RIMS 2010 revela a feroz concorrência do setor

rims-20101Os executivos responsáveis pela contratação dos maiores programas de seguros do mundo estão completamente blindados por seus corretores e seguradores em Boston, Estados Unidos, onde aconteceu a 60ª edição do Risk & Insurance Management Society (RIMS). “Veja só. O cliente dá um passo e o corretor acompanha”, aponta Christopher Wellington, executivo da Aon, uma das maiores corretoras de seguros do mundo, que juntamente com suas concorrentes Marsh, Willis e Arthur Gallagher dominam o setor e figuram entre as principais patrocinadoras do evento que reúne cerca de 9 mil gerentes de riscos, palestrantes e expositores.

A prevenção é compreensível. O risco de perder clientes hoje em dia está entre os mais temidos pelos profissionais do setor. A principal estratégia das companhias de seguros é aumentar a base de clientes para compensar a redução nos valores segurados gerada pela recessão e também da queda do preço do seguro, uma conseqüencia da concorrência e da revisão dos programas de seguros motivada pela prioridade das empresas seguradas em minimizar custos e mitigar riscos.

O preço do seguro está em queda no mundo todo, segundo afirmaram os principais CEOs do mundo reunidos no evento que começou no dia 25 e terminou no dia 29 de abril. “Nem se acontecer uma catástrofe, com US$ 50 bilhões em perdas seguradoras, a tendência de queda de preço deverá se reverter”, exagera Even Greenberg, CEO mundial da ACE, para expressar a abundância de capital que a indústria de seguros construiu nos últimos anos de taxas elevadas e coberturas restritas.

Ambas estratégias foram justificadas pelo argumento de recuperação das perdas de 2005, ano recorde em pagamento de indenizações com catástrofes naturais. Só o furacão Katrina acumula perdas seguradas superiores a US$ 50 bilhões, segundo levantamento da A.M.Best. Nem mesmo a crise foi capaz de tirar a reserva de capital acumulada pela indústria entre 2006 e meados de 2008. Pelo contrário.

O risco eminente da falência da AIG em setembro de 2008 reforçou as estratégias de elevação de preço e restrição de coberturas. Se a maior seguradora do mundo na época tivesse quebrado, as seguradoras e resseguradoras precisariam de um reforço no caixa para pagar milhões de indenizações e garantias de contratos. E mesmo assim muitas ficariam em uma situação tão crítica quanto a AIG.

Para evitar um rombo maior no mercado financeiro, o governo dos EUA optou por socorrer a AIG com US$ 180 bilhões e pouco mais de um ano já anuncia que a empresa está próxima do equilíbrio financeiro após vender boa parte de seus ativos e mudar o nome para Chartis da parte da operação pouco afetada pelas hipotecas de alto risco, ou subprime.

O socorro do governo americano foi um alívio e tanto para toda a indústria, que acumulou ainda mais reservas ao ficar livre de um tremendo e catastrófico risco financeiro. Esta sequência de fatos capitalizou a indústria de seguros. Mesmo com as perdas já registradas neste ano — terremoto no Haiti, no Chile, com perdas na casa dos US$ 10 bilhões, tempestades na Europa, explosão da plataforma de petróleo no México na semana passada e possíveis perdas com o caos aéreo conseqüente da fumaça do vulcão na Islândia –, a tendência é de estabilização dos preços em baixa.

“Este cenário de soft market (taxas reduzidas) mudará se a inflação mostrar as suas garras”, diz Edmund Kelly, CEO da Liberty Mutual, uma das maiores seguradoras dos Estados Unidos. “Se a inflação evoluir vai ser ruim para todos. Nada é mais dramático para a indústria de seguros do que a inflação”.

Diante deste cenário, aumentar o porfolio de clientes e criar soluções e serviços diferenciados para manter o faturamento passa a ser uma prioridade de todos. E é neste contexto que todos pensam no Brasil, um país com potencial destacado entre os estrangeiros por ter ainda uma baixa penetração de seguros no PIB, inferior a 4% quando a média mundial é o dobro. Em 2009, o setor faturou R$ 107 bilhões no Brasil.

No mundo, os dados estão previstos para maio, mas a expectativa é de algo próximo a US$ 4 trilhões, o que mostra reforça o potencial de crescimento do Brasil. “Estar entre as dez maiores economias do mundo e ser o 17º em seguros sinaliza um enorme potencial para o Brasil”, comenta Fernando Pereira, vice-presidente da Aon Brasil.

Além disso, o país é alvo para investimentos de várias empresas, seja para empreendimentos de infraestrutura para suportar o crescimento da economia, seja para preparar o circo dos mundiais esportivos, como a Copa em 2014 e os Jogos Olímpicos em 2016 no Rio de Janeiro.

“O Brasil é o número um na lista de prioridades dos investidores e nós estamos atentos a todos os movimentos para ofertar garantias de que esses investimentos terão o retorno esperado”, diz Jorge González Cale, CEO da Aon para a América Latina. Atenta ao assédio da concorrência, a Aon organizou jantares para reunir seus clientes e prospects durante a semana. “Já somos os maiores na região. Agora precisamos cuidar de nossos clientes com produtos e serviços diferenciados”, diz.

Os gestores de riscos das maiores empresas do mundo estão exatamente atrás de produtos inovadores e preços acessíveis, principalmente diante de um cenário de incertezas como o de hoje. Segundo pesquisa divulgada pela Zurich durante o evento, os principais riscos temidos pelos gestores de riscos são a incerteza política, a regulamentação excessiva do setor e as mudanças climáticas.

“A indústria de seguros evoluiu muito, mas no Brasil ainda há um longo caminho a percorrer”, diz Andres Holownia, gerente de risco da Scania. Querem também preços mais acessíveis. “Ainda está muito caro fazer seguro”, queixa-se Matias Tavella, gestor de risco da Inbev, resultado da fusão da empresa brasileira Ambev e da belga Interbrew. Jorge Luzzi, responsável pelos seguros da Pirelli, tem uma corretora cativa e só contrata uma corretora de seguros para riscos especiais. “Temos uma equipe bem treinada e experiente. O corretor externo é contratado em seguros específicos, como agora para o plano de previdência complementar”, diz.

Com tanta demanda e clientes cada dia mais sofisticados e exigentes, a blindagem dos clientes parece não ser uma prioridade só dos corretores e uma característica do evento RIMS. Sinaliza ser uma tendência para os próximos anos de todos os segmentos da economia globalizada. E promete virar moda também no Brasil.

*a jornalista viajou a convite da Aon Brasil

Denise Bueno
Denise Buenohttp://www.sonhoseguro.com.br/
Denise Bueno sempre atuou na área de jornalismo econômico. Desde agosto de 2008 atua como jornalista freelancer, escrevendo matérias sobre finanças para cadernos especiais produzidos pelo jornal Valor Econômico, bem como para revistas como Época, Veja, Você S/A, Valor Financeiro, Valor 1000, Fiesp, ACSP, Revista de Seguros (CNSeg) entre outras publicações. É colunista do InfoMoney e do SindSeg-SP. Foi articulista da Revista Apólice. Escreveu artigos diariamente sobre seguros, resseguros, previdência e capitalização entre 1992 até agosto de 2008 para o jornal econômico Gazeta Mercantil. Recebeu, por 12 vezes, o prêmio de melhor jornalista de seguro em concursos diversos do setor e da grande mídia.

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