Fonte: O Globo – Gabriela Valente
Com dificuldades para fechar as contas do ano, a equipe econômica aposta em receitas extraordinárias para reforçar o caixa do Tesouro. Com esse objetivo, foi marcada para outubro a abertura de capital do Instituto de Resseguros do Brasil (IRB). A expectativa é que a empresa capte R$ 4 bilhões com a operação. O impacto no caixa do governo será imediato por causa do pagamento de tributos sobre a operação. Só o Imposto de Renda e a Contribuição Social Sobre o Lucro Líquido (CSLL) devem render ao governo federal a quantia de R$ 1,8 bilhão. Segundo fontes, o IRB fará uma oferta pública de ações (IPO, na sigla em inglês) na primeira semana de outubro, quando serão ofertados 40% do capital no mercado secundário, ou seja, os recursos não passarão pelo caixa do instituto, irão direto para os acionistas.
META MAS DISTANTE
Em maio, as 1 Contas do setor público que inclui o governo central, estados, municípios e empresas estatais – registraram um déficit de R$ 6,9 bilhões, o pior desempenho para o mês desde 2013. O resultado negativo só não foi maior, porque estados e municípios conseguiram economizar R$ 2 bilhões, enquanto o governo central (governo federal, Banco Central e Previdência) fechou o mês com déficit de RS 8,9 bilhões, e as estatais, com déficit de R$ 72 milhões. Com os números de maio, nos cinco primeiros meses do ano, a economia do setor público para o pagamento dos juros da dívida pública, o chamado superávit primário, somou R$ 25,5 bilhões. A maior parte, R$ 19,2 bilhões, veio de estados e municípios.
O superávit acumulado nos cinco primeiros meses de 2015 equivale a 38,4% da meta fixada para o ano, de 66,3 bilhões, ou 1,13% do Produto Interno Bruto (PIB, conjunto de bens e serviços produzidos no país), o que toma cada vez mais distante o cumprimento da meta. Em 12 meses, o resultado está negativo, com déficit primário de R$ 38,5 bilhões, equivalente a 0,68% do PIB, segundo relatório divulgado ontem pelo Banco Central. Internamente, o governo já admite que não há como cumprir a meta prometida. Segundo técnicos, o esforço fiscal não chegará a 0,9% do PIB.
– É praticamente impossível cumprir a meta de 1,13% do PIB, mas isso já está precificado pelo mercado: o governo vai cumprir algo perto de 0,6% do PIB porque, além de tudo, o superávit primário também foi afetado pelas pedaladas, já que essa equipe econômica está acertando as contas – frisou o economista-chefe da INXV Global, Eduardo Velho.
Ele explica que os juros mais altos para controlar a inflação aumentam o montante que o país tem a pagar. Isso anula o esforço fiscal e deve elevar a dívida daqui para frente, comprometendo o grau de investimento do país, a nota que as agências de risco dão a um país que é considerado seguro para investir.
Em maio, os gastos com juros nominais chegaram a R$ 52,9 bilhões, cifra diretamente afetada pelo gasto de R$ 22 bilhões com as operações de swap cambial equivalente à venda futura de dólares diante da desvalorização do real no período. Em 2015, a despesa totaliza R$ 41 bilhões, Isso pesa nas contas públicas. Em todo o ano de 2014, foi de R$ 17,3 bilhões.
Nos cinco primeiros meses do ano, o setor público gastou nada menos que R$ 198,9 bilhões no pagamento de juros, o que significa um recorde e representa 8,4% do PIB. Como poupou só R$ 25,5 bilhões no período, faltaram R$ 173,4 bilhões para fechar a conta. Assim, o déficit nominal, que inclui os gastos com juros, chegou a 7,32% do PIB no período. Nos últimos 12 meses, o gasto com juros foi de R$ 408,8 bilhões ou 7,22% do PIB. É o pior resultado desde os 7,34% de abril de 2006.
Apesar do desempenho negativo, o chefe adjunto do departamento econômico do BC, Fernando Rocha, disse que houve melhora em relação aos 12 meses encerrados em abril, o que deve continuar:
– É a tendência que se espera nos próximos meses até o fim do ano.
Em maio, a dívida bruta chegou a 62,5% do PEB, contra 61,6% do mês anterior. Já a dívida líquida recuou 33,7% do PIB em abril para 33,6% do PIB em maio.
Segundo as estimativas do Banco Central, a relação dívida/PIB deve encerrar o ano em 34,9% do PIB e a dívida bruta, em 62,7% do PIB. Essas projeções, entretanto, consideram o cumprimento da meta de superávit primário para pagar juros da dívida, o que não deve aconteceu