Mais um ano diferente ao IRB Brasil Re. Depois de perder um monopólio que durou quase 70 anos, o dia a dia do maior ressegurador do Brasil e da América Latina é intenso. Assim que o setor foi liberado a concorrentes, mais de 100 resseguradores chegaram em menos de um ano. O susto foi grande, que o poder estatal e dos maiores sócios privados precisou ser acionado para preservar o mercado. A União é sócia majoritária do IRB, com 27,4% de participação, seguida de Banco do Brasil e Bradesco (20,4% cada um), Itaú (15%), e dos fundos de pensão e funcionários.
Uma nova lei deu ao IRB mais prazo para se adaptar e até 2020 a colocação obrigatória, que nunca foi usada, cairá de 40% para 15%. A oferta preferencial permanece indeterminadamente em 40%. Um prazo suficiente para fazer a lição de casa. Treinou funcionários, atraiu talentos, lapidou estratégias, ampliou horizontes e em 2015, ano em que faria a oferta inicial de ações, comemorou lucro recorde por ser considerado por clientes um dos melhores parceiros.
Em 2016, com a suspensão do IPO em circunstâncias do enfraquecimento do mercado de capital e da crise política e econômica do Brasil, o ressegurador segue sua missão de manter a liderança do mercado. Divulgou crescimento de 97% no lucro líquido recorrente de 2015, para R$ 764 milhões, e retorno sobre o patrimônio líquido, em bases recorrentes, de 29%, praticamente o dobro, quando comparado ao índice de 2014 que foi de 15%. As vendas superaram R$ 4,3 bilhões, avanço de 35% em relação a 2014. Desse montante, R$ 3,3 bilhões foram prêmios emitidos no Brasil e R$ 1 bilhão no exterior, que ampliou sua participação de 11% dos prêmios emitidos para 24% em 2015.
A reestruturação, que antecedeu a abertura do setor em abril de 2008, até a desistência do IPO em fevereiro deste ano, deu ao IRB credibilidade diante de um cenário desafiador como o que o Brasil enfrenta desde 2014. A agência A.M.Best destacou em recente texto em que manteve o rating Excelente (A-), com perspectiva de estabilidade, pois “em geral, o IRB continua a ter uma posição ímpar e forte no crescente mercado de (res)seguros brasileiro, juntamente com uma estratégia bem definida e um experiente quadro de funcionários para executar a sua expansão internacional”.
Leia abaixo a entrevista que Paul Conolly, vice-presidente de resseguro do IRB, deu ao blog Sonho Seguro.
Em 2016, a estratégia de buscar negócios fora do país será ampliada diante da retração da economia? Mesmo com projeções de uma retração que pode chegar a 4% do PIB, quais as expectativas do IRB com negócios no Brasil?
Nossa estratégia de diversificação será mantida e, independente do cenário no Brasil, estamos prevendo um crescimento de 15% a 20% no faturamento do IRB como um todo. A economia não tem previsão de crescimento, mas hoje o IRB conta com uma nova área de inteligência de mercado e de gestão de clientes, que adota uma nova postura, com uma visão global das nossas carteiras. A empresa também conta com novos sistemas, que nos permitem atuar em bloco para conquistar mais espaço no mercado, mesmo com o cenário desfavorável. O Market Share do IRB em 2015 aumentou, aproximadamente, 10% se comparado com 2014. E vamos continuar crescendo, mesmo tendo uma retração na base, como disse. O IRB conseguiu um resultado recorde, tanto financeiro, quanto operacional. Em particular, no operacional, o resultado de subscrição totalizou R$ 511 milhões, uma expansão de 21% em relação a 2014, o que correspondeu a mais de 80% do resultado do mercado entre os resseguradores locais, com uma sinistralidade recorrente abaixo de 60%.
Quais os segmentos que se mostram promissores?
Acreditamos em praticamente todos os ramos, entretanto, em alguns com provável crescimento nominal, como os riscos Financeiros, Vida e Rural.
Quais as principais linhas de negócios do IRB no exterior?
A principal linha foi o property, que hoje corresponde a 40% do prêmio retido do exterior. Vida é uma linha em que o IRB tem crescido bastante e quer desenvolver ainda mais no exterior; e no Agro, estamos trabalhando em busca de parcerias para ter um desenvolvimento sólido, com bons resultados.
Neste ano, várias seguradoras têm de fazer ajuste de capital. Está no radar do IRB a venda de resseguro das carteiras para reduzir a necessidade de aporte das companhias?
Já tivemos um caso de sucesso de risco financeiro estruturado no final de 2014, entretanto, não estamos dando foco nisso. Mas o IRB pode fazer, tem capital para fazer, tem conhecimento técnico e know-how desse tipo de produto e está totalmente aberto para analisar, se houver oportunidade.
A abertura gradual do mercado agora, de alguma maneira você vê isso de forma saudável para o IRB?
Essa mudança de legislação brasileira não é uma preocupação porque o IRB já tem uma posição conquistada de mercado, um market share que não é beneficiado pela legislação. As parcerias com os nossos clientes são muito sólidas, não me preocupo com a redução dos 40% obrigatórios. E com relação ao aumento do intragrupo de 20% para 75%, acontecerá gradualmente. O IRB hoje tem um índice de retenção acima de 70%, o que mostra que não somos uma empresa de fronting. Enfim, o IRB está preparado. Está posicionado com a estratégia consistente e de longo prazo, protegendo o seu prêmio retido e o seu Market Share.
O que significa o IRB ter mantido o rating A-?
Esta é mais uma vitória para o IRB. Manter o rating excelente, com viés estável, neste momento, é uma valiosa conquista. Além de nos encher de orgulho, demonstra que nossa nova estratégia está dando certo. Agora, vamos continuar nosso trabalho, nos prevalecendo dessa nova avaliação positiva para a empresa.
O quanto do lucro do IRB foi impulsionado pela variação cambial?
Na verdade, muito pouco, porque a variação cambial representou mais ou menos 6% do faturamento. Quando replicamos isso para o resultado, o número é ainda menor; por isso, acho que é irrisório diante do todo.
Denise, poderia comentar qual seria o impacto da variação cambial pra irb? Pelo que entendo isso afetaria os contratos de retrocessão no exterior somente.