segundo sua percepção diante das negociações que tenta viabilizar, como fazer a ponte entre uma grande operadora de turismo brasileira e o governo cubano, o empresário acredita que o número de turistas brasileiros para o país pode chegar a 100 mil nos próximos dois anos. “A campanha publicitária será ótima”, antecipa. Tendo a seguradora em Cuba, a idéia é que os recursos de seguro viagem sejam emitidos na ilha e não mais nos países de origem dos turistas. “Podemos também viabilizar esses acordos com os turistas argentinos que vão para a ilha”, diz o economista e empreendedor bem relacionado.
Tatagiba chegou em Cuba antes dos pesos pesados dos Estados Unidos. Nesta semana, nada menos do que Hank Greenberg, que levou a AIG ao topo do mundo antes de ser socorrida pelo governo americano no ápice da crise financeira em 2008, disse que está animado com a perspectiva de fazer incursões no mercado de seguros de Cuba, por meio da Starr, grupo segurador que montou após a sua saída da AIG. Segundo especialistas, várias seguradoras mundiais olham para Cuba, país que tiveram de abandonar pelo regime de Fidel Castro, mas que pretendem voltar. “Na festa de 100 anos de uma das duas seguradoras cubanas, muitas delas estavam presentes na recepção a qual também fui, na praça matriz de Havana”, orgulha-se o presidente da Capemisa que movimentou prêmios ganhos e receitas de previdência de R$ 463 milhões e lucro líquido de R$ 37,5 milhões em 2014 no Brasil, segundo dados da Susep, sem incluir a Aplub Capitalização, incorporada em outubro do ano passado.
Para o projeto de Cuba, Tatagiba nomeou José Américo Vieira Valadão como superintendente de operações internacionais, para poder se dedicar mais ao microsseguro, operação para a qual teve autorização da Susep nesta quinta-feira, dia 26 de fevereiro. “Temos muito para fazer no Brasil, mas temos de encontrar um caminho fora da disputa dos grandes grupos”, revela.
Microsseguros – A Capemisa, que completa 55 anos em julho, nasceu como uma empresa mútua e há pouco tempo se transformou em uma SA. Segundo ele, o principal objetivo e ter recursos para manter os projetos sociais, que consomem hoje mais de 30% do lucro da seguradora. Também tem a intenção de atrair, no longo prazo, um sócio ou abrir o capital da companhia. Uma das estratégias é ter tecnologia de ponta, que viabilize agilidade e custos reduzidos, bem como estar no mundo a partir do centro de dados instalado no Rio de Janeiro.
O executivo que se formou em economia na universidade federal de Brasília na década de 70 e participou de importantes projetos públicos e privados, montou uma equipe de tecnologia composta por mais de 20 “nerds”, divididos entre Rio e Porto Alegre, que se dedicam a criar softwares que rodam em hardware desenvolvidos pela Elgin. “As oportunidades de negócios estão por todos os lados. Precisamos só viabilizá-las e esses jovens são incríveis. Já nasceram com a tecnologia na mão”, comenta. “Eles me perguntam: e aí presidente, diga o que o senhor está pensando que nos vamos colocar em prática. Ai eu digo e eles me entregam algo muito melhor do que pensei”, afirma.
Um dos sistemas criados pela jovem equipe já está rodando em um clube de futebol no Sul. “Para comprar ingressos, os torcedores precisam estar em dia com o clube. O programa reduziu a inadimplência para o clube, que de quebra ainda é comissionado pela venda de seguros de pessoas e títulos de capitalização ofertados pela Capemisa para a lista de torcedores armazenada no sistema desenvolvido pela seguradora. “Já estamos negociando com outros times”, diz, acrescentando que é um ramo de negócios difícil de ser conquistado.
‘2015 será o ano da Capemisa”, garante José Augusto da Costa Tatajiba. Esse também é o pensamento de boa parte dos executivos de seguros. Marco Antonio Rossi, presidente da Cnseg, disse ontem no lançamento das iniciativas de educação financeira no Rio de Janeiro, que a estimativa de arrecadação do setor é de R$ 364,81 bilhões em 2015, número 12,4% superior a 2014. “Independente do cenário que esse ano apresentará, o mercado de seguros estará no top das áreas que mais crescerão na economia brasileira”.